sábado, 26 de junho de 2010

Enfim, LOST!!!

Já passava da meia noite de uma quarta-feira, eu estava vendo algum jornalístico na TV quando o meu celular tocou. Era uma amiga íntima que, aos prantos, falava com dificuldades. Como essa amiga é uma das pessoas mais engraçadas que já conheci, fiquei em dúvida se o pranto era real ou uma brincadeira (ela é muito jocosa!). Nas poucas sílabas que fui conseguindo entender, ela dizia: "Acabei de assistir ao último episódio de "Lost". Estou desolada!". Não pude conter a minha gargalhada ainda acreditando ser uma de suas tiradas. Mas ela retrucou: "Não estou brincando, Renan. São seis anos em que acompanho fielmente todos àqueles enigmas. Não adianta, pois me apeguei aos personagens, suas tramas... Agora, parece que estou perdendo esses vínculos!". Desliguei o telefone chocado, ora com minha insensibilidade, ora com o real poder que a série "Lost" conseguiu estabelecer no imaginário mundial e na cultura Pop, como um todo.
Acompanhei a série com muito interesse em sua estréia. Roteiro de mistério, inteligentemente engendrado seriadamente, sempre me atraiu (Agatha Christie foi o meu Monteiro Lobato). A partir do meio da segunda temporada, mesmo tendo sido um ano eletrizante, comecei a perceber que "Lost" não era uma série para 22, 23 episódios anuais. Na terceira e quarta temporada meu interesse se esvaziou, quando os caminhos que a série estava percorrendo, por mais criativos que fossem, tornavam o prazer de assistir quase um suplício (e minha tese ampliaria a noção de que "Lost" agora não deveria ter mais de 4 temporadas para não se esgotar, como quase aconteceu). Abandonei. Essa amiga insistia para eu voltar a ver e cedi. Com um amigo Lostmaníaco, consegui todos os boxes e me situei até a quinta temporada. Nesta quase imersão - obviamente com muita irregularidade nas tramas - percebi que "Lost" é mais que uma atração de TV americana. É uma experiência midiática. A insanidade dos roteiros foi propositalmente criada para que o expectador de hoje (que não é o mesmo de 10 anos atrás, ou seja, não quer sentar e ver. Ele quer assistir, sentir, dialogar e interagir) se sentisse desafiado a compreender não só um mistério, mas a humanidade resultante deste mistério. A Ilha deixava de ser então o personagem principal para ser a motivação metalingüística de uma história. Vejamos como exemplo o fim da terceira temporada: todos sabem que o que os personagens mais queriam era sair da tal ilha. Na terceira temporada alguns deles conseguem e temos nossa catarse no sofá. No finalzinho do episódio final, aparece um flashwoard (antítese do flashback) com dois desses personagens que saíram da ilha se encontrando, totalmente descaracterizados. Até que o protagonista vira-se para a mocinha (!) e diz em tom desesperador: "Precisamos voltar a Ilha!". Ela, claro hesita, mas ele continua: "Temos que voltar, Kate. Temos que voltar para ilha!" E acaba o episódio. Isso é cruel, é perturbador, subvertendo qualquer noção de lógica. Isso foi "Lost". Uma das poucas atrações de TV que me fizeram retorcer do lado de cá da TV.
A sexta e última temporada foi esperada com entusiasmo pelo planeta. Mas já imaginava que ficaria aquém das expectativas. "Lost" cresceu muito mais do que seus criadores imaginavam. E a última temporada começou mesmo de forma inacreditavelmente medíocre, com tramas desinteressantes, repetitivas e irrelevantes. A minha teoria da falta de concisão estava clara: a série teve mais episódios que o necessário. Da metade para o final é que os episódios pretendendo desvendar o todo, realmente foram encontrando algum sentido. Mas o final - didático e sentimentalista, totalmente anti-Lost - foi realmente frustrante. Mas, ainda que olhando com o distanciamento de um fã crítico, não posso dizer que não foi válido. As pontas soltas ficarão em nossa mente para reafirmar a perenidade da série. E a atração se tornou tão mitológica que nenhum final seria digno de seu alcance. Neste caso, até os criadores são perdoados. Como disse num post sobre o início desta última temporada, há alguns meses, "Lost" nos ensinou que um pouco de insanidade criativa legitima uma posteridade. Quando teremos outra atração assim? Não se trata de uma responsabilidade, mas de um desejo. "Lost" nos deixou mal acostumado. E, de tudo o que li e ouvi (muito) de ruim ou de bom, o que achei mais interessante foi o comentário da correspondente internacional cinematográfica Ana Maria Bahiana que como saldo final atestou sábiamente: "Escrever para TV fechada é fácil. (Mentira: é difícil, tão difícil quanto produzir qualquer boa obra audiovisual. ) Difícil mesmo é escrever para TV aberta , com o nível de sofisticação e profundidade que Lost atingiu, consistentemente, nestes seis anos. Escrever para TV aberta durante seis temporadas é ser Scheherazade eternamente adiando a decapitação por ordem do soberano mal humorado e todo poderoso, insatisfeito com os índices de audiência, os indicadores demográficos e o retorno dos anunciantes. Ser capaz de tirar uma história de dentro de outra história de dentro de outra história, fiel ao princípio da narrativa que deu partida a tudo mas capaz de manter o sultão feliz é feito para poucos". Bahiana sintetizou perfeitamente o alcance e a iminência da série, em termos práticos, artísticos e icônicos. Mais do que uma possível insensibilidade com uma amiga de ombros ou mais do que um final aborrecente, está a relevância que "Lost" vai deixar para a história da TV mundial.
Não tenho lágrimas, mas tenho essas certezas.
Obs: fiquem com o belo trailer-promo que a ABC fez para divulgar o fatídico último episódio


