quinta-feira, 30 de julho de 2009

Santa inglória...



E após tanta espera, o novíssimo filme de Quentin Tarantino foi exibido para os críticos americanos. "Bastardos Inglorios" não foi assim tão bem recebido. O filme vem sendo taxado de esquisito (ué, não é um filme de Tarantino?) e problemático. Bem, o trailer - genial - só faz aumentar nossa ansiedade (já que a produção, com Brad Pitt, só chega por aqui no final de outubro)e a controvérsia também.

Dica de Música: "Yesterday" (Beatles)

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Onde os fracos não têm vez


O cinema de autor tem lá suas idiossincrasias, mas possui grande força artística quando sua equação cinematográfica é justificada numa soma de talento e experiência. Assisti recentemente a dois filmaços de diretores que imprimem sua autoria nos projetos que conduzem: Ang Lee e Sidney Lumet.
Em seu filme mais polêmico, “Desejo e perigo”, Lee reafirma sua enorme capacidade de conduzir uma trama, com a placidez característica de seu DNA oriental. A história gira em torno de uma jovem que é infiltrada na casa de um chinês, colaborador dos japoneses, em plena ocupação na 2º guerra, como parte de um plano para matá-lo por traição a pátria. A tensão aqui é harmonizada com a contenção emotiva que o cineasta sempre procura em seus filmes (de “Banquete de casamento” a “Brokeback Mountain”). As comentadas cenas de sexo têm função simbólica frente à rigidez daquele universo. É um dos melhores filmes do diretor, principalmente por jogar luz à complexidade que se impõe entre uma relação de poder e submissão. Outro filme que merece a alcunha da autoria criativa é o maravilhoso “Antes que o diabo saiba que você está morto” de Lumet. O argumento por si só já é bem convidativo: um executivo viciado em drogas convence o irmão a roubar a joalheria dos pais. Porém, durante o assalto, eles acidentalmente matam a própria mãe. Lumet, diretor de grandes filmes do passado como “Serpico”, use seu filme para expressar sua visão desencantada do ser humano e como isso se ramifica dentro de um contexto familiar. É pelos esquecidos e fracassados que se compreende o ser humano. A tensão no filme é física e emocional, personificada a cada cena com um time de atores irretocáveis: ora pela dualidade intempestiva dos irmãos, vividos por Philip Seymour Hoffman (que ator extraordinário!) e Ethan Hawke, ora pela figura central do pai, onde Albert Finney entrega uma das cenas mais fortes do cinema, na conclusão final. Destaco ainda a sempre competente Marisa Tomei, dando nova dimensão ao vértice de um triângulo amoroso. A trama radiografa um abismo anunciado, onde as razões não são facilmente justificáveis. Sidney Lumet comprova que cinema é feito com verdade e precisão... e um pouco de desencanto, para revelar aquilo que nem o diabo sabe sobre nós mesmos.

Dica de Música: "Insensatez" (Diane Krall)

Biscoito fino!

Shakespeare tinha uma frase ótima: “Fortes razões fazem fortes ações” e nesta lógica reside a razão de um belo programa como “Som e fúria” na televisão aberta. Baseado num programa canadense, a versão nacional foi escrita e dirigida pelo sempre ótimo Fernando Meirelles (que nos deu preciosidades como “Cidade de Deus” e “Ensaio sobre a cegueira”). É um típico “biscoito fino” para um veículo tão carente desse nível de entretenimento. Os bastidores de uma companhia teatral estatal, especializada em montar obras do famoso dramaturgo inglês sustentam toda a ironia (com seu próprio meio) e graça (quase “vaudeville”) da ação proposta. Muito bom o efeito conseguido com as analogias da obra de Shakespeare com o dia-a-dia do elenco retratado. E o mais bacana é que a série consegue ser erudita e popular, sem lançar mão de afetações de linguagem para ser respeitada. Claro que o êxito só completo pela acertada escalação do elenco: desde a redescoberta de Felipe Camargo (surpreendente), até a própria descoberta de talentos escondidos no meio, como no caso da maravilhosa Cecília Homem de Mello. Fora as certezas como Pedro Paulo Rangel, que ilumina cada cena que participa, Daniel de Oliveira, num dos personagens mais difíceis da série e Andréa Beltrão, que domina cada segundo em cena. Ela dignifica qualquer projeto que se meta. Um grande elenco para um grande projeto. Apesar de não ter feito muito sucesso de audiência (o que é uma pena!), é um modela a ser seguido, pois mais que modo de receita, “Som e fúria” é um instrumento de formação de platéias. Fortes razões fazem fortes ações!

