terça-feira, 25 de agosto de 2009

Sexo pós - 2000


A falta de regularidade com que vou ao teatro é vergonhosa. Sério. Seja por grana, por (falta de) tempo ou qualquer outro motivo, sempre acabo indo mais ao cinema do que o teatro (por que será?), ainda que goste demais deste tipo de arte. Domingo fui ao SESC Copacabana assistir a peça “Ménage”, primeira peça dirigida pela vj Marina Person (que apresenta dois dos três melhores programas da MTV: “Top Top” e “MTV +”). Confesso que nem foi essa a razão de minha ida ao teatro, talvez o ingresso mais em conta... A peça ilustra, através de três textos curtos (“Rex” de Joe Pintauro; “Tudo bem” de David Ives e “Fogo” do paulistano Guilherme Solari) uma radiografia espirituosa das relações na era moderna. Cada texto – os dois primeiros de autores norte-americanos e o último daqui – remonta e desmonta as idiossincrasias que os relacionamentos contemporâneos expõem. A peça, encenada num espaço multiuso, é bem arejada e consegue se comunicar de forma bem interessante com o público. Domingas Person – que vem a ser irmã da diretora – e Ivo Müller, que interpretam o casal chave do discurso, demonstram carisma ao dar organicidade a caricatura temporal do texto. O cenário funcional e os figurinos (bem sacados de Rita Wainer) abrilhantam ainda mais a produção, que ganha muito com a áurea pop que Marina difunde em sua direção de estréia. Uma boa surpresa paulista no cenário carioca. Recomendadíssimo.

Dica de Música: "Come on closer" (Jem)

(I)maturidade


Em uma franquia cinematográfica fica muito difícil alinhar um nível qualitativo a cada filme lançado. “Star Wars” e “Jogos Mortais” estão aí para comprovar, e agora “Harry Potter e o enigma do príncipe”, sexto filme da saga literária criada pela inglesa J.K. Rowling vem para reforçar esse estigma. A trajetória destas adaptações são bem tortuosas, começando com o didatismo pueril dos primeiros filmes de Chris Columbus, alcançando a maestria no sombrio e maduro “Prisioneiro de Azkaban” com a direção latina de Alfonso Cuarón, caindo na entropia “low profile” com o diretor britânico Mike Newell em “Harry Potter e o cálice de fogo” e chegando aos dois últimos filmes, já dirigidos pelo desconhecido David Yates: o bom “a Ordem de Fênix” e este novo filme. Yates, com larga experiência na direção de clipes e comerciais, fez uma boa estréia no filme anterior, onde equilibrou bem o andamento da história com a ação proposta no livro de origem, mas neste novo capítulo da superprodução, parece que sua vitalidade no manejo daquele universo perdeu o fôlego. Ao tentar equacionar os meandros da puberdade do bruxinho e cia, com sua fase mais perturbadora (e concomitante com seu destino), a direção perde-se em suas próprias pretensões. Até as cenas mais clássicas da franquia, como o espetáculo visual que o jogo de quadriball rende, soa deslocado demais. Assim como dois dos momentos mais esperados deste sexto filme: a morte de um importante personagem, que quando ocorre, já estamos cansados demais para termos alguma reação emotiva, e a justificativa do subtítulo, que de tão anticlimático, quase nem percebemos que se passou. Não que o filme não tenha cenas que valham a pena, mas são extremamente sazonais e a sua excessiva duração é sentida a cada minuto.
A crítica e os ardorosos fãs se dividiram na avaliação do longa. Como nunca li nenhum dos sete livros, só me atenho as suas adaptações para o cinema. Yates dirigirá os outros dois últimos filmes e creio que por optar por dividir o último livro em dois, a coisa funcione melhor. No momento. “Harry Potter e o enigma do príncipe” foi mais didatismo e (muito) menos fantasia. Parece trabalho de “trouxa”.

