quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

O filme da década !!!

Bem, 2009 está se despedindo, levando a década de 2000 consigo... Não consegueria fugir do clichê de apontar os melhores do ano (o que farei mais para frente), mas – após fazer um retrospecto cinematográfico – chego a conclusão de que “Cidade de Deus”, obra-prima do cineasta Fernando Meirelles é o melhor filme brasileiro da década. Sem maiores discussões e com o resto do mundo corroborando. O brilhante cineasta retratou mais do que uma ferida social por sua posição geográfica, mas fez uma radiografia de como o poder inside sobre os seres, principalmente quando se vive em comunidade. O vigor do resultado garantiu sua relevância na História do cinema.

Desejo a todos os leitores um 2010 bem produtivo em todas as suas estâncias.

Dica de Música: O hino pop do 2009, mostrando o poder midiático de Beyoncé (e sua legião de produtores) “Single ladies” (Beyoncé)

domingo, 27 de dezembro de 2009

Sexo e afins...


Acaba de sair o trailer do novo e segundo filme baseado na saudosa série “Sex and the city”. Eu sei que muitos torcem o nariz para a produção da HBO, que acabou em 2004, argumentando que se trata de um mosaico bem produzido de futilidades contemporâneas. Se for se levar pela cosmética imagética da coisa, sem um aprofundamento, parece mesmo. Eu tinha essa impressão até me propor a assistir ao Box das seis temporadas e atesto: é uma das melhores coisas já feitas na TV americana. Tem sim uma preocupação quase excessiva com a cosmética das histórias, afinal, é uma série que superficialmente fala do universo de mulheres (ricas) nova-iorquinas, mas o bacana é que o inteligente roteiro delineia uma radiografia perene das relações atuais (Que Karl Marx não me ouça!). Para mulheres, a identificação é certa (pulverizada nos arquétipos das quatro personagens principais) e para os homens (de qualquer gênero, juro!), é um interessante meio de compreendê-las.
O primeiro filme saciou a espera de seus fãs mais fiéis, mas caiu no previsível erro de não se desprender de sua natureza televisiva. Agora, espero que esta aresta seja aparada, pois a matéria prima pode render algumas boas continuações. O trailer diz pouco sobre a trama, mas dá um panorama do que é a série: por trás de muito barulho tem sim sua consistência relevante. Seria Carrie Bradshaw a nova Audrey Hepburn???

Dica de Música: “Beautiful Day” (U2)

sábado, 26 de dezembro de 2009

Susto datado...

Talvez se eu fosse de uma geração posterior a minha digerisse melhor a tensão crescente que se dá no filme “Atividade paranormal”. Há exatos 10 anos atrás, chegava aos cinemas com muito barulho o filme “A bruxa de Blair”, que se vendia como uma suposta história real de um casal de amigos que teriam sido atacados por uma entidade numa floresta fechada. As imagens eram da câmera encontrada no local. Naquela época, com o iniciozinho da era digital, os efeitos desse “plano de marketing” foram muito bem sucedidos, e o filme, que custou uma ninharia, rendeu mais de 100 milhões de dólares. Realmente o filme era apavorante, principalmente com esse adendo de ser uma suposta história real.
“Atividade paranormal” tem uma história parecida, tanto da trama, quanto da produção em si, já que custou pouquíssimo (US$ 15 mil) e rendeu mais de US$ 60 milhões em território americano, graças também ao boca-a-boca gerado pela internet. Primeiro longa de Oren Peli, o filme aposta na fórmula conhecida de dois jovens (Katie Featherston e Micah Sloat) que mudam-se para uma casa mal-assombrada. Corroborando o que disse no início, se não tivesse visto e vivido a febre de “Blair” há dez anos atrás, teria tido mais paciência e envolvimento com este novo filme. Os sustos são até legítimos e bem produzidos (apesar de sua natureza “amadora”), mas até chegar nesses momentos nos é exigido uma paciência de mais de uma hora com uma enrolação narrativa muito cansativa. O final é até bem impactante (persuadindo inteiramente o público do cinema), mas até aí a nossa paciência já está no limite.

Dica de Música: “Amarantine” (Enya)

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Pérola aos cinemas


Existe vida inteligente no cinema brasileiro. E quando afirmo é pelo fato de que há uma predominância entre dois extremos recorrentes nas produções nacionais: os medíocres ou os que seguem fórmulas, ainda que este último por vezes consiga romper o estigma demeritório. O filmaço “É proibido fumar”, segundo filme da cineasta Anna Muylaert, consegue manter-se a parte desses paradigmas pela dignidade com que sua trama é levada a tela. O filme fala de personagens que estão a margem e confronta justamente essa condição com seus próprios universos e é daí que parte o grande valor do belo roteiro da própria diretora. Baby, personagem de Glória Pires, é uma professora de violão, romântica e solitária, que deseja viver uma grande paixão. Coma mudança de Max (Paulo Miklos), um músico de bar recém separado, para o apartamento ao lado, Baby vê a chance de realizar seu sonho. Para conquistá-lo, ela faz um grande sacrifício e abandona seu antigo companheiro, o cigarro.
Muylaert dimensiona os conflitos internos e externos de seus personagens com economia, deixando que falem sobre si sem tornar seu discurso didático ou tendencioso. O intimismo é preponderante para que nos identifiquemos com os personagens, sem juízos de valor pré-estabelecidos. Esse resultado é conseguido graças ao tom observador que a diretora joga sobre sua história, daí, assim como os símbolos metafóricos que filme nos joga, parece que estamos olhando para aquele casal pelo buraco de um olho mágico de uma porta caseira. Mais uma vez a atriz Glória Pires entrega uma atuação muito inteligente e orgânica, provando sua versatilidade em qualquer universo audiovisual. Numa das cenas mais arrepiantes do filme, a personagem, transtornada por saber que está sendo traída, quebra sua longa abstinência do tabaco, com um grito de “foda-se” tão verdadeiro, que o público sente a mesma sensação de alívio e desespero da tela. É um trabalho de mestre de uma atriz tão talentosa como Glória. Miklos, que cada vez mais tem atuado em bons filmes como “O invasor” de Beto Brant, também é muito bom e consegue uma química interessante com a atriz.
“É proibido fumar” é um filme pequeno em estrutura e distribuição (uma grande pena!) mas gigante no panorama artístico de nosso cinema. Diria que é um dos melhores filmes que já vi, seja pelo enfoque desmitificado de uma classe média tão característica de nosso país, seja pelo fato de levar a sério sua condição de Cinema, em uma seara tão complicada. Isso porque é apenas o segundo filme de Muylaert, então, que venham os próximos.

Dica de Música: “Taj Mahal” (Jorge Benjor)

O show vai começar!

Nessa temporada de fim de ano começam os primeiros rumores das indicações das grandes premiações do cinema americano, começando com o Globo de Ouro.
Entre os indicados a melhor filme em drama, destacam-se a presença do blockbuster megalomaníaco de James Cameron “Avatar”, o polêmico filme “Bastardos Inglórios” e o filme independente “Guerra ao terror”. Ainda que o favoritismo esteja entre outro independente “Preciosa” (cuja foto ilustra esse post), drama humanístico muito badalado nos EUA e o novo filme de Jason Reitman, “Amor sem escalas”. Na categoria musical tem “Nine”, musical baseado em filme de Fellini, que em suas primeiras exibições vem causando grandes entusiasmos por parte da crítica. Os demais, creio serem peças de figuração, apesar de “Julie & Julia” parecer ser bem simpático ao juri estrangeiro, que vota nessa premiação. Entre os indicados a melhor ator de drama destacam-se Jeff Bridges por “Crazy heart”, Colin Firth pelo delicado trabalho como um homossexual em “A single man”, estréia na direção do estilista Tom Ford e George Clooney, pelo filme de Reitman. Para ator de comédia ou musical, Daniel Day Lewis provavelmente ganhará por “Nine”. No quesito atriz de drama, Hellen Mirren, por “The last Station”, Carey Mulligan por “Educação” e a novata Gabourey Sibide pela protagonista sofrida (e quase autobiográfica) de “Preciosa”, estão no páreo duro. Em atuação de comédia ou musical, o destaque fica pela quase hour-concurs Meryl Streep, com dois filmes nas costas: “Julie & Julia” e “Simplesmente complicado”. Nas categorias coadjuvantes a premiação deve cair no colo da arrepiante atuação de Christoph Waltz, no filme de Tarantino, já no de atriz a coisa fica mais pulverizada com Penelope Cruz em “Nine”, Vera Famiga e Anna Kendrick, ambas por “Amor sem escalas”. Na direção também parece não ter favoritos, assim como em Roteiro, diferente dos indicados por Animação, que deve se polarizar entre o fofo “Up” e o melancólico “O fantástico sr. Raposo”.
Em séries, o quesito drama mantém-se os mesmos badalados de sempre, com “House”, “Mad Men” e “True Blood”. Já para séries em musical ou comédia, a novidade são “Modern Family” e o fenômeno “Glee” (da divertida foto abaixo, que ilustra bem o espírito da série, já comentada aqui no blog).
Um cardápio sem grandes absolutos, mas bem interessante do ponto de vista de nossas opiniões do lado de cá da tv...

