segunda-feira, 19 de abril de 2010

Mais Mad Max???

Confesso que quando me dispus a assistir “O livro de Eli” já estava com uma enorme preguiça de vê-lo. Mais um rodie-movie em um mundo catastrófico? Fora que eu tinha acabado de assistir “A estrada”, que vai pela mesma temática. Só que diferente desse, que fui positivamente surpreendido, com o filme estrelado por Denzel Washington, o conceito prévio se confirmou. Em um futuro pós-apocalíptico, um homem solitário vaga pelos Estados Unidos que restou após uma guerra nuclear, protegendo um misterioso livro e ainda tendo que se armar de mecanismos de defesa na luta pela sobrevivência.
Dirigido pelos sumidos irmãos Hughes, cujo último filme foi lançado em 2002, o também pesaroso “Do inferno”, com Johnny Depp, “O livro de Eli” não apresenta novidades àquele universo tão explorado no cinema. Em vez disso investe pesado num estilismo estético, meio que injetando verniz à sua falta de substância. E isso é potencializado com a fragilidade do discurso cristão que o roteiro ensaia e que se superestima no final, de forma totalmente deslocada. Denzel Washington empresta a virilidade necessária para protagonizar um filme como esse, assim como Gary Oldman, que se torna a melhor coisa do filme como um antagonista tão cinco quanto espirituoso. Pode ser uma questão de gosto, mas o filme não me comoveu. Muito pelo contrário, depois de um tempo o fardo do herói do filme foi sistematicamente passado para minha paciência.

Dica de Música: “Derretendo os satélites” (Paula Toller)

Lá vem a Riviera...

O cardápio versão 2010 do Festival de Cannes, diferente do ano passado, está menos estrelado, indo mais de encontro aos cineastas mais autorais do que propriamente conhecidos. Dos filmes em competição temos a presença de Abbas Kiarostami (com “Copie Conforme”), Mike Leigh (“Another Year”) e Alejandro Gonzalez Inarritu (com “Biutiful”). Este último vem com a responsabilidade de corresponder a projeção que ganhou com “Babel”, há cerca de 4 anos atrás. O júri deste ano será presidido pelo cineasta Tim Burton, o que promete ser uma premiação bem interessante. Vale destacar também que na tradicional mostra paralela ”Um certo olhar” passarão os novos longas de Jean-Luc Godard, “Film Socialisme”, e Manuel de Oliveira, “O estranho caso de Angélica”.
Fora de competição passarão alguns filmes bem aguardados como a continuação de “Wall street”, “Wall Street 2 - Money never sleepers” de Oliver Stone (que tem um trailer inspiradíssimo) e o último de Woody Allen, “You Will meet a tall dark stranger”, com Anthony Hopkins, Antonio Banderas e Naomi Watts no elenco. Fora “Robin Hood”, de Ridley Scott, que passará por seu primeiro grande teste abrindo o Festival. O Brasil mais uma vez não marcou presença iminente, mas o cineasta Cacá Diegues estará no júri dos curtas. Cannes representa o início das grandes premiações pós-Oscar e, dado o seu cardápio atual, um bom termômetro do cinema mundial que agitará o circuito nos próximos meses. Amo muito tudo isso!

Dica de Música: “You oughta know” (Alanis Morissette)

Irregularmente bom

Eu, particularmente, gosto muito de thrillers, principalmente os que envolvem casos de tribunais e/ou com influências dos filmes policiais americanos da década de 70. Daí muito da minha simpatia pelo inacreditável “Código de conduta”, do diretor F. Gary Gray (dos eficientes“Uma saída de mestre” e “Be cool”). O filme acompanha um promotor público (JamieFox) que se vê perseguido por uma vítima do sistema judiciário (Gerard Butler), um homem revoltado por saber que o assassino de sua esposa e filha será solto pela Justiça. O roteiro até flerta com certa consistência no discurso, ao criticar as variáveis da justiça norte-americana (será que eles conhecem a nossa?), mas seu grande pecado é mesmo a inverossimilhança com que conduz toda a trama, com furos certeiros na história. As soluções absurdas enfraquecem a fluência da trama, mesmo que F. Gary Gray tenha relativo sucesso em imprimir um clima de tensão no jogo que se estabelece entre os protagonistas. O ator Gerard Butler se sai muito bem na psicopatia de seu personagem e a atriz Viola Davis (indicada ao Oscar de atriz coadjuvante no ano passado por “Dúvida”) toma para si cada cena em que aparece. “Código de conduta” é um filme que trai a sua própria premissa, em equívocos primários, mas também não posso deixar de dizer que, seguindo a cartilha de seu gênero, não tenha usado seu poder de sedução com espectador de forma eficiente.

Dica de Música: “Cérebro eletrônico” (Marisa Monte)

sexta-feira, 16 de abril de 2010

I love Glee...