Dica de Música: "Via láctea" (Legião Urbana)

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Pixote ?


Já havia mencionado mais de uma vez, aqui neste espaço, a minha relação de amor e ódio com o oscarizado filme “Quem quer ser milionário?”. E após assistir ao filme “O contador de histórias” do diretor Luiz Villaça, confirmei o viés de ambigüidade desconcertante do filme americano, sensação deste ano. “O contador de histórias”, que conta a jornada dramática de Roberto Carlos Ramos, ex-menor de rua, que encontra sua redenção social ao encontrar uma francesa, é uma bela surpresa por dois grandes motivos: primeiro, pelo trabalho maduro de Villaça após o apático “Cristina quer casar”; depois pela extrema sinceridade com que o filme destila crítica e lirismo na tela. Nascido nos anos 1970 em Belo Horizonte , Roberto era o caçula de uma família pobre com muitos filhos. Entregue à Febem (Fundação para o Bem-Estar do Menor) pela mãe, pessoa simples que acreditava que ele teria um futuro melhor ali dentro, encarou o abandono e a violência, que no seu caso incluiu espancamentos e até estupro. O diretor demonstra habilidade ao dar concisão fabular a sua trama. Ainda que, em alguns momentos o filme caminhe por trilhas burocráticas (fazendo lembrar seu filme anterior), o todo consegue suscitar no espectador quase o mesmo efeito ilusório do comercial da Febem, retratado no filme. O ponto alto é a escalação do elenco. Os jovens Marcos Antônio Ribeiro e Paulinho Mendes, que dão vida ao protagonista na infância, imprimem a graça que o personagem pede para os fatos ocorridos. E a atriz luso-francesa Maria de Medeiros (que arrebentou em “Pulp Fiction” de Tarantino) é delicadíssima em sua incorporação. Esse casamento entre o lúdico e o social, bem característico da realidade brasileira, torna o filme mais contemplativo que os demais na seara brasileira de filmes sociais. Foi aí que me lembrei de “Quem quer ser milionário?”, pois a espontaneidade que abunda no filme brasileiro é questionável no retrato indiano de Danny Boyle. As desventuras daqui são mais sinceras do que a de lá.
“O contador de histórias” tem defeitos, mas tem o dobro de alma. E não a põe a venda diante de qualquer maniqueísmo imperialista.

Dica de Música: "Água de beber" (Tom Jobim)

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Basta ser gay???

O cinismo chegou a tamanho grau de pulverização na era moderna que atrações iconoclastas como “Saturday Night Live”, “Casseta e Planeta”, “Pânico” e “CQC” são rapidamente absorvidas e, automaticamente, banalizadas. Talvez por isso a nova comédia do intrépido ator britânico Sacha Baron Cohen (o mesmo que fez barulho com “Borat”, em 2007) “Brüno”, não tenha a mesma força que teria se fosse lançado há uns 4, 5 anos antes. O politicamente incorreto anda tão corriqueiro que a retórica acaba por ser mais interessante. Conceitualmente parecido com o “Borat”, “Brüno” também é um filme bem irregular, principalmente por não sustentar a sua premissa durante a (até) pequena duração do filme. Antes da primeira meia hora a piada já cai no reducionismo. A (se é que pode se dizer assim) proposta de apontar o anacronismo social dos americanos, pelo ponto de vista de um excêntrico repórter (ultra) gay não é de todo bem sucedida – diferente do choque cultural proposto no filme de 2007 – pelo artificialismo impresso no roteiro, aqui mais farsante que documental. No início, quando se propõe a apontar a frivolidade do mundo da moda, Brüno é mais interessante e espontâneo, mas dali para o fim, o espectador transita na linha tênue entre a risada nervosa e o choque, com os absurdos na tela (acredite, tem até um pênis real que fala). Um dos poucos momentos inspirados é quando o protagonista participa de um programa de auditório, em Dallas, com seu filho que acabara de adotar na África (segundo ele, se Angelina Jolie e Madonna podem, por que não ele?). A reação indignada da platéia diante de suas argumentações são a melhor coisa do filme.
Ao final, creio que para compensar a frustração, um time de estrelas como Bono Vox e Elton John aparecem num clipe bem bizarro.
O filme acompanha a vertente dessa banalização que disse no início, mas neste caso, faltou rir mais de si mesmo para que a graça saísse involuntária.
Dica de Música: "A la la" (CSS)