Dica de Música: "Hollywood" (Madonna)

Gripe Allen


Essa onda de gripe (ainda que não a suína) acabou por me pegar e apesar do desconforto da situação, fiquei quase uma semana imerso em filmes e séries, vistos sob o edredom, em meu quarto. Pensando bem, nada mal, né?
Bem, atualmente estou acompanhando “taradamente” três séries: “Lost”, “Mad Men” e a teen “Gossip Girl”. As três são muito boas (“Lost” é uma obra-prima perturbadoramente viciante) e breve comentarei por aqui. Hoje vamos falar dos diversos filmes que assisti nesta minha quase quarentena...
Fiz um cardápio bem variado começando com o clássico francês “Hiroshima, meu amor” de Alain Resnais. Primeiro filme dele, impõe-se como um exercício estilístico sobre o tempo, onde a teatralidade das cenas imprimem o tom literário de seu discurso. Confesso que, apesar de seu prelúdio de uma riqueza impressionante para um, então iniciante, não fui tão sensível a história. Nem digo que esse ruído esteja atrelado à sua linguagem, mas sim ao fato de que um estilo por vezes sufoca uma possível absorção.
Vi também “A lista – Você está livre hoje?”, filme estrelado, mas inversamente proporcional no tocante à qualidade. Dirigido pelo diretor estreante, o publicitário suíço Marcel Langenegger, o longa ambiciona um clima de suspense “modernoso”, mas é plástica pura, já que seu roteiro (assinado pelo veterano, Mark Bomback, o mesmo de "Duro De Matar 4.0") é um misto de absurdo com clichês, resultando num filme inacreditável. Nunca um bom elenco (Ewan McGregor, Hugh Jackman – bem como vilão – e a gracinha Michelle Williams) salva o filme.
E assisti a três Woody Allen de fins da década de 70 e da de 80: os ótimos “Manhattan”, “Zelig” e “Crimes e pecados”.
“Zelig” é um falso documentário criado pela mente genial de Allen que relativiza o senso comum de uma sociedade. A capacidade do autor em criar universos que mesclam paródia e verossimilhança em um mesmo contexto é impressionante. Com certeza, é um de seus melhores momentos.
“Crimes e pecados” foi tido como matriz de sua obra-prima mais recente “Match Point” (2005). Apesar do filme ser de 1989 (que saudades de minha época maternal...) só fui assisti-lo agora. De fato, o argumento dos dois filmes é o mesmo, inspirado em “Crime e castigo”, do russo Fiodor Dostoieviski. Mas a condução e a visão de mundo expressa em ambos são distintas. Em “Match Point”, Allen está mais pessimista sob o prisma de seus mais de 70 anos. No filme oitentista, também muito bom, percebe-se que o cineasta trafega pela linha tênue entre o senso de realismo e a perspectiva de uma contradição. Inclusive a estrutura semiótica do longa aponta essas possibilidades. “Crimes e pecados” é reflexão na veia.
E fiquei imensamente apaixonado por “Manhattan” (Cuja bela fotografia de uma cena antológica ilustra esse post). Que filme lindo, em todos os aspectos. Tanto como homenagem a sua tão professada New York, tanto como uma cruel visão dos sentimentos, ironizando os estigmas etários que estabelecem as relações amorosas. Agora compreendo a razão deste filme ser tão celebrado. É por filmes assim que a ciência de ter de ficar a base de dipironas e afins foi bem mais palatável.

