terça-feira, 16 de março de 2010

Passatempo

Creio ter feito parte da última geração de crianças consumidoras vorazes dos filmes de animação tradicional (em 2D) da Disney. Lembro do estrondoso sucesso e do meu encanto com a verdadeira tragédia Shakespeareana chamada “O Rei Leão”, assim como o resgate fabular em “Aladdin” ou a revisão de valores em “A bela e a fera”. Os desenhos, mais rudimentares em sua concepção, eram eficientes na arte de encantar, ainda no período pré-Toy Story, onde os efeitos tridimensionais não contavam como subsídio para a magia vista na tela. Talvez seja por tudo isso que tenha gostado tanto da nova incursão da Disney por essa, digamos, técnica em “A princesa e o sapo”. O filme é uma delícia sendo baseado numa história original escrita pelos cineastas John Musker e Ron Clements (“A pequena sereia”, “Aladdin” e “Hércules”), que também assinam a direção do filme. Alardeado como o primeiro filme da Disney com uma protagonista negra, o filme é um conto de fadas tradicional, mas com a graça de ser baseado em New Orleans , imerso na cultura do berço do jazz e do blues, consequentemente, com uma trilha sonora característica.
Ainda que a trama não apresente novidades, nem tenha a genialidade de roteiro da Pixar, eu diria que o desenho serve como um analgésico prosaico no gênero. Neste caso, sua verve simplória é bem vinda e o sorrisinho no canto da boca, após o final da sessão é a prova que o resultado é relativamente bem sucedido.

Por outro lado, resolvi encarar uma sessão do remake tupiniquim do “High School Musical”, já que havia ganhado um ingresso. A franquia original (dois telefilmes e um filme) é sim, mais uma cartilha da Disney para aumentar seus royaltys, obedecendo ao modelo republicano de juventude. Mas para quem gosta de musicais reconhece que existe ali uma qualidade artística, às vezes, mais presentes do que em muitos musicais adultos. Tira-se o roteiro (mastigável) e o filme fica muito bom, com seus números perfeitamente coreografados e direção musical acima da nota. Na adaptação brasileira, dirigida pelo estreante César Rodrigues, nada se salva: o elenco (salvo raríssimas exceções) não canta, não dança e – pior – nem interpreta. Surpreendentemente esse elenco foi escolhido numa audição (!!!) feita pela TV... A direção até tenta seguir a cartilha americana, com uma direção de arte bem representada, mas sabe quando as coisas não funcionam? Fora que é meio incômodo assistir a uma representação tão distante da nossa cultura, inclusive educacional. E essas adaptações da Disney pecam sempre nessa questão (lembram do desastroso “Donas-de-casas desesperadas” remake capenga da série “Desperate Housewives” na RedeTv ?). E, cá entre nós, a presença de Wanessa Cam... ops, agora só Wanessa, não acrescenta muito ao todo.
Bem, se o filme tem um destaque ele chama-se Felipe Quadanucci, que interpreta um aluno mais sensível e interado sobre música. Seu desempenho e carisma apontam para um promissor caminho na carreira. E só. Eu diria que os 7 milhões gastos nesse filme poderia ter sido investido em coisa melhor.


Dica de Música: “Um girassol da cor do seu cabelo” (versão: Cláudia Ohana)


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