O mito por Mann

Olhando para a situação do nosso (!) Senado hoje é fácil constatar que os bandidos de antigamente tinham muito mais personalidade. Principalmente os bandidos que, de alguma forma, mexiam com instituições. John Dillinger que junto com Baby Face Nelson e Pretty Boy Floyd, eram os mafiosos mais famosos e procurados dos EUA, na Grande Depressão, da década de 30. E, pela excentricidade de seus atos, não subjugava a mitificação em cima de seus nomes. Dillinger é o protagonista do filmaço de Michael Mann “Inimigos públicos”, um filme de gangster que, não só reverencia os maneirismos do gênero em sua estrutura, como impulsiona essas diretrizes dado o realismo intrínseco na visão segura de Mann. O cineasta, que nunca decepciona, seja no universo crítico do corporativismo, na obra-prima “O informante”, seja na tensão polarizadora imposta em “Colateral”, é meticuloso no impacto que quer causar com aquele universo. Johnny Depp, de cara limpa e com uma força interpretativa assustadora, imprime humanidade a essa lenda urbana, contribuindo muito para o atrito homem/mito que se estabelece na produção.
Filmes biográficos são sempre perigosos, mas Mann, que já havia dirigido outra cinebiografia, “Ali”, com Will Smith, com competência, soube fugir do relicário costumeiro do gênero e buscou na obsessão, tanto do FBI (personificado pelo personagem do ator Christian Bale) em capturar, quanto de Dillinger e seus iguais, em não se deixarem ser capturados, a força narrativa do filme. A obsessão no filme, encontra seu ponto nevrálgico nas razões de ambos em reafirmar-se naquele cenário. É uma produção que, indiscutivelmente, merece ser lembrada no Oscar. Por Depp e sua desconstrução de personagem, e por Mann pela visão aguçada e iconoclasta de um mito, conseguindo transformar o título do filme num interessante oxímoro.
Após o ótimo “Os Infiltrados”, onde Scorcese se redime das megalomanias de seus últimos filmes, os filmes de gangster encontram novos rumos na década de 2000.

Dica de Música: "In my heart" (Moby)

Duas formas de (se fazer) amar!