Dica de música: "Night and Day" (Rod Stward)

sábado, 11 de julho de 2009

Íntimo e pessoal


O que é a “A festa da menina morta”? Creio que muita gente que tenha visto o primeiro filme dirigido pelo ator Matheus Nachtergaele, esteja se fazendo esta pergunta. Matheus, também criador do roteiro do longa, faz sua estréia na direção com um filme singular numa cinematografia tão estigmatizada como a nossa. Muito influenciado (ainda que superior) pelo cinema de extremos do diretor pernambucano Cláudio Assis (dos brutais “Amarelo manga” e Baixio de bestas”), Matheus procura investigar a cultura do sincretismo em uma região pouco explorada em nossa cultura, a população ribeirinha, no Amazonas. Ali somos levados a submergir nos paradoxos de dogmas criados para a sobrevivência daquele universo, sem espaços para relativização de crenças e modos de vida. É interessante notar que no núcleo de tudo aquilo que nos é incomodamente apresentado, está a percepção de que o filme faz um doloroso retrato de como a perda materna pode ser nociva a um indivíduo. O diretor assumiu que, nesse sentido, o filme é “meio autobiográfico”, já que o mesmo é órfão materno. Dizer que se trata de um filme intenso é cair no lugar comum, mas ao dimensionar esse aspecto familiar do protagonista Santinho, vivido com fervor pelo ator Daniel de Oliveira, Matheus mostra claramente que seu filme casa a força de sua dualidade artística e sensorial.
Destaque para (todo) o elenco maravilhoso (onde o diretor arrumou aquele elenco de apoio), em especial o já citado Daniel de Oliveira, firmando seu nome como um dos melhores de sua geração, Julio Cazarré e Jackson Antunes, de uma maturidade impressionante. Enfim, respondendo a pergunta com a qual iniciei este post, digo que “A festa da menina morta” é como uma dose de conhaque, após o amargo inevitável, a ressaca pode ser reveladora.

Dica de Música: "A Kaleidescope" (James Horner)

Saudade realmente não tem idade...



Creio que se hoje tenho uma boa base cultural devo muito a meu pai, falecido em 2003, que veio para o Rio, do Pará, no iniciozinho da década de 50 e com toda sua ignorância de quem veio do interior da época, era um apaixonado pela arte. Lembro bem de quando assistíamos juntos os grandes clássicos da Atlântida e aos hilários filmes de Oscarito. Além de seu amor eterno por Emilinha Borba – ele dizia que uma vez conseguiu tocá-la e ficou um bom tempo sem lavar as mãos – nutria grande simpatia pela atriz Dercy Gonçalves e isso e herdei dele. Aquele misto de esquizofrenia com humor de chanchada sempre me divertiu muito e até o fim de sua vida, recentemente, com mais de cem anos, eu procurava acompanha-la no que estivesse fazendo. Há pouco tempo assisti ao filme “Cala a boca Etelvina” de 1958, dirigido por Eurides Ramos, com Zezeh Macedo e Paulo Goulart no elenco. O filme possui a despretensão dos filmes da época e Dercy, definitivamente é engraçadissima com seus tiques caricatos. Sou apaixonado pelo filme “Noites de Cabíria” de Fellini e, conseqüentemente, pela atriz Giulietta Masina. Acho Derçy tem muito da graça e carisma da atriz italiana, só que claro, como boa atriz brasileira, não possui a dramaticidade ocular de Masina, pois sua graça se justifica em si mesma e isso que a tornou o que é. Tenho saudades daquela caricatura chamada Dercy, mas ela deixou uma herança artística bem equivalente.

Dica de Música: "Ele me deu um beijo na boca" (Caetano Veloso)

