Diretora de filmes sensíveis, mas extremamente iconoclastas, Sandra Werneck mirou sua lente para a dura realidade de um dos microcosmos da periferia carioca em seu novo longa “Sonhos roubados. Inspirado no livro “As meninas da esquina” de Eliane Trindade, o filme acompanha a vida de três amigas adolescentes: Jéssica (Nanda Costa), Daiane (Amanda Diniz) e Sabrina (Kika Farias), que gravitam sobre as limitações de uma comunidade pobre e submergem no mundo periférico da prostituição ocasional para justificar, ora suas próprias sobrevivências, ora o senso comum de sonho e desejo, que o filme acredita, lhe foram roubados. Como atestado sociológico, Sandra é bem sucedida na abordagem , principalmente por evitar qualquer ranço de romantização da situação. Ali, elas não são propriamente vítimas ou culpadas, elas são conseqüências de um meio. Nesse paradigma, o filme sustenta seu discurso e nos levar a ver/conhecer a realidade latente de uma juventude à margem da sociedade, mas que constitui um mundo próprio, dentro de suas limitações. Uma pena que, apesar de ser escrito por seis (!) roteiristas, Paulo Halm, Michelle Franz, Adriana Falcão, José Joffily, Maurício O. Dias e a própria diretora, o filme tenha uma dramaturgia tão fragilizada, que muita das vezes inibe a potencialidade de determinadas situações apresentadas no longa. O elenco principal é muito bom – as três protagonistas, praticamente estreantes, acatam o desafio de seus papéis com sucesso – e a direção de fotografia de Walter Carvalho traz uma interessante liturgia na secura estética do tema. “Sonhos roubados” almeja lançar uma lente de aumento num dos nichos da tragédia urbana do país, mas ressente-se de sua natureza ficcional, no confronto com a vida real.
Dica de Música: “Sonhos roubados” (Maria Gadu)
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