Dois filmes, duas sentenças. Assisti recentemente a dois filmes que se configuram no gênero romance (e suas desinências) e retratam bem a pluralidade qualitativa do cinema americano contemporâneo. De um lado (e bem atrasado, de minha parte), o tratado sobre relações de Richard Linklater no encantador “Antes do pôr-do-sol”, filme de 2004, que inacreditavelmente ainda não tinha visto. Do outro, o filme de cartilha “A proposta”, com a carismática Sandra Bullock, recentemente lançado nos cinemas.
Dirigido por Anne Fletcher (de “Vestida para casar”), “A proposta” anda fazendo sucesso nas bilheterias mundiais (conseguiu ultrapassar a marca dos 100 milhões no furioso mercado doméstico de verão, em meio a “arrasa quarteirões” como “Harry Potter” e “Transformers”) com uma receita simplória (não simples) daquilo que se vende no gênero, desde o tempo de Meg Ryan: comédia romântica com pegada nonsense e final feliz para agradar o público sensível. Tudo muito previsível e calculado. Ryan Reynolds tem boa liga com Bullock, o que torna a produção digerível, mas a picaretagem na condução final do roteiro aborrece. Ou não, já que é um filme para se esquecer antes dos créditos finais.
Considerado, junto com “Closer” e “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”, como um dos melhores filmes românticos de anos 2000, “Antes do pôr-do-sol” é a antítese do filme acima. Até porque, assim como os demais congratulados, é um filme romântico mas sem romantizar a sua própria premissa. Precedido pelo bom “Antes do Amanhecer” de 1995, o filme mostra o reencontro dos protagonistas Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy) anos depois, onde passam algumas horas a discutir o que aconteceu em suas vidas neste hiato de tempo. O filme se sustenta nesse diálogo recorrente, tendo Paris como cenário. A fluência das idéias, a espontaneidade das discussões e o coloquialismo do roteiro falado são fundamentais para o fascínio e persuasão que o filme exerce sobre o atento espectador. E é interessante observar como a maturidade emocional é relativa e subjetiva quando nossos sentimentos são confrontados, ainda que desmedidamente. Esse estranho conforto no desconforto de um reencontro é que dá o tônica do que é visto na tela. Para adentrar naquele universo requer que entremos no filme com atenção – até porque é todo pautado no diálogo – mas, realmente, vale muito a pena pois a verborragia está ali como complemento já que são as reações ao outro que sublimam a verdade da produção. E, num dos finais mais lindos e tocantes da História do cinema, o filme encerra – se com uma belíssima canção de Nina Simone: “Just in time”, que diz tudo o que foi dito, visto e sentido até ali. Maravilhoso.
São duas faces de Hollywood que, no mínimo, poderiam se complementar.


Dica de Música: "Just in time" (Nina Simone)

Ferro velho

Existem filmes que deveriam devolver o valor do ingresso ao fim da sessão, de tão ruins que são. E foi essa a sensação que tive ao, depois de mais de duas horas, assistir a primeira continuação de “Transformers”: “A vingança dos derrotados”. O primeiro já não era lá essas coisas, mais parecendo um vídeo institucional de uma bienal do automóvel do Japão, mas ainda havia o aspecto “Sessão da Tarde” que rendia alguma graça. Com o sucesso absurdo, os carniceiros obs, os produtores investiram mais grana no projeto, rendendo mais efeitos, mais locações e... só. Esqueceram o mais primordial, o roteiro. O que eles chamam de história liga a origem dos robôs às pirâmides do Egito (!) causando uma espécie de possessão no protagonista, vivido como pode, por Shia LaBeouf (!!), enfim falta ao filme coerência, fluência e competência. O esquizofrênico diretor Michael Bay não ajuda, buscando soluções fáceis para a narrativa (excesso de travelings, banalização de sensualidade...). O diretor parece justificar cada cena com uma explosão pontual (o que neste filme é bem questionável já que, graficamente, os embates entre os tais robôs são irritantemente confusos) e a orientação cênica dos atores, praticamente inexiste.
Infelizmente parece que tais defeitos não fizeram muita diferença já que o filme fez a maior bilheteria do verão americano, claro, repercutindo no resto do mundo. Isso quer dizer que uma terceira sessão de tortura já está a caminho. Digo sem medo, é um dos piores filmes de Hollywood dos últimos anos, principalmente por conseguir piorar o filme original.
Hoje eu entendo porque o Spielberg recusou o projeto, atuando apenas como produtor. Fujam!
Dica de Música: "Passageiro" (Capital Inicial)

sábado, 15 de agosto de 2009

Indo pro céu adoidado

Vai aqui uma singela homenagem ao diretor John Hughes, que morreu esta semana. Seus filmes oitentistas permearam as matinês e "Sessões da Tarde" da minha e da nossa geração. Infelizmente sua despretensão artística ficou limitada ao verniz da década de 80, já que nos últimos anos atuou mais como produtor de tv. Que saudades de meu Todynho...
dedico este post aos meus amigos mais Ploc's, Bruno e Mendes...



Dica de Música: "Who Wants to Live Forever" (Queen)