No finalzinho da década de 90, um até então desconhecido cineasta indiano, mobilizou o mundo com um dos filmes mais sensacionais da História do cinema: “O sexto sentido”. Logo, com o impressionante sucesso e prestígio, M. Night Shyamalan foi taxado como o último ranço de renovação criativa de Hollywood e tudo que fizera posteriormente fora aguardado com exagerada expectativa (tanto que foi considerado como uma espécie de novo Hitchcock). “Corpo fechado”, seu filme seguinte ao fenômeno “do menino que via pessoas mortas”, é mais uma de suas obras-prima - sua visão iconoclasta do processo de heroicização do homem resultou num filme espetacular - ainda que boa parte do público e crítica não tenha escondido sua frustração pelo excesso de expectativa. A crítica, de uma forma geral, passou a olhá-lo com desconfiança a
partir de seus filmes seguintes. Aliás, sempre há muita discussão a cerca da qualidade de suas produções pós-“Sexto sentido”. Muitos, mas muitos mesmo, críticos e até uma considerável parcela do público o consideram como uma farsa. “Sinais”, seu terceiro filme de expressão, lançado em 2002, só reforçou essa idéia. Boa parte da opinião pública detonou o longa. Shyamalan sempre foi chegado a uma metáfora que exprima a relação do homem e o sobrenatural, ou simplesmente, o desconhecido, e neste filme, o cineasta se vale da paranóia generalizada com a possibilidade de vida extraterrestre, para falar sobre fé. Óbvio que se vale de uma alegoria pautada no entretenimento, mas é visível a substancia que Shyamalan tira do assunto. Mas controvérsia mesmo ele suscitou com o polêmico “A vila”, para mim uma obra-prima incontestável. A sensação de ser manipulado psiquicamente para enxergarmos uma verdadeira crítica ao isolacionismo norte-americano é impagável, e o diretor orquestra essa percepção de forma tão eficiente quanto estimulante. Até o ódio de alguns, com o desfecho-surpresa, é justificável. Seu filme seguinte foi “A dama na água”, que lhe rendeu muita dor de cabeça, uma vez que naufragou na bilheteria e arranhou ainda mais sua imagem nos bastidores do cinema americano. Considero um filme incompreendido. Ele simplesmente quis dar vida a seus contos infantis que só seus filhos conheciam. Sei que foi um projeto extremamente arriscado, mas gostei muito do filme, principalmente se raciocinado como um papel em branco para imaginação. Mas o mundo, neste caso, meio que lhe deu as costas. Seu último filme, lançado há cerca de dois anos, foi "Fim dos tempos”, para mim, seu único filme que sucumbe ao erro de levar-se a sério demais. Defeito este, costumeiramente atribuído ao diretor, mas que sempre contestei; entretanto neste filme, que dialoga com a vertente atual do meio ambiente e afins, seu discurso não se sustentou e o filme - muito bem filmado e fotografado, por sinal (a cena dos operários caindo de cima de um prédio é antológica) - acabou virando uma comédia involuntária.
Agora, depois destes altos e baixos, Shyamalan retorna fazendo sua primeira grande concessão como diretor: estréia em julho (veja o trailer abaixo) sua adaptação do desenho “Avatar”, cujo nome será “O último mestre do ar”. É óbvio que esse lançamento aponta para um novo recomeço do autor/cineasta na seara hollywoodiana. Pelo trailer, vemos que sua estética continua impecável. Seus filmes são muitíssimo bem filmados. Mas confesso que estou receoso, não pelo resultado, mas por não ser um filme “autoral”, como de costume. Se esse possível grande ”blockbuster” servir de ponte para uma espécie de renascimento do diretor, que seja bem vindo. A questão é isso se tornar uma regra imposta, o que ele pode reverter lutando por seus projetos. Gosto demais de seus devaneios e diálogos com a investigação humana e sua relação com o oculto. Creio que ele pague um preço caro por sua originalidade, mesmo quando esbarra em uma tentadora pretensão. Mas aonde enxergam apenas pedantismo, eu vejo inconformismo. Shyamalan não é nem será um Hitchcock, ou um Spielberg. Ele sempre será apenas M. Night Shyamalan, e sua posteridade depende apenas dele.
