quinta-feira, 27 de maio de 2010

Um vinho chamado Woody Allen...

O novo filme de Woody Allen "Tudo pode dar certo" funciona como uma síntese da obra e da visão do próprio cineasta. O roteiro do filme foi escrito na década de 70 e o diretor resolveu filmá-lo por causa do imbróglio da greve dos roteiristas americanos. Interpretando um papel que poderia perfeitamente se vivido por Allen, Larry David (que dá uma nova perspectiva do ator Woody Allen) dá vida a Boris, ex-físico, dedicado a mecânica quântica que vive sob os maneirismos da hipocondria e do pessimismo e sempre tem uma visão um tanto cínica da humanidade. Após uma tentativa de suicídio mal sucedida (que lhe deixou manco) ele conhece uma jovem (vivida pela gracinha Evan Rachel Wood, que eu nunca compreendi o seu duradouro namoro com o (a) roqueiro (a) Marilyn Manson), um tanto tontinha mas encantadoramente pueril, engatando assim um improvável, mas tranqüilo romance. Um ano depois, com a chegada da mãe da menina (Patrícia Clarkson, que ilumina o filme), a vida de Boris passa por transformações, um tanto previsíveis. O filme traz de volta um Woody Allen da década de 70 e 80, tanto em conceito (discurso filosófico e irônico sobre o mundo) como na forma (a estrutura do ator falando para as câmeras, como em sua obra-prima "Noivo neurótico, Noiva nervosa"). E, principalmente para os fãs do cineasta - como este que vos escreve - tudo acaba tendo uma sensação de revival de uma época em que Woody professava bem mais que estilizava. Não tem como ficar indiferente à suas elucubrações cotidianas, revelando um novo ponto de vista daquilo que sempre pensamos e muitas vezes não aprofundamos. Mesmo quando deixa transparecer suas idéias judias (sua classificação de Deus, num diálogo entre o pai da ninfeta se descobrindo homossexual é hilária). Não é um Woody Allen ambicioso e perspicaz do ótimo "Match Point", ou até o sacana e surpreendente de "Vicky Cristina Barcelona", seus bons filmes recentes. Muito pelo contrário. O diretor parece que dirigiu esse longa no automático, deixando as idéias falarem pela estética. Mas como ele mesmo defende na história: "Às vezes os clichês são a melhor forma de dizer as coisas". Só essa frase já diz muito sobre como o filme é digerido ao fim da sessão. Vida longa a Woody Allen.
Dica de Música: "Cadê você?" (Bebel Gilberto)

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