Dica de Música: “Rehab” (“Glee”soundtracking)



quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Ares explosivos

A série "24 Horas" volta em sua oitava temporada mudando de ares. Assim como aconteceu com outra boa série americana "Nip Tuck", que trocou de cidade para oxigenar sua trama, Jack Bauer e cia migrarão agora para o centro nervoso de New York, o que já confere vários nichos de possibilidades para suas intricadas histórias. Fica aí a dica para a novíssima temporada da atração que estréia em janeiro... e, garanto, melhor que muito filme de Hollywood.

Dica de Música: "The masterplan" (Oasis)

Jingle bells...


Há pouquíssimo tempo eu postei aqui no Blog um comentário sobre a curta discografia do cantor inglês Jamie Cullun, do qual sou um admirador confesso. Coincidentemente, o cantor acaba de lançar seu mais no cd “The Pursuit”, que mantém a qualidade personalista de seu som habitual. Como já havia dito, Cullun se notabiliza pela arrojada pop que imprime ao jazz em suas canções, e no novo trabalho a cartilha é mantida à regra. O álbum começa com o classicismo de “Just one of those things” e se encerra com a levemente psicodélica “Music is through”, o que já confere ao seu repertório a busca do intérprete em pulverizar sonoridades referenciais e fundir gêneros com sua roupagem jovial. Diria que “I’m all over it” sintetiza muito bem o espírito do cantor e a levada do cd, mas o grande destaque fica com a improvável versão jazzística para a música “Don’t stop the music” da cantora Rihanna. É uma batida que fez sucesso nas rádios e sedimentou o nome da cantora que, apesar de ser nitidamente um produto de marketing de gravadora, de vez em quando aparece com umas músicas (produções!) bem sacadas nas rádios como “Disturbia” e a recente “Roullette Russian”. Cullun desconstrói o hit para brincar com os limites que a sofisticação de seu talento busca quebrar. O ótimo clipe da música (que ilustra esse post) mostra bem essa marca do cantor... enfim, mais um trabalho de respeito do cara.

Aproveito essa excelente dica para desejar a todos UM FELIZ NATAL!!!

Pecar por pecar...

O cinema como agente provocador da sociedade, sempre encontrou suporte na cinematografia européia. De Godard a Bertolucci, toda inquietação geracional (ou não) era transportado para a sétima arte como forma de compreender ou discutir àquilo que a sociedade muitas vezes escamoteava ou simplesmente ignorava. Esse tal cinema “provocador” também faz parte da história de nosso cinema, com seu maior representante ainda bem ativo: Julio Bressane, diretor que produziu filmes que discutiam tanto a linguagem de sua arte (“Cleópatra”) quanto seu meio social (“Filme de amor”). Essa introdução é para contextualizar um pouco, o equivocado filme “Do começo ao fim”, do diretor Aloísio Abrantes. Este, também tem a carreira marcada por filmes dessa conjuntura. Aliás, seu filme mais conhecido (e premiado) é “Um copo de cólera”, que se propôs a radiografar os antagonismos do sentimento entre um casal, mas sobre as diretrizes dos extremos, tanto emocionais (com diálogos feéricos) quanto físicos (com cenas envolvendo ejaculação real). Neste caso, o choque se justificava pela reflexão. Em seu novo trabalho, Abrantes resolveu discutir (!) o inusitado com a história de dois meio-irmãos que se relacionam desde a infância. Os tabus são multiplicados: trata-se de uma relação homossexual, e ainda incestuosa. Se por um lado o ineditismo do argumento estabeleça algum interesse, por outro, sua realização é bem aquém, até da própria obra de Abrantes, que parece ter ficado tão excitado com a “provocação” de seu discurso, que se esqueceu de embasá-lo. O filme é muito complacente com seu universo, não dando brechas para nenhum conflito, o que acaba gerando um incômodo tom de artificialismo, que destrói qualquer tentativa de aprofundamento. Nem mesmo o bom trabalho do elenco (Julia Lemmertz – atriz assinatura do diretor – e Fábio Assunção tem atuações sóbrias e os protagonistas estreantes João Gabriel Vasconcelos e Rafael Cardoso seguram bem o desafio de dar crédito a esse inusitado casal, com cenas de sexo elegantes, mas bem corajosas) consegue dar credibilidade ao todo, o que é uma pena quando se conhece o talento de Abrantes. Infelizmente é o caso de muito barulho por nada e o que provoca é apenas uma sensação de inconsistênci

Dica de Música: "Samba de uma nota só" (Tom Jobim)

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Somos os pais???

Essa é exclusiva: assisti ontem a pré estréia do aguardado e polêmico filme “Lula, o filho do Brasil”, do diretor Fábio Barreto. Apesar de tudo o que se põe contra a produção – das primeiras críticas ruins, do fato de não ter gostado de nenhum filme anterior desse diretor... – posso dizer que gostei muito do filme.
O filósofo alemão Walter Benjamin tem uma frase que gosto bastante, que diz que “a construção da vida encontra-se mais em poder dos fatos do que das convicções”, e por mais que tenha a consciência de que não é por uma ação dramatizada que se compreende um homem, digo que o filme se coloca como metáfora para figura, um tanto controversa, de nosso presidente. Primeiramente gostaria de dizer que não compactuo com essa corrente que defende o filme como uma arma política para a campanha presidencial de 2010. Até porque se fosse usado para o isso, o filme não seria o mais apropriado. Mais forte do que uma suposta produção cinematográfica panfletária é a popularidade impressionante de Lula, que beira os inéditos 70% de aprovação. Quanto a esse fato não há argumento. Se formos olhar a influência, digamos, estética do filme, os votos seriam vertidos para a candidata do PV, Marina Silva (pela leve similaridade de trajetória), e não para Dilma Rousseff. E quando se discute o momento, dito não apropriado ao lançamento do filme, uma vez que o personagem ainda está vivo e na presidência, não sejamos ingênuos. O filme foi pensado e produzido por empresas privadas, que visam o lucro. A política aqui é retratada, e não rechaçada.

Dito isso, vamos ao filme: O diretor Fábio Barreto não tem um currículo animador. Seus filmes trafegam entre o ruim e o insípido. Até hoje me pergunto a razão da escolha de “O quatrilho” como um dos candidatos ao Oscar de melhor filme estrangeiro, em 1995. Ainda que seja um de seus melhores filmes (!), não classificaria em nada além do “acima da média”. “Bella Donna” (filme de 1997), é pavoroso e “A paixão de Jacobina” (uma superprodução de 2002, que tinha um argumento interessantíssimo), é uma das piores coisas que o cinema brasileiro já lançou. Mas, surpreendentemente, Fábio dirige o “Lula, o filho do Brasil” com uma maturidade impressionante. Com auxílio da precisa fotografia de Gustavo Hadba, Barreto desfila referências (do Cinema Novo no início do filme, aos thrillers políticos da década de 70 em sua conclusão) durante a projeção e impõe um bem sucedido trabalho cênico com os atores. Seu filme consegue dar forma a um mito sem apelar para as armadilhas épicas que o gênero atrai. E ainda resgata a noção de “emocionante” suplantando o “cinismo” que o gênero invariavelmente evoca. O roteiro pode até ser condescendente demais com o personagem, só que diferente de filmes como “Che”, que personificou a saga embrionária de Che Guevara de forma incomodamente devocional, essa mitificação acaba por ser coerente com sua desmistificação: se hoje relativisamos a figura de Lula, com suas incoerências éticas e políticas, é por que tínhamos uma figura (ou uma visão romântica) idônea e heróica que o tempo e o poder teriam corrompido. E é sobre esse período de construção, o início de sua trajetória política que o diretor sabiamente se propôs a mostrar e, ainda que em certos momentos fiquem expostas algumas fragilidades de direção e uma fabulação do discurso retratado, é na justificação desta dicotomia entre o homem e o político, que o filme revela sua grandeza e pertinência.
O desconhecido ator Rui Ricardo Dias incorpora com precisão seu Lula, sem se importar com as caricaturas que o mesmo suscite em humorísticos. Juliana Baroni, dando vida à primeira-dama Marisa Letícia, brilha em suas breves cenas, assim como os atores que cobrem a infância do presidente. Mas a grande presença é mesmo da arrepiante atriz Glória Pires que, em um ano produtivo no cinema (brilhou em “Se eu fosse você 2” e agora ganhou prêmio inédito de melhor atriz no sisudo Festival de Brasília com “É proibido fumar”), rouba todas as cenas como a mãe do presidente, que é o grande esteio dramático da história. Além de compor uma nordestina com inteligência, comprova sua entrega e experiência ao audiovisual dominando todos os desafios cênicos de sua personagem.
Destaco também a linda trilha instrumental de Antonio Pinto e Jaques Morellembaum, que age como complemento atmosférico às catarses que o diretor propõe, com uma presença entre o intimista e o espetacular.
Quando disse que o filme é uma metáfora de seu protagonista é justamente por conotar suas imperfeições pois como o próprio Lula, o filme é cheio de fragilidades, mas nos ganha pelo carisma e espontaneidade com que nos emociona. A última cena reverbera a sensação de ambigüidade que futuro trouxe, ainda que o presente não descaracterize o passado de forma totalitária. A vida real é mesmo bem mais complexa, mas ainda assim Benjamin tinha razão: fatos sobrepõem-se a convicções.