Além do ofício


Em meio a efervescente discussão sobre a obrigatoriedade do diploma de jornalista (que efetivamente me coloca no meio, por ser um estudante de jornalismo), chega aos cinemas o filmaço “Intrigas de Estado” do diretor Kevin Macdonald, do bom “O último rei da Escócia”. O filme, baseado na minissérie de Paul Abbott, exibida pela BBC inglesa em 2003, gira em torno do repórter investigativo Cal McCaffrey (vivido por Russell Crowe), que tem oito horas para apurar uma história um tanto suspeita que envolve o congressista Stephen Collins (Ben Affleck), assassinatos (sendo a amante de Collins uma das vítimas) e uma possível conspiração envolvendo a PointCorp - corporação titã que fornece serviços para as guerras no Afeganistão e no Iraque. A trama, roteirizada por Tony Gilroy (pelo visto só tem dado ele no bom cinema americano atual), Billy Ray e Matthew Michael Carnahan, vai se revelando muitíssimo bem amarrada ao desvendar os eixos desse novelo, procurando sempre evocar a convergência inevitável entre o jornalismo tradicional e o jornalismo da era da internet, onde a velocidade dos blogs (ah?!) deram um novo patamar ao universo das informações. Kevin é um diretor esperto e isso fica claro em sua latente ambientação, preponderante na verossimilhança adquirida em todo aquele universo (como a precisa redação de jornal onde o filme se configura). O mérito do roteiro, endossado na direção, é sua capacidade de alinhar de forma plausível a trama, num discurso (e com diálogos) adulto, inteligente e, ainda assim, de tirar o fôlego. O único porém é seu desfecho, quando uma solução tola quase põe tudo a perder, mas aí já se passaram mais de duas horas de (ótimo) filme e a falha é perdoada. Rachel McAdams revela-se cada vez mais segura, fazendo boa dobradinha com Crowe, assim como Ben Affleck (correto), Helen Mirren (com sua costumeira precisão britânica) e Robin Wright Penn (que atriz sensacional) que, com seus papéis elevam o nível da produção (isso pois não citei as pequenas grandes participações de Jeff Daniels e Viola Davis). Além de realmente muito bom, o filme impõe-se pela pertinência de um ofício que se está sendo muito discutido, com a possível conclusão de que veículos não definem a qualidade da informação, mas sim aquilo que está entre a cadeira e o computador.

Dica de Música: "Wonderwall" (Oasis)

sábado, 4 de julho de 2009

A certeza das incertezas


Nossas certezas são mais perigosas que nossas dúvidas? Essa pergunta não pede necessariamente respostas, mas cabe nela um raciocínio sobre a ótica complementar de seus dois pesos: certeza versus dúvida, e é esse paradoxal embate que sustenta o filmaço “Dúvida”, filme escrito e dirigido por Patrick Shanley, baseado em sua própria peça teatral homônima.

 Ambientado numa escola da década de 60, administrada pela igreja, o filme narra a discussão à respeito de um possível caso de pedofilia cometido pelo padre principal do lugar com um dos alunos. A desconfiança começa por uma freira inexperiente e ganha dimensão com a adesão irrestrita da madre superiora Aloysius, vivida pela excelente Meryl Streep. O roteiro é simplesmente genial, pois deixa a ambigüidade do fato falar por si durante toda a projeção. O padre, interpretado por Philip Seymour Hoffman com maestria, polariza com a personagem de Meryl as “certezas” do espectador, num jogo de complexidades que há muito o cinema não nos oferecia (saudades de Hitchcock). Como seu título bem resume, o longa evoca as desinências dessa desconfiança e o roteiro joga isso semióticamente a todo o momento: seja na direção de arte condescendente, como o vitral de olhos atrás do padre numa cena, seja na antologia cena entre madre Aloysius e sra. Miller, mãe do menino que teria sido molestado, quando vemos a desconstrução do paradigma sobre valores e necessidades (aliás, cabe ressaltar a arrepiante interpretação de Viola Davis que, mesmo com apenas duas cenas, chegou a ser indicada ao Oscar pelo papel).

 Meryl Streep é quase um monumento da arte cênica. Suas performances a cada filme, firmam seu nome na história do cinema (“As pontes de Madison” é um belo exemplo). A precisão de seus gestos, o seu trabalho de brutal incorporação, enfim, sua persona é arrepiante, tanto para os personagens do filme, quanto para nós, espectadores. Já Philip Seymour consegue o mérito de jogar de igual para igual com ela, uma vez que os diálogos ora ressentidos, ora explícitos entre os dois, são tão bons que devem entrar no panteão das mais antológicas. Até Amy Adams, numa personagem que poderia desaparecer naquele meio, defende sua alcunha com dignidade.

 “Doubt” (título original em inglês) é daqueles tipos de filmes que dão satisfação de sermos cinéfilos. Sua inteligência e consistência emitem essa sensação, principalmente por dimensionar tão ricamente um sentimento tão comum. A ambigüidade é um terreno fértil tanto para realidade quanto para ficção.


Dica de Música: "Via láctea" (Legião Urbana)

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Como ele...



Ainda na linha de homenagens ao grande Michael Jackson, nada como assistir a essa pérola da nossa geração multimídia. Sensacional!!!
Não precisa nem de "Dica de Música" rs