Dica de Música: "Bedshaped" (Keane)


Fantasmas pessoais

Será que dramas e angústias pessoais são requisitos para a genialidade de um artista? Isso ajudaria a explicar a importância artística de Van Gogh ou do escritor Caio Fernando Abreu? Enfim, seja como for, deve ter alguma relação metafórica entre o histórico trágico do cineasta Roman Polanski e seu legado cinematográfico. Na infância, sua família mudou-se da França para a Polônia pouco antes de estourar a Segunda Guerra e a Alemanha massacrar o país. Seus pais (judeus não praticantes) foram mandados para o campo de concentração e sua mãe foi morta na câmara de gás. Já adulto, em 1969, teve a então esposa, a atriz Sharon Tate, assassinada brutalmente (ela estava grávida!) por um grupo sinistro de uma seita que invadiu sua mansão em Beverly Hills. Além dela, foram assassinados mais quatro amigos, que estavam na casa. Em 77 veio à tona o famoso caso de estupro de uma menina de 13 anos, ocorrido na casa de Jack Nicholson. O diretor declarou-se culpado, a menina (hoje, uma senhora casada) retirou a queixa e o caso se estende até hoje, onde cumpre prisão domiciliar na Suíça. Numa vida rica em revezes (e tropeços) acaba que a obra funciona como reflexo de uma condição. Não há como fugir. Se fizermos um retrospecto em sua filmografia, é nítida a constância de personagens angustiados e trafegando na linha tênue entre a vida e a morte. Aliás, a morte para Polanski é como o medo para Hitchcock: mais do que motivações narrativas, são justificativas humanas.
A justificativa de seu novo filme "O escritor fantasma" só é inteiramente assimilada nos últimos 20 minutos do filme, quando confirmamos que o cineasta, mesmo literalmente preso aos seus problemas pessoais, continua com a mesma precisão de filmes tão perturbadores como "O bebê de Rosemary".
O filme conta a história de um escritor que é contratado para terminar a autobiografia de um ex - primeiro ministro britânico. Durante o processo, ele acaba descobrindo segredos que põe em risco o seu trabalho e sua vida. O roteiro faz clara alusão à figura do ex - primeiro ministro Tony Blair, fazendo uma denotação política de sua postura ventríloqua na guerra do Iraque. Aliás, vale comentar que o ex-agente 007 Pierce Brosnan tem uma de suas melhores atuações neste papel. O escritor sem nome, vivido por um soturno Ewan Mc Gregor, parte de sua invisibilidade para compreender aquele universo e isso é usado como ferramenta de Polanski para situar também uma espécie de afetação geopolítica do resto da União Européia frente ao quase absolutismo britânico no bloco. Isso claro, em referências bem sutis.
O diretor ambienta a trama com uma frieza estética e formal que ajuda na climatização de seu protagonista, em cenas belíssimas numa praia nublada ou numa Inglaterra caracteristicamente fria e chuvosa. A trilha incidental também acompanha essa obtusidade. São esses detalhes que dão propriedade a Polanski para justamente fazer um filme de gênero sem se aprisionar a ele. E até o roteiro (também do diretor, com auxílio do autor do livro a qual o filme é baseado, Robert Harris) trafega por esses extremos de identidade. As atrizes Ollivia Williams e Kim Cattrall apresentam-se com personagens importantes à história, em performances dignas. E, aos 76 anos, o cineasta acerta mais uma vez (depois do ambicioso "Oliver Twist") em um filme de grande pertinência e força realística. Nesse contexto, "O escritor fantasma" além de ser um filme excelente, tem uma das melhores conclusões já feitas. Por ser trágica e sem concessões. Seria esse o ideário que a vida formatou ao talento, a psique e a visão de Polanski? Talvez. Neste caso, o cinema transforma-se numa sessão de psicanálise.