Dica de Música: "Roda Viva" (Chico Buarque)



Pop, marginal e divertido


Estreou a pouco tempo na Fox, uma série muito bacana que tem feito barulho no EUA: “Glee”. Assisti ao primeiro episódio e gostei do que vi. Não há nada de novo, a série retrata uma típica escola americana, onde um professor tenta reerguer o antigo coral do lugar. A coisa soaria apenas como mais um exemplar do “High School Musical” mas o diferencial está na mente criativa (e, de certa forma cruel) de Ryan Murphy, criador da maravilhosa série “Nip Tuck”, que debocha com o universo das cirurgias estéticas. Murphy usa o clichê “escolar” americano para da voz aos excluídos, uma vez que a série é estrelada por um grupo bem inusitado, ou de “losers” como são chamados na terra do Tio Sam: Um professor latino, um jovem gay bem resolvido, uma negra obesa, um deficiente físico... e por aí vai. Mas o que vem chamado a atenção do público (e rendendo muitos dólares) são os musicais que usam vários ícones da música pop, desde Beyonce (como o vídeo hilário abaixo, de “Single ladies” dançados pelo time de futebol americano da escola) até o grupo Queen, em adaptações com novos arranjos. A música "Don't Stop Believing", da banda Journey, tema do primeiro episódio piloto, interpretada pelo elenco chegou ao primeiro lugar em downloads no iTunes.
A graça é justamente na proposta da relativização da imperfeição num país de natureza tão republicana. E isso, em tempos de Obama, é quase uma necessidade cívica...

Dica de Música: "Ego" (Beyonce)

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Srta Black our White ?

E foi já no finzinho de 2009 que me deparei com um dos melhores cds do ano: “Colour Me Free” novo trabalho da inglesinha Joss Stone. Inglesinha é um termo bem pejorativo para essa cantora loirinha de corpo mignon, mas de voz estrondosamente negra. Há muito que venho acompanhado o seu trabalho, que se destaca pelas fortes influências da música negra, o que, aliás, é uma interessante ironia sendo ela uma cantora inglesa, e não americana. Seu mais novo cd trafega por essas influencias de forma mais presente, diferente de seu cd anterior que se pretendia mais do que conseguiu ser. O casamento de R&B, Black Music e Soul conferem um misto de elegância e fervor às canções, como em “Free me”, “You got the love” e “Lady”. Mesmo quando cede ao apelo radiofônico (e isso sem culpa nenhuma) o faz com brilhantismo, ainda que acrescente pouco com a música “Stalemate”, em dueto com o cantor Jamie Hartman. E fecha muito bem com a belíssima “Girlfriend on demand”, provando e mostrando que sua capacidade artístico-vocal ainda tem muito a render.
Essa onda revisionista da nova geração, que explora suas influências musicais e as confronta com as vertentes sonoras atuais (vide a arrebatadora Amy Winehouse) comprova que os sons dos novos tempos se estabelecerão pelo viés da convergência. Afinal, os gêneros musicais não surgiram assim?

Olha pra isso, olhe...

Invariavelmente o humor na televisão se sustenta pelos pilares dos arquétipos fáceis, sem nenhuma assimilação crítica. Por isso, uma das boas surpresas na tv aberta é a série “Opaíó” da Tv Globo, que acabou de encerrar sua segunda temporada. A emissora, que nos últimos anos tem investido mais na concepção de séries, ora acertando, como o bom “Força Tarefa”, ora errando feio como o insosso “Dicas de um sedutor”, foi esperta ao atentar para o potencial do filme original de Monique Gardemberg (que é bem inferior a série) e cercou o projeto com o melhor da casa, já que os episódios contam com o roteiro de Guel Arraes, Adriana e João Falcão, alguma das mentes mais criativas do cenário atual, assim também como a direção Jorge Furtado (um dos melhores cineastas brasileiros, com filmes como “O homem que copiava” e “Saneamento básico”) e Mauro Lima (de “Meu nome não é Jhonny”). Esse “entourage” é vital para a qualidade do programa, além é claro, do excelente grupo de atores originais do Bando de Teatro do Olodum, tradicional grupo de teatro da Bahia que faz um trabalho interessantíssimo e que se confunde com a cultura histórica baiana de uma forma geral. Pude assistir a um espetáculo do grupo, aqui no Rio e achei muito bom.
A série consegue enfatizar suas matizes discursivas pelo humor caricatural sim, mas com muita propriedade sobre o universo que retrata. Talvez pelo fato de ser encenada por atores originais, tanto do projeto, como da região, o resultado soe tão orgânico e ao mesmo tempo divertido. O humor é quase antropológico, pois parte da curiosidade de ver como o Brasil é rico de mundos dentro de sua própria uniformidade territorial. Uma pena a série ser de temporadas tão pequenas (4 episódios por ano), pois tem garantido a (tão rara) vida inteligente na telinha.

Dica de Música: "Não enche" (Caetano Veloso)

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Lua rasa

Definitivamente é impossível ficar imune aos fenômenos que se estabelecem no cinema a cada ano. Se as picardias causadas por certo bruxinho bilionário andavam dando trégua, agora eis que surge uma nova (e, óbvio, também lucrativa) franquia: a saga iniciada com o filme “Crepúsculo”, sendo continuada com o lançamento de “Lua Nova”, monopolizando quase todos os cinemas mundiais.
Não li os livros (comecei a ler o primeiro mas a escrita da autora Stepheine Meyer não me entusiasmou) e a abrangência que tenho da trama é só mesmo do cinema. Meyer, apesar de manejar sua obra pelas facilidades da mediocridade, foi muito criativa ao propor alternativas ao batido universo vampiresco, e isso eu percebi desde o primeiro filme. A autora lecionava literatura inglesa e se valeu de seu academicismo para lançar mão de estratégicas literárias um tanto oportunistas, mas que comunicam direitinho com o público adolescente, em especial o feminino. “Lua Nova” é eficiente nesse diálogo. Tive o desprazer de assistir ao filme num cinema repleto de adolescentes com a puberdade explodindo (cada cena era complementada com gritinhos ensurdecedores... cilada total) e era latente confirmar o poder e alcance que a saga vem conquistando nessa geração. Mas se por um lado o marketing é epidêmico, marcando o cenário pop dos anos 2000, por outro, sua profundidade – ainda que dentro do que se propõe – é de um pires. Os diálogos são sofríveis (“você já me deu tudo só por existir”; “a única coisa que impede de me matar é você” são alguns exemplos) e a insistência (creio ser dos produtores e não da direção) em situar o ator Taylor Lautner sem camisa (e devidamente marombado) para cativar a libido das debutantes são tão irritantes quanto seu público alvo.
Há de se considerar que o diretor Chriz Heitz fez um bom trabalho, principalmente na condução formal do filme. Muitas soluções são criativas e creio eu, contribuem mais a história do que o próprio livro. Assim com a trilha sonora (com participação de luxo de Thom Yorke, do Radiohead, em trabalho solo) que chega a soar dissonante pela qualidade.
Ainda mantém-se o desnível dos protagonistas, com a bonitinha da Kristen Stewart numa interpretação que varia entre a letargia e a apatia e Robert Pattinson brilhando em cada exigência dramática que o roteiro lhe impõe.
Não seria prudente afirmar que o filme é de todo ruim. Ótimo também não é. Apenas limitado a sua própria pretensão.

Dica de Música: "You got the love" (Joss Stone)

domingo, 29 de novembro de 2009

Os Maias previram os clichês???

Existem duas formas de se encarar o mais novo filme-catástrofe lançado nos cinemas, o barulhento "2012": Ou você embarca no absurdo da trama e se contenta com a grandiloquencia dos efeitos especiais (neste caso, são impressionantemente bem feitos), ou se aborrece com o enxame de clichês que tentam amarrar as pontas do roteiro, um tanto preguiçoso. Rolland Emmerich, diretor especializado nesse gênero, com "Independence Day" e "Godzilla" no currículo, possui o domínio técnico das histrionices de seus filmes, mas mostra-se, a cada novo projeto, bem limitado a suas próprias armas dramatúrgicas, ao propor uma história que fundamente os seus efeitos visuais. O filme, como os vários exemplares do gênero, acompanha um família problemática e/ou desestruturada, um personagem profético e esquizofrenico, metáforas políticas primárias e um final solar e esperançoso. Esses são os ingredientes básicos de um filme-catástrofe habitual e Emmerich não parece tentar revertê-lo. Em quase três horas de duração "2012" gravita por esse premissa. Nem preciso dizer que se cortassem uma hora de filme não faria a menor falta. Apesar de alguns ganchos bem sacados aqui e ali (a idéia das arcas é interessante), nem os efeitos (que repito, merecem o Oscar pela inagualável eficiência) são o bastante para salvar o expectador do enfado.
Obs: Sim, o Cristo Redentor aparece, mas em pouquíssimos segundos, mas o mais bacana é que dessa vez, quando se ouve diálogos atribuído aqui, não é espanhol nem português de Portugal e sim a linguagem coloquial brasileira... isso raro quando o cinema americano se propõe a mostrar algo do "Brazil" em seus filmes.



