terça-feira, 23 de março de 2010

Quero ser grande!

Spike Jonze é um diretor “esquisitamente” genial. As metáforas implícitas em “Quero ser John Malcovick” e o deboche velado em “Adaptação” revelam que seus filmes seduzem nossas retinas pela arte da instigação. Isso é quase uma anomalia no cinema atual. Quando decidiu dirigir “Onde vivem os monstros”, uma adaptação de um famoso (lá fora) livro infantil do estadunidense Maurice Sendak, lançado há mais de 40 anos, eu não sabia mesmo o que esperar. O livro, mais ilustrativo, tem pouco mais de dez frases e verter isso para um longa de uma hora e meia era um desafio e tanto. “Onde vivem os monstros” segue as aventuras de Max, um menino carente de atenção – como todos da sua idade – que parte para um mundo paralelo e desconhecido, a dos Monstros Selvagens, onde a travessura é a lei e ele vira o rei. Resquícios de “Crônicas de Nárnia”? Esqueça. O filme é até vendido como infantil, para capitalizá-lo, mas se trata de uma produção muito mais dimensionada do que esse alcunha possa supor (mesmo com a dignidade atual dos filmes infantis da Pixar). Com sua estética crua e monocromática, Jonze continua mantendo seu interesse em justificar um indivíduo pela simbologia de sua mente, como feito brilhantemente no já citado “Quero ser John Malcovick”, já que o filme se vale de seus aparentes “monstros” para decodificar todas as faces da personalidade da criança. Num mundo paralelo, Max exercita sua imaginação e acaba encontrando um caminho para amadurecimento. E o filme fala justamente desse processo precoce, ainda que sob as bases da fantasia, resultando num paradoxo que só o cineasta conseguiria evocar, de forma tão perene.
Impressionante também o trabalho feito com os bonecos animatrônicos, que incluem expressões faciais (digitais) e em nenhum momento deixam de passar verossimilhança, assim como todo o design do filme que opta eficientemente em situar toda a história em um ambiente real, sem alegorias que esse universo poderia sugerir.
Enfim, como todo filme De Spike Jonze, é uma história estranha, mas absolutamente reconhecível. E, dessa vez, esse reconhecimento também se dá pelo encanto com que seu resultado alcança no espectador.

Dica de Música: “Amie" (Damien Rice)

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