O sucesso de bilheteria recorrente dos filmes do diretor Daniel Filho são resultados de suas assertivas escolhas, ou de seu talento, propriamente dito? Os dois fatores configuram uma idéia desta resposta e, mais uma vez, esses e outros paradigmas do diretor, são corroborados vide o enorme sucesso que vem fazendo (em torno de 3 milhões de espectadores) seu último lançamento, “Chico Xavier, o filme”. Com o valioso suporte da Globo Filmes e com a experiência de dialogar com o grande público, dada a sua trajetória na TV, Daniel dirige filmes com o compromisso de alcançar o maior número de pessoas possíveis, e isso não é demérito nenhum. Spielberg casou pluralidade com qualidade e seu nome virou sinônimo de prestígio. E com muita justiça. “Chico Xavier” funciona muito bem no tocante àquilo que se propõe: biografar o médium mais famoso do país, que disseminou a religião espírita e tornou-se uma espécie de mito espiritual para boa parte da população. O problema do filme é que, para respaldar a força de seu personagem, acaba traindo sua própria essência narrativa. O desempenho dos atores em geral, principalmente dos três protagonistas, Matheus Costa, Ângelo Antônio e Nélson Xavier (que mantém uma bem sucedida linearidade de interpretação), são muito bons. Mas o roteiro do veterano Marcos Bernstein, baseado na biografia de Marcel Souto Maior, erra ao desfocar o filme para uma desnecessária trama paralela (que discute a fé através de um casal formado pelos atores Tony Ramos e Cristiane Torloni), tornando toda a situação (principalmente o desfecho) um tanto artificial e desnecessária. E, com alguns equívocos pontuais no todo, Daniel Filho acerta ao colocar uma antiga entrevista real, com o próprio biografado, nos créditos, uma vez que dá certo sentido emocional ao longa. Não à toa, na sessão que assisti, parecia ser o único que não estava visivelmente emocionado no cinema. Diria que o filme percorreu um caminho irregular, principalmente por seu roteiro não confiar plenamente na história de seu mito. Para o grande público isso não faz diferença. Entretanto, para uma produção que se propõe a falar de fé, soa um tanto incoerente não ter confiança em seu próprio discurso.
Dica de filme: “Podes crer” (Cidade Negra - versão “Acústico MTV”)
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