Dica de Música: "Mar e sol" (Gal Costa)

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Pintando imagens...

Hoje em dia parece que é muito difícil um videoclip ainda conseguir nos impressionar, depois das verdadeiras obras de (pop) arte de Madonna, Michael Jackson e Radiohead... Quando o contrário acontece, é justamente por inverter a lógica (estética?) da coisa. A grande banda Coldplay, da qual já falei mais de uma vez neste espaço por ser um admirador perene, apresenta seu último clipe e... nos embasbaca! A tecnologia aqui é tão complementar como a bela canção de seu último e bom cd. O brilhantismo se dá pela quase artesanal criatividade com que o som e imagem se convergem... Um clipe para ficar na História

terça-feira, 24 de novembro de 2009

O problema é a palavra....



Depois de muita expectativa fabricada – uma tendência viral em termos de divulgação cinematográfica – eis que assisto “Besouro”, produção com pretensões Hollywoodianas e temática até bem sacada para a seara usual do cinema brasileiro. Besouro (Ailton Carmo) foi o maior capoeirista de todos os tempos. Um menino que - ao se identificar com o inseto que ao voar desafia as leis da física - desafia ele mesmo as leis do preconceito e da opressão. A sinopse aponta a base principal do filme que, se tecnicamente se impõe, no restante é uma grande decepção. A principal fraqueza da produção é a falta de dramaturgia de sua história, onde não só os personagens, mas as situações são inteiramente unidimensionais. O roteiro se pretende engenhoso, mas revela-se incomodamente complicado e não chega a lugar algum – com grande número de cenas banais. Fazer um filme falando sobre o sincretismo das religiões africanas é uma boa idéia, principalmente pelo material bruto que isso venha a render, mas o filme parece encantado demais com sua própria técnica e seus efeitos internacionais, deixando a trama em segundo plano.
Vale ressaltar que não só as lutas são bem feitas (auxiliadas pelo mesmo coreógrafo chinês que trabalhou em “O tigre e o dragão” e “Kill Bill”), como toda a direção de arte e fotografia são de primeira, com uma qualidade inquestionável.
O estreante João Daniel Tikhomiroff, que dirige o filme, teve até boa intenção ao deslocar o cinema brasileiro para caminhos novos, mas esqueceu que, todo bom filme precisa muito mais do que efeitos especiais mirabolantes e sim uma boa história bem contada. E mais uma vez nosso cinema tropeça no eterno vale das intenções mal ou não realizadas...

Dica de Música: "Canto de Ossanha" (Vinícius de Moraes)

Filtro solar !?



“Confie em mim
Confie em mim
Ponha toda a sua confiança em mim
Você está tomando morfina.”

Esse (agora) revelador trecho da música “Morphine” de Michael Jackson expõe bem a sensação real e metafórica que o esperado documentário “This is it” perpassa a cada segundo na tela.
Nem preciso dizer que a razão do súbito lançamento desse filme, que mostra os bastidores do que seria o grande retorno aos palcos de Michael, é puramente mercantilista. Quase uma moratória de luxo para o prejuízo que essa morte causou (ou causaria?) aos bolsos de seus investidores. Para nós, fãs ou somente espectadores, nos interessa o resultado prático e artístico dos últimos momentos desse genial artista no palco.
Kenny Ortega, craque na direção de musicais, mostra extrema habilidade na condução de seu delicado material, tanto em termos técnicos (com uma edição um tanto competente), quanto em termos de manejo de sensibilidade. Vamos combinar que, excetuando a receita de bolo usual de seus filmes para a Disney, como “High School” e afins, é inegável sua despojada visão artística, para transformar o audiovisual em espetáculo, e foi essa expertise que ele levou para a edição das imagens que tinha.
Diferente do que muitos imaginavam, “This is it” não é um documentário sobre a vida de Michael, apenas um complexo mosaico do que ele era quando seu universo limitava-se a sua própria arte. E o filme é isso. Ali vemos que o frágil e perturbado homem por trás do mito, só encontrava suas razões pessoais em cima de um palco, pois era na ilusão, e isso desde os tempos de espancamento e glória dos “Jackson Five”, que ele encontrava a fuga necessária para sua sobrevivência. Não cabe aqui fazer juízo de valor sobre suas complicações pessoais, até porque o que julgo é o filme e, por mais reflexos que isso traga de uma maneira geral, sua unanimidade era mesmo na arte, pois a vida (por culpa própria ou não) sempre lhe fora bem complicada.
Seria um grande show, em todos os termos. Michael ainda tinha muito a mostrar. Pena que hoje, tudo o que se refere a isso, fica na base do “Se...”. Sendo assim, nem a morfina tem mais o poder remediador que tanto aliviou o astro.



Dica de Música: "Rubi" (Ray Charles)

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Próprios limites

A cinebiografia da famosa estilista Coco Chanel é como imagino que fora a biografada: sóbria, econômica e enigmática. “Coco antes de Chanel” é como o próprio título sugere, um filme que acompanha a vida desta personalidade até tornar-se o grande nome que foi. A diretora francesa Anne Fontaine procurou seguir a cartilha das biografias vigentes, o que trouxe um certo classicismo (com méritos) a história. A última e emblemática cena do filme é a simbiose deste conceito. O que me incomoda um pouco é a sensação de que Anne freou sua energia estética (tão presente em seus filmes anteriores) meio que para situar seu filme no mainstrein cinematográfico atual. O filme carece de certa pulsão para explorar o tal magnetismo de sua protagonista. Não chega a ser fabular, mas a sobriedade estagnou-se na definição de Coco, quando poderia ser usado para justamente ser subvertida. Isso fica claro quando, ao final da sessão, uma sensação de incompletude narrativa toma conta do espectador. Parece que o filme poderia render mais, não traindo àquilo que se propõe, mas por não retratar uma fase de forma mais, digamos, épica. Seria injusto só demonizar a produção já que, dentro de suas limitadas expectativas, a diretora fez um filme com classe e de agradável ambientação. Audrey Tautou imprime a tênue trajetória de ingenuidade e maturidade a que Coco foi submetida após ser deixada em um orfanato com sua irmã. Tautou é segura em suas nuances e transparece isso durante todo o longa.
“Coco antes de Chanel” poderia ter ido além do que se achava capaz, ou pertinente para mostrar. Mas preferiu se abstrair em sua própria embriologia. Coco era até afeita a economia, mas neste caso, a economia é de dimensão.
Dica de Música: "It's amazing" (Jem)

O calibre de ser o que é

Tchekhov não foi nada bobo ao atestar que “a originalidade de um autor depende menos do seu estilo do que da sua maneira de pensar”. E essa é uma verdade ainda mais conveniente ao nos depararmos com a obra singular do cineasta Quentin Tarantino. As justificativas (se necessárias) que versam sobre seu universo se apóiam mais sob sua forma de pensar e ver o mundo do que sob seu tão alardeado estilismo cinematográfico. “Bastardos Inglórios”, seu mais novo filme, só vem para corroborar essa consciência. E para provar que o diretor é uma fonte ininterrupta de referência pertinente à História do cinema.
Mais uma vez, é pelo sentimento de vingança que a criatividade de Tararntino é estimulada. Seus filmes sempre frisam a causa e/ou conseqüência desse viés passional tão humano quanto estranho do outro. Durante a Segunda Guerra, na França ocupada pelo exército alemão, a jovem Shosanna Dreyfus (Mélaine Laurent) testemunha a execução da família pelo coronel nazista Hans Landa (Christoph Waltz). Porém, ela consegue escapar e passa a viver sob a identidade de uma proprietária de cinema em Paris, enquanto aguarda o momento certo para se vingar. Ainda na Europa, o tenente Aldo Raine (Brad Pitt) organiza um grupo de soldados judeus para lutar contra os nazistas. Conhecido pelo inimigo como Os Bastardos, o grupo de Aldo recebe uma nova integrante, a atriz alemã e espiã disfarçada Bridget Von Hammersmark (Diane Kruger), que tem a perigosa missão de chegar até os líderes do Terceiro Reich. Toda a teia narrativa deste universo vem impregnada dos conhecidos maneirismos do autor (capítulos, trilha estilosa, fotografia esquizofrênica...) e é no cruzamento dessas idéias que enxergamos a maestria com que Tarantino domina seu gênero próprio. M aestria essa que não se atém à superficialidade de uma estética, mas sim a firmeza de uma paixão pelo cinema, tão explicitada pelo próprio. A mesma paixão com que os atores entregam-se a seus personagens: Brad Pitt (que me conquista cada vez mais pela versatilidade) se esgueira da caricatura formal de seu papel, conseguindo captar com perfeição “o espírito da coisa” e o então desconhecido ator austríaco Christoph Waltz incendeia cada cena que aparece, com uma precisão tão... européia. Isso sem citar os demais.
Ouvi reclamações (tanto da crítica quanto de alguns amigos) que o filme carece de emoção, sendo tão satírico que bloqueia qualquer tentativa de entrosamento orgânico com o espectador. Tolice. Essa exigência dramática não se sustenta num filme como esse. Mais do que entrosamento, Tarantino quer identificação crítica e, partindo daí, cada espectador absorve o discurso da forma que lhe convém. Aqui referências e reflexões somatizam a hiperatividade criativa e autoral “tarantiana”. Essa embalagem já diz muito sobre a obra e, desculpem os desavisados, sua visão é própria e deliciosamente parcial. Só nos resta comprar ou não o barulho. Eu compro há anos sem precisar solicitar nenhum tipo de troca, e com garantia filosófica de Tchekhov...
Dica de Música: "O calibre" (Paralamas do Sucesso)

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Um certo Jean Charles...

