sábado, 17 de outubro de 2009

Quase lá...

Quanto mais a indústria cinematográfica brasileira se desenvolve, mais urgente fica a pluralidade de seus filmes. O lançamento de “Salve Geral” de Sergio Rezende, que usa como pano de fundo a barbárie provocada por uma facção criminosa, no dia das mães, em São Paulo , há três anos, é a prova viva dessa dinâmica. A trama, escrita pelo próprio diretor, com o auxílio da roteirista Patrícia Andrade, narra a odisséia de uma professora de piano que tem o filho adolescente preso depois de um acidente do carro. Na cadeia ele participa de um grupo de presidiários chamado Comando. Lúcia acaba se envolvendo com o cotidiano do filho, além da advogada do Comando transformá-la na peça de um jogo perigoso. Os filmes de Sergio Rezende costumam sofrer do mesmo mal das recentes produções de Martin Scorcese: são grandiloqüentes, mas sem tanta consistência (no caso de Scorcese, com “Os infiltrados” ele fugiu dessa “mal”). Rezende, que tem a carreira marcada pelos filmes históricos, dimensiona muito bem seus projetos na forma, mas desenvolve limitadamente suas narrativas, como vimos em “Guerra de Canudos” e “Zuzu Angel”. Neste seu novo filme é bem perceptível a evolução construtiva em sua trama. Mesmo que o filme não delimite bem o foco central de sua história – é sobre a luta de uma mãe? É sobre o PCC paulista? – a realização final é bem alinhavada e, diferente do que tem sido acusado, não faz apologia parcial a nenhum lado, mas procura deixar os eventos falarem por si. Apesar da trama correta, o roteiro comete um erro grotesco: em determinado momento o foco principal da protagonista é desviado inexplicavelmente e surge um gratuito romance com um preso, que nada acrescenta a lógica do filme. É um porém tão absurdo que compromete o todo. Andréia Beltrão, mais uma vez, demonstra competência, aproveitando cada nuance de suas cenas, assim como a atriz Denise Weinberg, que antagoniza com Andréia, nas melhores cenas do filme.
“Salve Geral” foi lançado com a badalação de ter sido o escolhido do país para representar o nosso cinema no Oscar. Simpatizo com o filme mas discordo totalmente da escolha, pois é uma produção apenas correta. “Se nada mais der certo” do Belmonte, seria a melhor escolha. Enfim, ao fim do filme senti um a sensação de cansaço, não pelo filme em si, mas pelo gênero que, há muito tempo, já vem dando sinais reais de esgotamento. E não é sempre que teremos um Fernando Meirelles para estimular a estética social do país pelo cinema.
Dica de Música: "O caminho do bem" (Tim Maia)

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