
O filósofo alemão Walter Benjamin tem uma frase que gosto bastante, que diz que “a construção da vida encontra-se mais em poder dos fatos do que das convicções”, e por mais que tenha a consciência de que não é por uma ação dramatizada que se compreende um homem, digo que o filme se coloca como metáfora para figura, um tanto controversa, de nosso presidente. Primeiramente gostaria de dizer que não compactuo com essa corrente que defende o filme como uma arma política para a campanha presidencial de 2010. Até porque se fosse usado para o isso, o filme não seria o mais apropriado. Mais forte do que uma suposta produção cinematográfica panfletária é a popularidade impressionante de Lula, que beira os inéditos 70% de aprovação. Quanto a esse fato não há argumento. Se formos olhar a influência, digamos, estética do filme, os votos seriam vertidos para a candidata do PV, Marina Silva (pela leve similaridade de trajetória), e não para Dilma Rousseff. E quando se discute o momento, dito não apropriado ao lançamento do filme, uma vez que o personagem ainda está vivo e na presidência, não sejamos ingênuos. O filme foi pensado e produzido por empresas privadas, que visam o lucro. A política aqui é retratada, e não rechaçada.

O desconhecido ator Rui Ricardo Dias incorpora com precisão seu Lula, sem se importar com as caricaturas que o mesmo suscite em humorísticos. Juliana Baroni, dando vida à primeira-dama Marisa Letícia, brilha em suas breves cenas, assim como os atores que cobrem a infância do presidente. Mas a grande presença é mesmo da arrepiante atriz Glória Pires que, em um ano produtivo no cinema (brilhou em “Se eu fosse você 2” e agora ganhou prêmio inédito de melhor atriz no sisudo Festival de Brasília com “É proibido fumar”), rouba todas as cenas como a mãe do presidente, que é o grande esteio dramático da história. Além de compor uma nordestina com inteligência, comprova sua entrega e experiência ao audiovisual dominando todos os desafios cênicos de sua personagem.
Destaco também a linda trilha instrumental de Antonio Pinto e Jaques Morellembaum, que age como complemento atmosférico às catarses que o diretor propõe, com uma presença entre o intimista e o espetacular.
Quando disse que o filme é uma metáfora de seu protagonista é justamente por conotar suas imperfeições pois como o próprio Lula, o filme é cheio de fragilidades, mas nos ganha pelo carisma e espontaneidade com que nos emociona. A última cena reverbera a sensação de ambigüidade que futuro trouxe, ainda que o presente não descaracterize o passado de forma totalitária. A vida real é mesmo bem mais complexa, mas ainda assim Benjamin tinha razão: fatos sobrepõem-se a convicções.

Dica de Música: "Roda Viva" (Chico Buarque)
2 comentários:
Posso dizer que não vi nenhum dos filmes do Fábio Barreto, mas esse eu quero realmente ver, e sua crítica me deixou mais empolgado! =)
Faça isso que é a melhor porta de entrada para a irregular filmografia dele. Só não se assuste depois...rs!
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