sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Pérola aos cinemas


Existe vida inteligente no cinema brasileiro. E quando afirmo é pelo fato de que há uma predominância entre dois extremos recorrentes nas produções nacionais: os medíocres ou os que seguem fórmulas, ainda que este último por vezes consiga romper o estigma demeritório. O filmaço “É proibido fumar”, segundo filme da cineasta Anna Muylaert, consegue manter-se a parte desses paradigmas pela dignidade com que sua trama é levada a tela. O filme fala de personagens que estão a margem e confronta justamente essa condição com seus próprios universos e é daí que parte o grande valor do belo roteiro da própria diretora. Baby, personagem de Glória Pires, é uma professora de violão, romântica e solitária, que deseja viver uma grande paixão. Coma mudança de Max (Paulo Miklos), um músico de bar recém separado, para o apartamento ao lado, Baby vê a chance de realizar seu sonho. Para conquistá-lo, ela faz um grande sacrifício e abandona seu antigo companheiro, o cigarro.
Muylaert dimensiona os conflitos internos e externos de seus personagens com economia, deixando que falem sobre si sem tornar seu discurso didático ou tendencioso. O intimismo é preponderante para que nos identifiquemos com os personagens, sem juízos de valor pré-estabelecidos. Esse resultado é conseguido graças ao tom observador que a diretora joga sobre sua história, daí, assim como os símbolos metafóricos que filme nos joga, parece que estamos olhando para aquele casal pelo buraco de um olho mágico de uma porta caseira. Mais uma vez a atriz Glória Pires entrega uma atuação muito inteligente e orgânica, provando sua versatilidade em qualquer universo audiovisual. Numa das cenas mais arrepiantes do filme, a personagem, transtornada por saber que está sendo traída, quebra sua longa abstinência do tabaco, com um grito de “foda-se” tão verdadeiro, que o público sente a mesma sensação de alívio e desespero da tela. É um trabalho de mestre de uma atriz tão talentosa como Glória. Miklos, que cada vez mais tem atuado em bons filmes como “O invasor” de Beto Brant, também é muito bom e consegue uma química interessante com a atriz.
“É proibido fumar” é um filme pequeno em estrutura e distribuição (uma grande pena!) mas gigante no panorama artístico de nosso cinema. Diria que é um dos melhores filmes que já vi, seja pelo enfoque desmitificado de uma classe média tão característica de nosso país, seja pelo fato de levar a sério sua condição de Cinema, em uma seara tão complicada. Isso porque é apenas o segundo filme de Muylaert, então, que venham os próximos.

Dica de Música: “Taj Mahal” (Jorge Benjor)

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