Dica de Música: "Lanterna dos afogados" (Maria Gadu)

Doces Bárbaros

Já que vivemos num mundo dominado pelo cinismo, nada mais eficiente para um espetáculo (seja ele qual for) do que dialogar com o público pelas vias do politicamente incorreto. É essa a força vigorosa do musical ''Avenida Q", mais uma elogiada adaptação da dupla Charles Möeller e Cláudio Botelho, em cartaz no Teatro Carlos Gomes, aqui no Rio. Apesar da natureza essencialmente norte-americana, "Avenida Q" se universaliza pela corajosa e irreverente crítica que faz a seu próprio umbigo: o modo e o sonho de vida americanos (o que, pelo menos até os últimos anos Bush, não era assim tão comum). Com isso, a trama (e suas camadas) é plenamente assimilada, afinal, rir de si mesmo é quase um patrimônio imaterial dos brasileiros. O próprio uso de bonecos para dimensionar singularmente as falas, dá um toque ainda mais irônico ao discurso iconoclasta, originalmente escrita por Robert Lopez, Jeff Marx e Jeff Whitty. As músicas (muito boas, por sinal) são implacáveis, não perdoando nenhuma das chamadas minorias, destilando (uma deliciosa) incorreção sobre negros, gays, imigrantes e afins, para justamente evocar o sentido de que a sociedade na realidade é, no todo, tão marginalizada quanto àqueles que ela própria marginaliza. Fora que ainda sobram farpas para o desencanto geracional de um tempo em que os rumos futuros tornam-se obscuros diante de um modo de vida tão estabelecido como o capitalista pós-moderno.
A encenação mantém o padrão internacional, com um cenário detalhadamente apropriado, figurinos funcionais e atores excepcionais na complexa engrenagem de atuar e dar vida a bonecos ao mesmo tempo. Aliás, o ótimo elenco só comprova que o Brasil tem sim sua expertise para musicais ambiciosos. Möeller e Botelho tem se atentado cada vez mais isso. "Avenida Q" é um espetáculo solar e muito bem pensado (talvez o roteiro fique redundante em alguns momentos, camuflados pela imposição da dinâmica do humor). Você ri, mas ri de nervoso. Se não por identificação, ao menos por assimilação, o que afinal, quer dizer a mesma coisa.