Esta semana fui ao “Projeta Brasil” da rede de cinemas Cinemark, onde vários filmes nacionais com ingressos a $2,00 são disputados a tapa pelos milhares de espectadores. O bacana do projeto é que a renda é revertida para projetos de fomento ao próprio cinema brasileiro. Claro que a sensação esse ano foi o recém lançado “Besouro”, que teve seus ingressos esgotados em poucas horas. Particularmente fui para assistir “A deriva” do Heitor Dhália, “Se nada mais der certo” do Belmonte ou até mesmo alguns documentários. No cinema que eu fui não havia nenhuma dessas opções, predominando os grandes blockbusters da temporada, que eu já tinha visto como “Se eu fosse você 2”, “A mulher invisível” e “Divã”. Até que resolvi assistir a um que ainda não tinha visto; “Jean Charles”, de Henrique Goldman, com Selton Mello vivendo a trágica história do imigrante equivocadamente assassinado por agentes do serviço secreto britânico no metrô de Londres, confundido com um terrorista. A história em si já é impressionante, principalmente quando lembramos que todos os policiais ingleses envolvidos na tragédia foram inocentados pela Corte Inglesa, e o filme é pertinente como análise dos fatos, ainda que romanceados. O diretor e roteirista Henrique Goldman até ensaia um interessante retrato sobre como vivem os imigrantes ilegais na Inglaterra, mas seu filme peca pela superficialidade com que a história é contada. Tanto que, por vezes, parece que a trama de amadurecimento da prima de Jean, vivida pela ótima atriz Vanessa Giácomo, é bem mais instigante que a principal, o que é um erro. O filme se sustenta mesmo pelo impacto do que é baseado. Selton Mello, mais uma vez repete suas gags cênicas, mas é impossível dizer que não esteja bem. O elenco, formado por muitos não-atores, inclusive gente da própria família da vítima, na vida real, é bom e Luís Miranda, comprova que seu talento não se limita a comédia televisiva. “Jean Charles” é um filme bem regular (ainda apresenta defeitos visíveis em seu áudio, remetendo aos antigos problemas técnicos do cinema brasileiro), que deixa a incômoda sensação de que poderia ter sido melhor. Assim como o destino do personagem que o inspirou...
Dica de Música: "Medo" (Lenine)

Museu de grandes novidades...

Ainda existe vida inteligente na engrenagem industrial Hollywoodiana??? De certa forma sim. Assisti ao filme “Distrito 9”, uma produção de Peter “Senhor do Anéis” Jackson, dirigida pelo promissor Neill Blomkamp. Em um mundo fictício, extraterrestes tornam-se refugiados na África do Sul, onde ficam segregados dos humanos em uma área chamada Distrito 9. Após quase 30 anos, porém, as autoridades decidem mudá-los de local, o que gera conflitos. Esqueça tudo o que você já viu sobre “filme de/com alienígenas”, “D9” é mais surpreendente do que a sinopse aparenta. Primeiro pela sensata opção por não basear a trama em alguma cidade americana (até porque nem a própria New York agüenta mais ser atacada por Ets e terroristas), mas sim na conturbada Johanesburgo, maior cidade da África do Sul, onde o filme ganha uma dimensão pertinentemente metafórica, com sua clara alusão aos desígnios da antiga apartheid. Depois pela estética semidocumental que imprime uma sensação de urgência ao tema. Blomkamp consegue, em seu primeiro longa de relevância conjugar a complicada aritmética de unir diversão e reflexão sem cair na armadilha da pretensão ou nas facilidades de um gênero. Seu filme é tão divertido quanto doloroso e nessa intersecção consegue gerar discussão de uma platéia tão adestrada a maneirismos cinematográficos, como a atual. Peter Jackson não foi nada bobo ao bancar o projeto. E sua contribuição técnica é bem evidente – os efeitos são precisos e bem pertinentes. Um amigo disse, ao fim da sessão, que depois de assistir esse filme e “Ensaio sobre a cegueira” acabaria perdendo de vez a esperança na humanidade. Exageros à partes, quando que um blockbuster sobre alienígenas poderia gerar um questionamento desses? Sinal dos tempos? Não, apenas a reafirmação que, muito mais do que Hollywood, existe vida inteligente na nova geração de realizadores mundiais... e com filmes assim, imperdíveis.
Dica de Música: "Cedars Of Lebanon" (U2)

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

25 anos para chegar a Young


E hoje eu completo mais um ano de vida - o segundo neste Blog - e para simbolizar esse feito postei a foto de divulgação de Playboy da escritora, roteirista, apresentadora, atriz... Fernanda Young. Pois é, ela posou para Playboy. E junto com o lançamento de seu mais novo livro "O pau". Sou um confesso admirador dessa figura. Como roteirista verte sua amoralidade em humor, muitas vezes, colérico. Como escritora, possui um profundo inconformismo na elaboração da linguagem de seus textos, e por assim vai. Há um quê de excêntrico em sua obra, o que a destaca em qualquer mídia que se meta ("Irritando Fernanda Young" na GNT é a prova disso), mas essa excentricidade só a torna ainda mais interessante. Com essa atitude positiva a uma revista masculina de grande circulação nacional, fiquei ainda mais fã de sua persona. Vou reproduzir aqui algumas de suas pérolas e justificativas sobre a atual condição de Coelhinha da Playboy. Desculpe, mas eu sou apaixonado por ela... rs.
"Não quero macular o erótico. Meu púbis está devidamente representado. Se não estou mais escancarada, é porque tenho pelos pubianos”

“É claro que já me arrependi de ter feito (a Playboy). Qualquer decisão que você toma já tem o arrependimento. É melhor lidar com o arrependimento do concreto, de ter feito, do que de não ter feito”

“É por vaidade? É por dinheiro? Minha motivação íntima era de fato me vingar. Sofro da síndrome da rejeição. Minha vingança é singela, é infantil. E ele (o marido, o roteirista e publicitário Alechandre Machado) acha curiosíssimo ser casado com uma coelhinha”

“Meus livros são mais reveladores do que isso. ‘O Pau’, ‘Efeito Urano’. Neles sou muito mais verdadeira, íntima, os sentimentos são muito mais verdadeiros no livro do que uma vagina”

“Talvez eu fique com o inveja de mim mesma. Vou ter que lidar com a ideia de que aquela mulher sou eu. Foi um grande momento de feminilidade. Foi tranquilo, não tive timidez nenhuma, a pessoa está lá ganhando dinheiro. Tomei cerveja, mas isso é basicamente a minha realidade. Ficar dois dias nuas, me abriu uma hipotese de nudez que nao conhecia”

É bem a minha cara comemorar o meu aniversário evocando uma personalidade como essa... não chega a ser meu alter-ego, mas àquilo que busco incessantemente: ser eu acima de qualquer circunstância.



Dica de Música: "Meu amor se mudou pra lua" (Paula Toller)

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Marketing é tudo!!!

Todos sabem da minha imensa atração e admiração pelo audiovisual e sua co-relação com a cultura pop. Seja nos filmes de Tarantino, seja na nova literatura cosmopolita japonesa, ou até na música de Lulu Santos, a convergência artística que a contemporaneidade vem suscitando muito me atrai. Essa introdução serve para vocês entenderem a sensação que senti ao assistir a esse vídeo, de uma apresentação do grupo Black Eyes Pead, num especial externo do tradicional programa da Oprah, em Chicago, EUA. Primeiro queria salientar duas observações: a primeira é que nunca fui lá muito fã do grupo, apesar de admirar a miscelânea sonora que é capaz de fazer, dentro de um mesmo contexto eletrônico. Assim também como tenho minhas reservas com a apresentadora americana. Apesar de respeitar sua impressionante história de vida, acho que sua figura se propõe messiânica demais para o meu gosto. Enfim, tudo levava a crer que nem pararia para assistir, mas, pela insistência de um amigo, acabei me deparando com esse vídeo e fiquei impressionado com o poder midiático que vi na tela. É vídeo de uma apresentação do grupo mas totalmente estilizado, passando uma sensação de confluência poucas vezes vistos... em linhas gerais, marketing puro. Tecnicamente perfeito (a edição das cenas é primorosa) a apresentação alia sua pretensão artística (indo de encontro a tendência atual do MOB, visto nas grandes cidades) com sua pretensão comercial. Não a toa já foi visto por milhões de pessoas em todo o mundo, reforçando a divulgação do novo cd do grupo.
Como já disse aqui outras vezes, não sou da linha dos que tem aversão ao eterno imperialismo americano sobre o mundo, muito pelo contrário; acho até que hoje esse raciocínio é um tanto dramático. Mas confesso que fico embasbacado com a força midiática que o país imprime de forma tão corriqueira.



