sexta-feira, 5 de março de 2010

Traumas, rumos e novidades...

Como já disse inúmeras vezes neste espaço, para mim, se existe uma obra-prima americana incontestável na última década, esta se chama “Sobre meninos e lobos”, filmaço de Clint Eastwood, de 2004. Sou admirador confesso da produção, que expõe com precisão os extremos de sentimentos tão primitivos sob a pressão do instinto e da razão. O filme é uma adaptação de um Best seller da literatura americana “Mystic River”, escrito por Dennis Lehane (que inclusive está na minha lista de espera para ler). Lehane me parece um autor muito interessado em relatar o lado sombrio da personalidade de seus personagens (e isso não quer dizer que há uma preocupação em subdividir arquétipos de bons ou ruins). O novo filme de Martin Scorcese “A ilha do medo”, que estréia por esses dias, também é baseado em um livro dele. Assim como “Medo da verdade”, que assisti recentemente em DVD. O filme é a estréia do ator Ben Affleck como diretor, o que acaba se revelando muito melhor do que como ator.
Dois detetives particulares são designados para investigar o misterioso desaparecimento da pequena Amanda McCready (Madeline O'Brien). Quando começam as buscas eles descobrem que nada no caso é o que parece ser. Em última instância, os dois terão de arriscar a sua própria amizade e tudo o que têm de mais valioso - as suas relações afetivas, suas saúdes mentais e até mesmo as suas próprias vidas - para encontrar a verdade sobre a menina desaparecida. Como toda história de Lehane, o roteiro se vale da busca pelo obscuro para revelar o papel de cada personagem diante de situações extremas. Protagonizado pelo irmão do diretor Casey Affleck (que se destacou em “O assassinato de Jesse James pelo covarde John Ford”), e com um elenco de luxo, contando com Morgan Freeman, Ed Harris (muito bom) e Amy Ryan (indicada ao Oscar), “Medo da verdade” se impõe pela direção equilibrada de Affleck, mas tropeça justamente na engenhosidade pedestre do roteiro, escrito pelo próprio autor, com o diretor e com Aaron Stockard. Parece que o filme fica guardando história e se mostra fragilizado pelo excesso de tramas e personagens desnecessários. Ao verter para o cinema, Lehane acabou por perder o controle de sua história literária (o que não acontece em “Sobre meninos e lobos”) e o filme perde o ritmo, só recobrando a coerência em seu final, que mostra bem a maestria discursiva do autor.
Apesar do relativo sucesso nos EUA, o filme não estreou em nossos cinemas, sendo lançado diretamente em DVD. Uma pena, pois além de trazer um novo horizonte para carreira de Ben Affleck, o filme reafirma a força dos livros de Lehane na seara Hollywoodiana.

Dica de Música: "A vida é doce" (Lobão)

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