Dica de Música: "Odara" (Caetano Veloso)

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Os Titãs de hoje

Refilmagem de clássico de 1981, “Fúria de Titãs” é um retrato da indústria do cinema atual. Tanto em forma – com cenas de ação incessantes, efeitos bacanas e adaptação de velhos paradigmas de sucesso – quanto em discurso, uma vez que, se no filme original, a história que gira em torno de Perseus, um semideus, que luta contra o deus Hades, é motivada pelo amor de uma mulher, nesta adaptação, a luta do mesmo Perseus (vivido pelo “Avatar” Sam Worthingson) é desencadeada pela vingança. Nada mais século 21 do que ter a vingança como esteio dramático para uma trama de aventura. O cinismo contemporâneo jamais comportaria uma idéia de vingança por amor como no original, né? Enfim, para completar, com o sucesso absurdo de “Avatar”, o estúdio trabalhou as pressas numa conversão do filme para 3D, o que acabou deixando alguns efeitos visuais bem esquisitos. Só que diferentemente de seu concorrente quase direto no valioso período do verão americano “Príncipe da Pérsia”, a superprodução, dirigida pelo diretor Louis Leterrier (“O incrível Hulk”), aposta numa dinâmica bem descompromissada, por outro lado o filme passa batido pela falta de aprofundamento de seus personagens e comprometimento com a mitologia original. O sucesso que fez nas bilheterias americanas aponta para uma franquia. E a nós, reles espectadores com um pouquinho de consciência crítica restam-nos apenas torcer para que essas continuações venham acompanhadas de uma boa dose de ousadia.
Dica de Música: "Alejandro" (Lady Gaga)

O retorno de Jedi

“O fim da escuridão” marca o retorno de Mel Gibson, após quase dez anos (seu último trabalho como ator foi em “Sinais”), tempo este em que ficou mais direcionado para a direção, em dois filmes polêmicos, o subestimado (mas perturbadoramente eficiente) “A paixão de Cristo” e o tecnicamente vigoroso “Apocalipto”. O filme, dirigido por Martin Campbell (que fez bonito em “Cassino Royale”) é inspirado numa minissérie de TV britânica, de 1985, onde o detetive Craven (Gibson), viúvo e solitário, busca esclarecer o porquê do assassinato de sua única filha, morta em sua frente, na porta de casa (a cena do fato é de um impacto gráfico impressionante). Craven conjuga a dor da perda em obsessão e acaba por desvendar um esquema muito mais complexo por trás dessa barbárie pessoal. Se o filme mantém-se fiel às suas premissas do gênero thriller, até pela expertise de Campbell na condução de cenas impactantes como contraponto à tensão quase silenciosa de uma narrativa dessas, ele acaba por perder todo o seu potencial dramatúrgico uma conclusão surreal e inteiramente dissonante. O roteiro de Willian Monahan (que fez um excelente trabalho no ótimo “Os infiltrados” de Scorcese) e Andrew Bowell acaba por não justificar um final tão anticlimático. Já Mel Gibson imprime toda a fúria necessária para que entendamos sua total imersão numa investigação cada vez mais obscura e pessoal. Na pulsação de sua ira “auto-justiceira”, o ator acaba por evocar a “bravura indômita” de um Clint Eastwood de outrora. E, acima da inacreditável irregularidade de sua condução, o filme acaba valendo mesmo por essa energia que Gibson extrai de sua personagem.
Dica de Música: "Cuidado" (Barão Vermelho)

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Delicada relação

Existem escritores literários que impõem uma marca nas obras que deixam. Ian McEwan e Gabriel Garcia Marquez se inserem nesse contexto. No Brasil, temos vários exemplos desse paradigma, como a urgência urbana de Rubem Fonseca ou o viés humanístico de Lya Luft. Jorge Amado talvez seja o exemplo mais emblemático ao construir sua literatura regionalista em cima de uma identidade, que obviamente se refere a idiossincrasia social da Bahia. Dentro desse raciocínio é possível supor que qualquer adaptação literária implique numa complexidade formal de transferência de veículos, o que o cinema por vezes encontra dificuldades em resolver. E esse é o grande problema da adaptação do famoso livro de Amado “A morte e a morte de Quincas Berro D’água”, “Quincas Berro D’água”, feita por Sérgio Machado para o cinema. Sergio, que demonstrou ter um domínio narrativo promissor em seu ótimo filme anterior “Cidade Baixa”, ao narrar a história do ex-funcionário público que, ao morrer, é levado pelos amigos “bebuns” para uma noitada fúnebre pelas ruas da Bahia, pecou ao deixar sua trama excessivamente reverente à marca do autor, tornando o filme quase uma caricatura de sua matéria prima literária. Mesmo que com um elenco em sintonia com o “espírito da coisa” de Jorge Amado (alguns remanescentes do ótimo “Bando do teatro de Olodum, ou seja, “Opaíó”) e uma boa dose de criticidade social implícita na picardia humorística do subtexto, no geral, a produção carece de vida cinematográfica, ficando muito presa as matizes do autor. Veja que ironia: um filme baiano carente de vida. Isso só se explica pela certeza de que uma marca literária possa até ser adaptada ao audiovisual, mas a efetividade do resultado dependerá do respeito dispensado aos efeitos do cinema.
Dica de Música: "Luz de Tieta" (Caetano Velsoso e Gal Costa)