Dica de Música: "Vida fácil" (Cazuza)

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Lula Guevara ???


Assisti ao novo trailer do esperado filme "Lula, o filho do Brasil", cinebiografia de nosso presidente da República. Por razões óbvias, o filme vem sendo muito aguardado e pude ver o quanto, ao ver uma cena interessante: estava no cinema para assistir "Salve Geral", quando passou esse trailer. Eu sou um aficcionado por trailers (isso acaba sempre me rendendo muita dor-de-cabeça com minhas companhias), mas sei que a grande maioria do público nem se importa tanto, aproveitando esse momento para procurar o melhor lugar, ir ao banheiro e afins. Pois bem, na hora que entrou o trailer do filme do Lula, o cinema ficou parado. Não se ouvia um comentário. Impressionante. Ao final, umas espectadoras, (juro) emocionadas, aplaudiram. Um simples trailer! Daí nota-se a força carismática do Presidente influindo até no cinema. Particularmente, sou um entusiasta da figura política de Lula. Não é uma admiração cega, mas simpatizo com seu governo imperfeito (não cabe aqui uma discussão maior sobre o tema). Pelo trailer dá para sentir que o filme será um épico, em tom fabular, com vestígios dramáticos a la “Dois filhos de Francisco”. O diretor, Fabio Barreto, não tem um bom currículo (alguém conseguiu gostar dos horrorosos “Bella Donna” e “A Paixão de Jacobina” ?) e até hoje me pergunto como “O quatrilho” foi indicado ao Oscar de filme estrangeiro. Não que seja ruim, mas não digno de Oscar... Enfim, apesar de tudo, sempre prefiro acreditar que irei me surpreender diante de um novo trabalho (como me surpreendi esse ano com Ron Howard, depois de mais de 20 anos de filmes ruins!) e confesso que o trailer me agradou muito (ajudado pelo talento irrepreensível da Glória Pires, que atua no filme como mãe e primeira esposa do ex-metalúrgico). O filme só estréia em janeiro, mas pelo visto, seu poder de fogo está sendo testado e aprovado desde agora.

Dica de Música: "Admirável gado novo" (Ze Ramalho)

sábado, 17 de outubro de 2009

Quase lá...

Quanto mais a indústria cinematográfica brasileira se desenvolve, mais urgente fica a pluralidade de seus filmes. O lançamento de “Salve Geral” de Sergio Rezende, que usa como pano de fundo a barbárie provocada por uma facção criminosa, no dia das mães, em São Paulo , há três anos, é a prova viva dessa dinâmica. A trama, escrita pelo próprio diretor, com o auxílio da roteirista Patrícia Andrade, narra a odisséia de uma professora de piano que tem o filho adolescente preso depois de um acidente do carro. Na cadeia ele participa de um grupo de presidiários chamado Comando. Lúcia acaba se envolvendo com o cotidiano do filho, além da advogada do Comando transformá-la na peça de um jogo perigoso. Os filmes de Sergio Rezende costumam sofrer do mesmo mal das recentes produções de Martin Scorcese: são grandiloqüentes, mas sem tanta consistência (no caso de Scorcese, com “Os infiltrados” ele fugiu dessa “mal”). Rezende, que tem a carreira marcada pelos filmes históricos, dimensiona muito bem seus projetos na forma, mas desenvolve limitadamente suas narrativas, como vimos em “Guerra de Canudos” e “Zuzu Angel”. Neste seu novo filme é bem perceptível a evolução construtiva em sua trama. Mesmo que o filme não delimite bem o foco central de sua história – é sobre a luta de uma mãe? É sobre o PCC paulista? – a realização final é bem alinhavada e, diferente do que tem sido acusado, não faz apologia parcial a nenhum lado, mas procura deixar os eventos falarem por si. Apesar da trama correta, o roteiro comete um erro grotesco: em determinado momento o foco principal da protagonista é desviado inexplicavelmente e surge um gratuito romance com um preso, que nada acrescenta a lógica do filme. É um porém tão absurdo que compromete o todo. Andréia Beltrão, mais uma vez, demonstra competência, aproveitando cada nuance de suas cenas, assim como a atriz Denise Weinberg, que antagoniza com Andréia, nas melhores cenas do filme.
“Salve Geral” foi lançado com a badalação de ter sido o escolhido do país para representar o nosso cinema no Oscar. Simpatizo com o filme mas discordo totalmente da escolha, pois é uma produção apenas correta. “Se nada mais der certo” do Belmonte, seria a melhor escolha. Enfim, ao fim do filme senti um a sensação de cansaço, não pelo filme em si, mas pelo gênero que, há muito tempo, já vem dando sinais reais de esgotamento. E não é sempre que teremos um Fernando Meirelles para estimular a estética social do país pelo cinema.
Dica de Música: "O caminho do bem" (Tim Maia)

Jazz na puberdade

Não sei se pela minha forte verve jornalística, mas tenho uma mania de, quando gosto de determinado som, querer destrinchar TODA a carreira discográfica dele. Parece que isso ajudaria a compreender a suposta genialidade da coisa. Às vezes me decepciono, como quando me desencantei com a (pequeníssima) obra do Arctic Monkey ou percebi que não era tão fã do Barão Vermelho como pensava (ainda que continue achando uma das melhores bandas de rock nacional, pena terem limitado sua produtividade relevante aos anos 80). No momento estou “investigando” todos os discos da cantora americana Tracy Chapman. Que talento tem essa mulher. Engraçado que já estou indo para o quarto cd dela e, ainda que, disco após disco, ela mantenha certa uniformidade sonora, suas músicas conseguem passar por uma surpreendente renovação melódica. Mas isso fica para um futuro post só sobre ela. Atualmente estou encantado com a obra do cantor inglês Jamie Cullum. Sua discografia também é bem pequena, mas irrepreensível. Seu primeiro cd foi “Pointless nostalgic”, em 2002 e o último – que fez relativo sucesso no Brasil – “Catching Tales”, três anos depois. Cullum, que também é pianista, se notabilizou pela singular roupagem pop que dá ao jazz em suas músicas. Seu repertório é cheio de standarts, mas diferente de Michael Bublé (cantor canadense que até simpatizo, mas mais condescendente ao gênero) personaliza os grandes clássicos que canta. Sua própria voz – charmosamente suja e rascante – contribui para esse paradoxo sonoro de suas roupagens. Engraçado que, ouvindo qualquer uma de suas músicas, logo somos remetidos as luzes cosmopolitas de New York ou ao som de uma lareira londrina a dois. Experimente ouvir as ótimas “My Yard”, “Mind Trick”, “All at Sea”, dentre outras. Atestamos a qualidade de um artista justamente quando sua arte consegue nos fazer suscitar sensações, de Villa Lobos a Radiohead é assim. O cantor, que praticamente lançou um disco por ano, desde que surgiu, está há mais de 4 sem lançar discos. Há uns dois anos o cantor esteve no Brasil e fez um animadíssimo show na Sala Cecília Meirelles, no Rio. Pelas críticas dos jornais na época, lembro que sua performance no palco foi muito elogiada por sua convergência personalista. Aí pude confirmar que seu entusiasmo artístico não se limita a um formato sonoro, pois seu talento por si só, é justificável.


Dica de Música: “High and Dry” (o próprio!)

Lente da verdade

Filmes que se propõem a mostrar um importante fato político do mundo são sempre interessantes e perigosos. Temos vários exemplos (bons e ruins) em toda a história do cinema e notamos que a arte usada como painel demonstrativo de uma era, pode ter efeitos geracionais bem pertinentes. Dos mais recentes, eu destacaria o trabalho genial de Spielberg em “Munique” (2005), onde remontou os acontecimentos posteriores ao seqüestro e assassinato de 11 atletas israelenses durante os Jogos Olímpicos de Munique de 1972. Além de provar a dimensão de seu talento como cineasta, Spielberg conseguiu imprimir uma discussão perene sobre as complexidades do terrorismo no Oriente Médio.
Assisti recentemente ao filme “Todos os homens do presidente”, do diretor Alan J. Pakula, lançado em 1976. Carl Bernstein (Dustin Hoffman) e Bob Woodward (Robert Redford), jornalistas do Washington Post, investigam a invasão da sede do Partido Democrata, ocorrida durante a campanha presidencial dos EUA, em 1972. O trabalho acabou sendo um dos principais motivos da renúncia do presidente Richard Nixon, do Partido Republicano, em 1974. Foi o famoso escândalo de Watergate. A trama remete ao recente “Frost/Nixon”, trabalho surpreendente do (burocrático) diretor Ron Howard.
“All the President's Men” (nome original), é literalmente uma investigação dramatúrgica daquele fato tão polêmico na política americana, pois Pakula conduz uma direção quase documental para nos fazer entender cada meandro das motivações e revelações do caso Watergate. Se já é ótimo como documento histórico, o filme ainda levanta discussão sobre a relação homem e poder, por um âmbito público. A produção se insere na ótima safra de filmes políticos da década de 70, e possui todos os maneirismos da época.
Se a História for sempre justificada pelo prisma da sétima arte, pelo menos a discussão em massa estará assegurada.
Dica de Música: "Um móbile no furacão" (Paulinho Moska)

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Beleza põe cinema!