Calma, se você ainda não conhece o fenômeno "Glee", série da rede de TV americana FOX, não se preocupe pois a Rede Globo já adquiriu e irá passar em algum momento, ainda esse ano. Já falei da deliciosa série neste Blog, mas agora que ela está retornando, não poderia deixar de comentar o sucesso absurdo que tem feito nos EUA, atropelando até o intocável "Lost". O programa fará um especial só com músicas da Madonna, que se revelou uma fã generosa ao disponibilizar suas músicas para tal (no fundo sabemos que de boba ela não tem nada vide o enorme sucesso mundial de "Glee"). Quem ainda não conhece corra, pois o programa é um achado, justamente por ser despretensioso.



Dica de Música: "Halo/Walking On Sunshine" (versão GLEE)

Filme-Botique?

Precisa dizer mais alguma coisa??? O novo filme da franquia televisiva mais emblemática da TV americana já começa a instigar sua potencialidade nas bilheterias (e, por que não, no cenário pop), com esse pôster bem... Carrie de ser: carismático, exibicionista e apaixonante. Como já disse muitas vezes, tanto o filme como a série da HBO, que acabou em 2004, são uma bobagem. Mas divertidíssima e que instituiu um novo panorama de marketing comportamental no planeta. Ah, e o novo trailer ficou bem bacana... só acho que contou toda a trama do filme. Espero estar enganado...


Dica de Música: " Empire state of mind" (Jay-z e Alicia Keys)

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Um pai, um filho e o caos

Quando começou a divulgação do filme "A estrada" de John Hillcoat, baseado no livro do badalado escritor americano Cormac McCarthy (o mesmo do livro “Onde os fracos não tem vez”, que também virou filme e ganhou Oscar, pelos irmãos Cohen), com Viggo Mortensen no elenco, eu não me entusiasmei muito. Outro filme que fala de um mundo devastado por uma catástrofe, com clima meio “Mad Max”, ou seja, um road movie austero? Inclusive essa é a minha impressão sobre “O livro de Eli”, que ainda não pude assistir. Mas, surpreendentemente, eu gostei bastante do filme. Com uma direção de arte e fotografia primorosas, a produção se vale da crueza de seu próprio universo para expor a relação de pai e filho, diante da urgência dos últimos acontecimentos e da falta da mãe. Vivendo num cenário devastador, os poucos sobreviventes, para fugir da fome, passam a canibalizar os próprios humanos, criando assim um ambiente hostil a qualquer um. É aí que o senso de proteção do pai (Viggo, em atuação memorável) vai pautar a relação com seu filho e verter o desespero do isolacionismo em luta pela sobrevivência. Muitos pontos não ficam devidamente claros como o motivo da catástrofe e a ausência da mãe. O roteiro quis pautar a trama na claustrofóbica visão dos dois protagonistas, o que provoca um misto de medo e sensibilidade no espectador. Talvez por não esperar nada do filme, tenha gostado muito. E no fim, a mensagem de esperança (!) é tão sincera, quanto justificada.

Dica de Música: “Alta Noite” (Marisa Monte)

Pulp Fiction Brasil

Um prolífero produtor musical, Nelson Motta, vem há alguns anos se aventurando no campo literário. As biografias “Noites Tropicais” e “Vale Tudo" fizeram bastante sucesso. Sempre tive curiosidade deconhecer os seus romances, e me aventurei com “Bandidos e mocinhas”, lançado em 2004, com fortes referências da literatura-pulp, gênero que trafega pelo universal pop e marginal com muita testosterona. O livro conta a história da atriz decadente Lana Leoni, que é assassinada em cena, em um palco de teatro. Motta propõe uma discussão sobre as diversas formas de paixão, tendo a luxúria como principal esteio dramático. Acompanhando três linhas narrativas (a da atriz, a de um traficante apaixonado por ela e a da delegada, um tanto glamourizada ,que investiga o caso), “Bandidos e mocinhas” não consegue fugir do desnível das tramas, e isso influencia até na resolução final do livro, que é bem fraca. Mas é preciso destacar a despretensão de Motta, ao retratar àqueles universos, o que torna a leitura bem agradável e divertida. Apesar do resultado mediano, o livro acaba conquistando nossa atenção no saldo final.
Dica de Música: "A queda" (Lobão)

