terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Ares e Sensações


Essa fase turística de Woody Allen tem sido bem pertinente à sua prolífera carreira. Depois de inspirar-se nos cinzentos ares londrinos nos bons "Scoop" e "Cassandra's dreans" e na obra -prima "Match Point", Allen mira sua sarcástica câmera para a calorosa Barcelona de seu contemporâneo Almodóvar num de seus filmes mais vigorosos:"Vick Cristina Barcelona". Conhecido amante inveterado de livros de filosofia e um cronista de mão cheia, o diretor tece, nesta produção, um retrato visceral e contraditório das relações contemporâneas. Não vou ficar aqui defendendo teses alheias mas a visão do autor sobre a discrepância entre as fragilidades humanas e essa personificação como forma e conceito no mundo moderno é de uma verossimilhança assustadora. As personagens do filme gravitam nos extremos de seus princípios pavimentando assim o discurso um tanto reconhecível do que se passa na tela. Javier Barden e (a cada vez mais estonteante) Penélope Cruz conseguem a improvável façanha de brincar em cima dos clichês de suas personagens com maestria. Aliás, Penélope, que mostrou uma surpreendente performance em "Volver" parace mostrar que é em sua terra natal que ela tem mais a oferecer. Esse filme também é mais uma amostra do poder criativo de Woody, que andou desacreditado por seus últimos filmes, que obtiveram menos repercussão junto a público e crítica. Mas foi só fazer as malas e partir para a Europa para provar o poder de fogo de seu cérebro. Alguns críticos alardeiam que o cineasta virou um espécie de diretor turístico e que sua obra tenha se mercantilizado (inclusive há uma negociação com o governo brasileiro para fazer um filme com o Rio de Janeiro como cenário, o que impulsionaria o turismo internacional). A idéia pode até soar mercadológica demais para um cineasta tão autoral como Allen mas talento para exercer isso não lhe falta e com "Vick..." essa análise soa um tanto impertinente.




Cabe aqui um porém ao filme: Ter suprimido a imagem de Rebeca Hall do pôster do filme foi um erro. Sua personagem é a alma (ou seria o equilíbrio!?) e a atriz é um contraponto cênico interessantíssimo diante da beleza e presença de Scarlett Johansson.




Dica de música: óbvio... "Barcelona"(Giulia Tellarini)