O cinema por vezes é utilizado como veículo egóico para algumas celebridades. No passado, muitos diretores, fascinados e até apaixonados, verteram em filmes o desejo pela atriz Marilyn Monroe, ainda que fossem veículos de muita qualidade. Aqui no Brasil, temos exemplos que vão desde as chanchadas eróticas setentistas até o exercício de vaidade fílmica dos infantis da Xuxa. Assistindo ao filme “Jogando com prazer”, dirigido por David Mackenzie, refleti muito sobre isso, já que a produção – mediana - me pareceu uma ode ao charme do ator Ashton Kutcher. E só. A trama acompanha o bom vivant Nikki que passa os dias e as noites na farra, curtindo Los Angeles rodeado de mulheres. Porém, ao encontrar Heather, uma sedutora garçonete, sua vida vira de ponta cabeça. A idéia remete muito o filme “Gigolô americano”, que projetou a carreira de Richard Gere nos anos 80. Ambos buscam evocar um narcisismo falso, para desmontá-lo previsivelmente. Kutcher não tem um talento tão potente quanto seu charme, daí compõe seu personagem limitadamente. A direção até tenta estilizar a premissa – a nível erótico é bem alto, ainda que sejam cenas bem pasteurizadas – mas o filme sofre de certo artificialismo que prejudica sua credibilidade. Justifico a alcunha de mediano pelo carisma com que o protagonista prende a nossa atenção, mas não vai marcar uma década como o gigolô libidinoso de Gere.
Dica de Música: "Secret" (Madonna)

Hepburn e a serra elétrica...

Pavor e glamour. Essa semana senti bem essas duas sensações (!?) ao assistir a dois filmes antigos em DVD. Primeiro assisti ao clássico do terror “O massacre da serra elétrica”, a versão original e não o remake teen de 2003. Todos sabem que o filme é baseado numa macabra história real, e talvez isso só alimente a eficácia da trama que, em tom etéreo e preciso tortura o espectador pela insanidade ininterrupta em pouco mais de uma hora de projeção. Não vi o remake citado, mas a versão original dificilmente será superada.
Num universo totalmente oposto, assisti também a outro clássico, mas desta vez menos underground: “Bonequinha de luxo”, filme-simbólo da atriz Audrey Hepburn. Baseado no livro de Truman Capote, a produção compensa em glamour (no sentido imagético da coisa) a sua camuflagem social da história original, onde a protagonista é uma prostituta de luxo e o galã (vivido pelo ator George Peppard) é homossexual. Claro que para época (1961) era um tanto subversivo levar o livro ao pé da letra, o que acabou por adocicar demais a história, onde tudo é muito implícito. É um filme leve, e o charme de Hepburn é um fator de extrema importância para sua relevância: a cena dela cantando “Moon river” é deliciosa. No geral, se peca pelo conservadorismo, se redime por nos transportar a ilusória cosmética do “american way of life”.

Acabei de ler “Vastas emoções e pensamentos imperfeitos” de Rubem Fonseca. Mais um livro vigoroso do autor, ainda que aquém de suas obras-primas, como “Agosto” e “O caso Morel”, este, que li recentemente. Rubem procura relativizar o poder da imaginação na vida prática de um indivíduo, com um mosaico de personagens interessantíssimos. Recomendo desde já este livro, cheio de expectativas para o lançamento de seu próximo projeto, em nova editora, a Agir, programado para novembro.
Dica de Música: "Dois pra lá, dois pra cá" (Elis Regina)

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Congratulações!!!

Hoje nosso Blog completa 1 ano de vida (!). E o mais bacana é que em pouquíssimo tempo, esse espaço me trouxe muita satisfação e reconhecimento, tendo repercussão até na mídia. O Blog foi criado basicamente para expressar minha visão sobre aquilo que mais me desafia, a arte, principalmente o cinema. Só não sabia da dimensão que isso ganharia. Brecht dizia que todas as artes contribuem para a maior de todas as artes, a arte de viver. O sempre interessante Oscar Wilde afirmava que “a arte é a forma mais intensa de individualismo que o mundo conhece”. De Picasso vem o veredicto que "A arte é a mentira que nos permite conhecer a verdade."
A foto que ilustra esse post é do clássico “Noites de Cabíria” de Fellini (com a maravilhosa atriz italiana Giulietta Masina), uma obra-prima, que considero o meu “Cidadão Kane”, já que é o filme da minha vida, seja pelo contexto ilusório, seja pela força cinematográfica que exerce
Então, vida longa a esse espaço e um “Muito Obrigado!” pela fidelização que muitos leitores dispensam ao que tenho a dizer.

"A arte vence a monotonia das coisas assim como a esperança vence a monotonia dos dias." (Gilbert Keith Chesterton)

Dica de Música: “Floresta do Amazonas” (Heitor Villa-Lobos)

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Razão e/ou emoção



E, como de praxe, já começam a pipocar na imprensa especializada, os prováveis indicados ao maior prêmio do cinema americano, o Oscar 2010, que ano que vem virá com a novidade de ter 10, e não 5, filmes indicados. “Nine”, musical de Rob Marshall, já comentado aqui no blog, é um dos que, certamente estarão no páreo. Assim como o novo filme dos irmãos Cohen “A Serious Man”. Tem também os novos filmes de Scorcese, Clint Eastwood (que sempre aguardo ansioso) e Jane Campion. Mas dentre as várias especulações alimentadas, destaco o novo filme do ótimo diretor Joe Wright, “O solista” (trailer abaixo). Há tempos que venho prestando atenção no trabalho deste cineasta, que se notabilizou pela forma lúcida com que submergiu do universo romântico de Jane Austen, em seu belo filme “Orgulho e preconceito”. A forma como ele filmou as intempéries sentimentais da autora inglesa, foi de uma beleza (e destreza) pouco vistas no cinema recente. Dois anos depois, em 2007, ainda em uma adaptação literária, só que dessa vez baseada em romance do colérico autor americano Ian McEwan, Joe consagra-se com sua obra-prima “Atonement”, ou “Desejo e reparação” (foto acima). Considero esse um dos melhores filmes já feitos, pela perfeita absorção do discurso literário adaptado, pelo paradoxo estético que evoca, quando confronta o classicismo da trama com sua estrutura não-linear e pela sincera maneira de nos fazer refletir e nos emocionar, sem valer de recursos fáceis de persuasão. O filme é uma fábula sobre o verbo reparar e o peso de suas conseqüências. O cineasta emoldura isso de forma tão entusiasmada e surpreendente que fica difícil enquadrar a produção em algum nicho específico, mas fica fácil sentir a sensação de que na vida, nem sempre são escolhas próprias que ditam um caminho. McEwan professou em letras e o competente diretor conseguiu dar a melhor forma ao conflito veemente que o discurso suscita.
Pautado nisso, que estou muito curioso para assistir a seu novo filme, que é baseado em fatos reais, sobre o redentor poder da música. Na história, o jornalista Steve Lopez (Robert Downey Jr.) descobre por acaso a existência de Nathaniel Anthony Ayers (Jamie Foxx), um ex-estudante da universidade Julliard e prodígio em música clássica, que agora se vê na condição de sem-teto e passa os dias tocando violino e violoncelo nas ruas de Los Angeles. Promete ser um drama daqueles apoteóticos, que nas mãos de muitos outros diretores cairiam no dramalhão, mas com Wright creio que toda a lágrima será justificada.



Dica de Música: "Maria de Verdade" (Marisa Monte)

Aula austríaca.

O cinema europeu, e sua dimensão formal, sempre nos dão a sensação de que a lente daquela região consegue captar intrinsecamente melhor o ser humano, do que o de qualquer outra parte do mundo. Trata-se de uma sensação e cabe aqui uma porção de retóricas. Assisti recentemente o filme “A professora de piano”, do diretor austríaco, recém premiado em Cannes (por “A fita branca”) Michael Haneke. A trama gira em torno de uma professora de piano amargurada e solitária, suas relações doentias com a mãe, os alunos e um potencial amante. O diretor, de cinematografia marcada pela forma como delimita e expõe os extremos das pessoas, usa de brava sutileza para nos fazer acompanhar a mente conflituosa da protagonista, vivida com coragem pela atriz Isabelle Huppert. Seus ímpetos não são claramente justificáveis, mas é justamente nesta busca por compreensão que a trama se impõe. É um filme incomum, até na própria seara européia atual, onde o personalismo vem falando mais alto que o discurso em si. Haneke dirige cenas tão intensas quanto incômodas, e entrega um final arrepiante de bonito e intrigante. “A professora de piano” é um filme de 2001 que, pelo jeito, custei a descobrir, mas a noção de que o cinema europeu ainda nos desafia será sempre atualizada.

