O gênero de filmes de terror viveu, nos últimos anos, da influência estética do cinema oriental. Muito bem vinda, pois trouxe para o gênero, uma espécie de renovação, que foi preponderante para o sucesso desses filmes nos últimos anos, ainda que, como todo fenômeno, tenha chegado a saturação com seus irregulares remakes. Quando surge um filme de terror que desvia dessas vertentes desbotadas, o resultado é sempre satisfatório. “Arraste-me para o inferno”, novo filme de Sam Raimi é desse exemplo. Raimi surgiu para o mundo com filmes de terror de baixo orçamento, mas de altíssima qualidade como “Evil dead” de 1981, que se tornou cult em todo o mundo. Após quase dez anos dedicados a franquia “Homem-aranha” (inclusive já produzindo o quarto filme), o diretor voltou às suas raízes dirigindo esse filme, que conceitualmente remete ao início de sua carreira. “Arraste-me para o inferno”, conjuga o melhor do diretor: é tecnicamente artesanal, persuadindo o temor da platéia sem apelar apenas para os efeitos especiais (como seus filmes iniciais), e equilibrado na narrativa, já que o medo proposto na história é tão eficiente quanto a comicidade que o chamado “terrir” imprime em muitas das cenas ( essa dualidade de segmentos narrativos sempre contribuíram para a qualidade dos filmes de Peter Parker e Cia). Apesar da apatia de Alison Lohman, que de tão insossa quase perde a nossa torcida, o diretor consegue construir uma história crível e realmente assustadora (as cenas finais, com a atriz mexicana Adriana Barraza, que foi indicada ao Oscar por “Babel”, são muito bem feitas). A trama acompanha uma analista de crédito (Lohman) que recusa o pedido de uma velha senhora, o que faz com que perca a casa em que vive. Como vingança, ela joga uma maldição sobrenatural em sua vida. O filme funciona tanto como diversão, quanto como uma alegórica crítica ao capitalismo e sua influencia sobre os valores de cada um. Tudo isso sem recorrer aos batidos monstrinhos orientais com cabelos a ermo, subindo escadas ou emergindo da banheira.
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