Telefone sem fio

O diretor americano Steven Soderbergh tem uma verdadeira obsessão por dirigir filmes biográficos. Cria do cinema independente, Soderbergh possui até muita personalidade em seus trabalhos, o que podemos ver no ótimo “Erin Brocovick” que, apesar de muitos o taxarem de veículo para Julia Roberts ganhar Oscar, destaca-se como um filme extremamente vigoroso, com uma direção interessantíssima. Mas há de se levar em consideração que o diretor tem uma carreira bem irregular e, por vezes, pretensiosa (“Full Frontal”, “Solaris”, “Che” ???); que só o redime por esse estilismo estético que emprega em cada produção que se mete. Em seu mais novo filme “O desinformante” (num ano que lançou dois filmes, em um curto espaço de tempo), Soderbergh também mergulha na biografia de uma personalidade. Baseado no livro de Kurt Eichenwald, sobre as desventuras corporativas do bioquímico e alto executivo da mega corporação ADM, MarkWhitacre, o filme acompanha essa figura (em todos os sentidos) que, pressionado por seus superiores para descobrir o que há de errado com a produção de aminoácido lisina em sua fábrica, acaba informando-os de que estão sendo vítimas de sabotagem. Só que as coisas não são tão simples quanto parecem e o FBI entra na jogada e Whitacre acaba virando informante da corporação. O roteiro amplia a complexidade da personalidade do protagonista (muito bem interpretado por Matt Damon) para a própria linearidade da história, o que acaba comprometendo a fluência do filme, principalmente para os leigos nos assuntos executivos que o filme levanta. Se peca pela falta de síntese, acerta na ambientação estilística, com influência setentista e humor irônico, tornando sua apreciação bem mais tragável. Soderbergh ainda é um diretor de filmes questionáveis, mas a plástica da coisa ainda é um excelente placebo.

Dica de Música: "Around the world" (Red Hot Chili Peppers)

A vida é bela?

Existem diversas teorias sobre a real função da arte na vida. Por mais que esse questionamento não se sustente numa análise mais panorâmica, tenho uma pequena noção dessa resposta ao perceber que a arte em si, tem certo poder de fazer com que compreendamos o mundo. O de ontem e o de hoje.Tive o prazer de assistir ao premiado filme do diretor alemão Michael Haneke (“A professora de piano” e “Cachê”) “A fita branca”, e obtive um esclarecimento bem profundo dessa relação que arte estabelece com a (percepção de) vida. Haneke é um diretor que analisa a condição humana sob perspectivas amplamente pessimistas, o que faz de seus filmes verdadeiros estudos sobre a desmistificação social. “Violência gratuita” é o seu exemplo mais radical, ainda que no já citado “A professora de piano” esse paradigma de Haneke tenha encontrado sua forma mais verossímil de se expor.“A fita branca” aborda, com uma fotografia um tanto niilista, uma série de incidentes violentos que ocorrem num lugarejo, afetando, de diversas formas, a vida do lugar. O argumento é bem parecido com a obra-prima de M. Night Shyamalan “A vila” (2004), mas é apenas uma coincidência de metáforas, ainda que ambos sejam absurdamente eficientes em seus discursos. Enquanto vão acorrendo atrocidades no lugar, um personagem investiga não só as fatalidades vigentes como as possíveis co-relações que isso tenha com o meio social, o que ele acaba percebendo de forma bem cruel. O mais interessante é que o roteiro, escrito pelo próprio diretor, amplia sua investigação para além do que vemos: o filme se passa na Alemanha prestes a eclodir na Primeira Guerra Mundial, e como expõe seus verdadeiros matizes ideológicos sob os olhares das crianças do vilarejo (aliás, que atores são aquelas crianças? São interpretações arrepiantes) entendemos que a gênese do raciocínio social alemão do pós-Guerra é tão importante quanto as verdadeiras razões de suas conseqüências. Leia-se: o Holocausto foi corroborado por aquela geração precocemente reprimida e humanamente obtusa. Michael Haneke, mais uma vez, revela-se um maestro da falta de concessões em sua obra. Essa forma de radicalismo é preponderante para a perpetuação de seu trabalho e, talvez, seja a ferramenta maior para a reflexão que nos toma de assalto ao final do longa. A arte aqui, não quer apenas imitar a vida. Ela quer também fazer seu juízo de valor.
Dica de Música: “Mother” (Era)

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Santa paciência...

Aleluia!!! Depois de ter que esperarmos quase 3 anos, enfim entrará em circuito o penúltimo filme de Quentin Tarantino, "Prova de morte", lançado originalmente em 2007, mas nunca lançado no país. O longa, que estreia em julho, narra a desvairada trajetória de um maníaco, vivido pelo ator Kurt Russel, que persegue um grupo de mulheres em seu carro. A produção faz parte do projeto "Grindhouse" que junto com o filme "Planeta terror", de Robert Rodriguez (este, lançado normalmente na época), tornava-se um projeto único, como homenagem dos diretores aos filmes de terror dos anos 70. Só que, diferente dos EUA onde foram lançados juntos, com mais de três horas de duração, no resto do mundo o projeto foi lançado separadamente. Por uma burocracia de distribuidora, acabou que tivemos de esperar esse tempo todo pela parte de Tarantino... Pelo menos lançaram né, já que posso listar um grande número de filmes bons que estão esperando uma vaguinha em nossos cinemas.
Dica de Música: "Billie Jean" (Chris Cornell)