Dica de Música: "Here with me" (Dido)

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Em cima, em baixo, puxa e vai...

E o Rio, que amanheceu com um céu cinematográfico de lindo, depois de dias de chuvas, foi o escolhido para sede das Olimpíadas de 2016. Fiquei felizaço e torci de verdade. Claro que sei que o país precisa de muito mais que uma galhofa esportiva, mas tenho ciência de que isto tratá para o Brasil em levante desenvolvimentista comparados aos anos JK. É só nisso que penso, além da honra de saber que somos primeiro país sul-americano sede dos jogos (aguenta essa, Buenos Aires!). O lobby feito foi perfeito - o discurso do Lula foi um exemplo de esperto diálogo diplomático - e os clipes, dirigidos pelo fera Fernando Meirelles, são obras-prima. Desculpem, mas nessa hora não dá para disfarçar o bairrismo...



Dica de Música: "Samba do avião" (Milton Nascimento e Jobim Trio)

terça-feira, 29 de setembro de 2009

No país de Burton...


Já há algum tempo saiu o primeiro trailer da versão de Tim Burton para o clássico “Alice no país das maravilhas”. Para quem é fã da obra de Burton (no meu caso, uma paixão infantil com a obra-prima “Edward Mãos-de-tesoura”) já imagina a visão cruelmente lisérgica que o cineasta costuma extrair de seus filmes. Sua adaptação de “A fantástica fábrica de chocolate” se notabilizou por verter uma fábula infantil em alegoria (e põe alegoria nisso) da perversidade humana. A exceção de “Planeta dos macacos”. 2001, sua filmografia mostra-se eficiente em ilustrar com tintas fortes (e, por vezes, macabras) seus discursos travestidos de fantasias lúdicas. Em seu último filme, o elogiado “Sweeney Todd” isso foi muito levado a sério. Agora, com a conhecida história de “Alice”, que suscita discussões em todas as recentes gerações, espera-se que Burton comprove, mais uma vez, que sua noção de idílico é muito mais complexa do que pensamos. Jhonny Depp, que é seu ator-assinatura, marcará presença como o excêntrico Chapeleiro louco. Está montado o circo para mais um espetáculo (não só) visual, que nos ganha, pela suntuosidade e pela reflexão que provoca.

Dica de Música: "A Man and A Woman" (U2)

Contigo!

Tenho poucos, mas participativos, leitores habituais que me cobram (via email) comentários de determinados filmes, séries e músicas. Queria aproveitar o espaço para agradecer demais o prestígio, principalmente agora, que o blog completará 1 ano de existência, no dia 08 de outubro. Tenho recebido “reclamações” de que pouco comento sobre a programação de TV aberta, em especial as novelas. Bem, novela é um gênero em que estou mais culturalmente habituado a assistir (como todo brasileiro), do que dizer que gosto de verdade. Na real, o que sempre me incomodou é a duração de um programa dramatúrgico como esse, e certo superficialismo, sempre presente em suas histórias. Tirando as inteligentes tramas de Gilberto Braga, do qual sou devoto confesso, nem lembro bem qual foi a última novela que eu acompanhei com regularidade. Acho que foi “O clone”, de 2001, ou seja, quase dez anos atrás.
Apesar de superior a qualquer produto do gênero no mundo, as novelas brasileiras, em sua maioria, ainda rezam pela cartilha primária do conservadorismo e do clichê. Aliás, clichê é algo que se trabalha, não necessariamente se combate, afinal, você se lembra de algum filme incensado, que não tenha seu pezinho no clichê? São pouquíssimos e, que eu me lembre, diria que “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”, “Laranja mecânica” e “2001: Uma odisséia no espaço”. Estes últimos são obras do cineasta Stanley Kubrick, que se notabilizou pela estética singular, mas em vários outros filmes seus como “O iluminado” e “De olhos bem fechados”, o clichê existe e é trabalhado no todo.
Dos principais autores de novelas que estão aí, destaco alguns: a coragem de Glória Perez em criar universos que saem do conforto do gênero, e interagem com o melodrama de forma eficaz. Li recentemente uma entrevista dela na “Trip” onde dizia que não há limites para a imaginação, ao criar uma história. Por mais questionável que seja esse raciocínio (que exime a noção de lógica, numa ficção) eu a acho primordial para a manutenção das novelas, ao longo dos anos. Falar sobre barriga de aluguel, internet, clonagem humana e culturas distintas, numa época em que esses assuntos praticamente inexistiam, e com um domínio, pelo menos argumentativo da coisa, é de se admirar. “O clone”, para mim, é sua novela mais perfeita, principalmente por conseguir tratar e mesclar temas tão delicados e ainda manter-se fiel a seus princípios artísticos.


Manuel Carlos, que agora está no ar com “Viver a vida” é outro autor notável, principalmente pela qualidade de seus diálogos. Pela forma como substancializa o cotidiano, poderia ser comparado a um Woody Allen, só que com mais sacarose. Seu único defeito é deixar suas (boas) histórias soltas demais na narrativa, tanto que, invariavelmente, os finais de suas novelas são decepcionantes (a questão ética do julgamento sobre a guarda de uma criança com síndrome de Down, em sua última novela, foi grosseiramente mal discutida).
Sílvio de Abreu (da antológica “A próxima vítima”) é um autor que bebe bastante da fonte da sétima arte em suas novelas, até porque ele veio do cinema. Nem sempre essa convergência é bem sucedida, mas o cara sabe alimentar um thriller de respeito nas histórias que cria.
E, por último, quem melhor sabe verter para o melodrama as complexidades humanas e sociais do país, Gilberto Braga. Suas novelas nunca decepcionam. Ninguém escreve com um nível de inteligência e amoralidade como ele. Sua visão irônica do indivíduo e seu meio, remetem a Oscar Wilde. Critica a burguesia com tamanha propriedade por fazer parte dela (nisso espelha-se a Balzac, que tanto gosta) e ainda debocha dos assistencialismos sociais de um país que adora se fazer vítima de si mesmo. Sempre falo do autor, pois sua obra é a única hoje, em linhas gerais, a fazer frente ao nível de teledramaturgias mundo afora. "Vale tudo", para mim, é uma obra-prima. Sua premissa (tão conveniente na época, em pleno período pós-ditadura) sobre o caráter, foi de uma riqueza pouco vista na TV. Não à toa, suas novelas são sempre admiradas pela intelectualidade nacional (a novela “Celebridade” foi a única a ganhar matéria na sisuda revista “Bravo”) e pela classe, verdadeiramente, artística. Já fiz um post inteiro neste blog, apontando as divergências da programações de TVs do primeiro e terceiro mundos. Essa atual análise é um fator que dimensiona aquele cenário que descrevi. O gênero novela já é complicado, pela duração excessiva e pelo ritmo industrial em que é feita, então, para que possamos gastar nosso precioso tempo assistindo-as tem que, no mínino, não brincar com nossa inteligência. Pena que só alguns poucos, têm consciência disso.



Dica de Música: "Faz parte do meu show" (Cazuza)




segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Best Mad !!!

A premiação do Emmy, mais uma vez reconheceu o nível qualitativo da série "Mad Men" e premiou-a, pela segunda vez consecutiva, como a melhor série dramática de 2009. Ainda não tive oportunidade de falar desta série, realmente muito boa, pois ainda estou acompanhado o fim de sua primeira temporada, mas trata-se de um trabalho maravilhoso que destrincha o universo publicitário dos EUA na década de 60. O mote de mostrar as transformações sociais americanas, em pleno "american way of life" serve para compreendermos bem a cultura pseudo-conservadora que o país externa até hoje. Um trabalho inteligente e preciso de auto-análise.
Para série cômica, venceu mais uma vez "30Rock", que realmente é uma série divertidíssima - primordial a persona de Tina Fey no elenco - mas talvez não tenha muita força por aqui, devido ao fato de suas piadas serem melhores compreendidas em seu próprio território. Mas eu gosto bastante também.
Gleen Coose, ganhando por "Damages" era quase hour-concours. Aliás "Damages" é a minha série favorita nunca vista... sério, é que mesmo sem ter acompanhado muito virei fã. Mas já consertarei essa esquisitice. Aquele universo cruel dos advogados americanos, protagonizado por uma pérfida Gleen Coose, não tem como ser ruim. Outra barbada foi o prêmio para Michael Emmerson por "Lost", pois o cara é arrepiante.
Uma premiação sem grandes surpresas mas comprovando a maestria dramatúrgica do império americano.
Dica de Música: "Acontecimentos" (Marina Lima)