A constatação

Há alguns meses eu postei aqui no blog um texto sobre uma nova cantora que estava despontando no mainstrean da música POP: Janelle Monáe, que arrepiava em clipe um tanto personalista, trajando smoking e penteado iconoclasta, com a deliciosa e dançante música “Tightrope”. Qual foi a minha surpresa ao me deparar com o seu cd de estréia “The Archandroid”? Que o seu trabalho é realmente muito substancial, isso sem contar que ele vem sendo apontado por críticos do mundo inteiro – sim ela já está conhecida em escala global, ainda que timidamente – como um dos melhores do ano. O cd reúne um gama de ritmos – pop, funk, jazz e psicodélico – e se pretende conceitual ao “narrar” a paixão de uma andróide por um humano. Essa tal “narrativa” faz com que a seqüência de canções surpreenda, ora com uma orquestra “ao vivo”, ora com uma balada de R&B. Isso o torna, no mínimo, interessante e, de certa forma, uma experiência sensorial. Janelle tem uma voz que tanto nos remete as divas saudosistas das big bands sessentistas, quanto ao frescor das cantoras do chamado neo soul atual (que tem em Erykah Badu sua representante mor). Mais do que procurar impor uma personalidade, esse primeiro cd de Janelle (que conta com a contagiante produção do Outkast) indica que a talentosa cantora está, de fato, à procura da batida perfeita sem medo de experimentar e assumindo os riscos de uma estreia. A energia melódica de “Faster”, a sofisticação rítmica de “Locked Inside” e balada quase dramática de “Neon Valley Street” são provas latentes da adesão irrestrita desse trabalho. Belíssimo cd que vocês não podem deixar de conhecer...
Dica de Música: não tem como resistir a baba "Tightrope" dela...

sábado, 12 de junho de 2010

The secret...


Eis o trailer de um dos filmes mais esperados da temporada 2010, “Inception” ou “A origem” de Christopher Nolan, que dirigiu um dos melhores filmes de heróis de Hqs “Batman – O cavaleiro das Trevas”. Na verdade, o trailer não diz muito sobre a produção, uma vez que sua história é mantida em segredo de Estado pelo estúdio. O pouco que se sabe é que o filme coloca Leonardo DiCaprio em mundo paralelo, algo como dentro de um sonho de si ou de uma outra pessoa. O trailer vende o filme pelo virtuosismo das impressionantes imagens. Além de DiCaprio, tem o veterano Micahel Caine, a “Juno” Ellen Page, Joseph Gordon-Levitt e Marion Cottilard (vencedora do Oscar por “Piaf”). Nolan é um diretor bem interessante, ainda que eu não goste de alguns de seus filmes-símbolo como o pretensioso “Amnésia” ou o desnecessariamente hermético “O grande truque”, mas quando acerta como no maravilhoso “Insônia” e no próprio “Batman”, que é impressionante em todos os seus méritos, ele consegue aliar genialidade artística, com certa precisão estética que vai além das convenções cinematográficas. Estou muito ansioso para desvendar seu mais novo enigma e o trailer estimula bastante esse meu entusiasmo.