partir de seus filmes seguintes. Aliás, sempre há muita discussão a cerca da qualidade de suas produções pós-“Sexto sentido”. Muitos, mas muitos mesmo, críticos e até uma considerável parcela do público o consideram como uma farsa. “Sinais”, seu terceiro filme de expressão, lançado em 2002, só reforçou essa idéia. Boa parte da opinião pública detonou o longa. Shyamalan sempre foi chegado a uma metáfora que exprima a relação do homem e o sobrenatural, ou simplesmente, o desconhecido, e neste filme, o cineasta se vale da paranóia generalizada com a possibilidade de vida extraterrestre, para falar sobre fé. Óbvio que se vale de uma alegoria pautada no entretenimento, mas é visível a substancia que Shyamalan tira do assunto. Mas controvérsia mesmo ele suscitou com o polêmico “A vila”, para mim uma obra-prima incontestável. A sensação de ser manipulado psiquicamente para enxergarmos uma verdadeira crítica ao isolacionismo norte-americano é impagável, e o diretor orquestra essa percepção de forma tão eficiente quanto estimulante. Até o ódio de alguns, com o desfecho-surpresa, é justificável. Seu filme seguinte foi “A dama na água”, que lhe rendeu muita dor de cabeça, uma vez que naufragou na bilheteria e arranhou ainda mais sua imagem nos bastidores do cinema americano. Considero um filme incompreendido. Ele simplesmente quis dar vida a seus contos infantis que só seus filhos conheciam. Sei que foi um projeto extremamente arriscado, mas gostei muito do filme, principalmente se raciocinado como um papel em branco para imaginação. Mas o mundo, neste caso, meio que lhe deu as costas. Seu último filme, lançado há cerca de dois anos, foi "Fim dos tempos”, para mim, seu único filme que sucumbe ao erro de levar-se a sério demais. Defeito este, costumeiramente atribuído ao diretor, mas que sempre contestei; entretanto neste filme, que dialoga com a vertente atual do meio ambiente e afins, seu discurso não se sustentou e o filme - muito bem filmado e fotografado, por sinal (a cena dos operários caindo de cima de um prédio é antológica) - acabou virando uma comédia involuntária.
Agora, depois destes altos e baixos, Shyamalan retorna fazendo sua primeira grande concessão como diretor: estréia em julho (veja o trailer abaixo) sua adaptação do desenho “Avatar”, cujo nome será “O último mestre do ar”. É óbvio que esse lançamento aponta para um novo recomeço do autor/cineasta na seara hollywoodiana. Pelo trailer, vemos que sua estética continua impecável. Seus filmes são muitíssimo bem filmados. Mas confesso que estou receoso, não pelo resultado, mas por não ser um filme “autoral”, como de costume. Se esse possível grande ”blockbuster” servir de ponte para uma espécie de renascimento do diretor, que seja bem vindo. A questão é isso se tornar uma regra imposta, o que ele pode reverter lutando por seus projetos. Gosto demais de seus devaneios e diálogos com a investigação humana e sua relação com o oculto. Creio que ele pague um preço caro por sua originalidade, mesmo quando esbarra em uma tentadora pretensão. Mas aonde enxergam apenas pedantismo, eu vejo inconformismo. Shyamalan não é nem será um Hitchcock, ou um Spielberg. Ele sempre será apenas M. Night Shyamalan, e sua posteridade depende apenas dele.
Dica de Música: "Great Dj" (The Ting Tings)
Um comentário:
Espero que com O último mestre do ar, o cara se redima com o grande público, e volte a fazer bons filmes.
Ótimo texto... também acho A Vila primoroso!
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