Dica de Música: "2+2=5" (Radiohead)

Receita movediça

Assistir ao filme “O príncipe da Pérsia” é constatar que a receita de bolo do esquizofrênico produtor Jerry Bruckheimer (trilogia “Piratas do Caribe”, “A Ilha” e “Os bad boys 02”) é presença constante no valioso período de “filmes de verão americano”, anualmente. Bruckheimer desenvolve seus matizes e um diretor formata a história, neste caso, o diretor Mike Newell, agora com a expertise de ter um “Harry Potter” no currículo. Inspirado num game bastante conhecido no meio, conta a história do príncipe Dastan (Jake Gyllenhaal, anabolizado e exorcizando de vez a fragilidade de seu cowboy gay em “Brokeback Mountain”), adotado pelo rei Sharaman ainda criança, torna-se um guerreiro valente e fundamental numa invasão a uma cidade sagrada, governada pela belíssima princesa Tamina. O roteiro, escrito por Baoz Yakin, Doug Miro e Carlo Bernard, faz uma inesperada analogia ao cenário político contemporâneo, uma vez que essa tal invasão a uma cidade do Oriente Médio tem como justificativa um possível esconderijo de armamentos que comprometeriam a segurança. Essas armas porém, nunca são encontradas, revelando que o real motivo da guerra era a ocupação territorial em si. Nem preciso dizer que isso tem cheiro de guerra do Iraque e a constrangedora justificativa do governo Bush. Apesar disso, não se enganem, o filme segue direitinho sua natureza Buckheimiana (sabe aquela salada de aventura, humor e altas doses de superficialismo narrativo tão presentes no já citado “Piratas do Caribe”? Mais ou menos por aí. Com exceção de que neste filme não há a carismática presença de Jhonny Depp). Os diálogos propõem-se engraçadinhos, mas são irritadiços em explicar a ação posterior (tudo bem que é um filme da Disney...), os efeitos são bizarros (as cenas finais beiram ao primário) e os cenários tem cara de... cenários. No fim, cabe a você relaxar e abstrair as limitações que transcorrem na tela, quer dizer, nem isso: o filme ainda sofre da falta de concisão e suas quase duas horas são muito bem sentidas; outro ponto em comum com a franquia dos piratas...

Dica de Música: "Pode ser" (Pedro Mariano)

Após as expectativas...

Gerou muita expectativa o último filme do ótimo diretor Joe Wright, “O solista” (eu até escrevi aqui no blog um post sobre o lançamento e a possível promessa de Oscar). Acabou que o filme fracassou tanto em público, quanto em crítica e passou tão rápido por nossos cinemas que nem consegui assisti-lo (recentemente aconteceu o mesmo com o último filme de Paul Greengass – que admiro demais - “Zona Verde”, que não deve ter ficado nem duas semanas em cartaz). Bom, assisti “O solista” em DVD e posso dizer que entendi um pouco a rejeição que o filme causou na opinião pública em geral. Wright é um diretor inglês muito interessado na estética de seus filmes (tanto “Orgulho e preconceito”, quanto a obra-prima “Desejo e reparação” são antes de tudo, filmes lindíssimos) e na eloqüência conflituosa de seus protagonistas e, agora no comando de uma produção formalmente americana (ele é inglês) e contemporânea, essas prioridades não são bem executadas num todo. Apesar de também ser muito bem fotografado – a Los Angeles de Wright tem uma beleza impressionante, o diretor pesa a mão ao mostrar a história real de um conceituado jornalista do Los Angeles Times (Robert Downey Jr) que, em busca de um assunto interessante para pautar sua coluna, encontra Nathaniel (defendido com garra pelo ator Jamie Fox), morador de rua esquizofrênico, mas um músico extremamente talentoso. Não sei se encantando demais com matéria prima dramática que tinha em mãos, o diretor suplantou de certa leveza necessária ao espectador para poder digerir a relação de troca mútua e iminente que se estabelece na história, deixando a narrativa pesada demais para uma reflexão natural. Uma pena... Mas vale dizer que fora o primeiro grande deslizes de Wright, que possui um talento ainda hoje promissor. Seriam os ares norte-americanos?

Dica de Música: "Change" (Tracy Chapman)