Já há algum tempo saiu o primeiro trailer da versão de Tim Burton para o clássico “Alice no país das maravilhas”. Para quem é fã da obra de Burton (no meu caso, uma paixão infantil com a obra-prima “Edward Mãos-de-tesoura”) já imagina a visão cruelmente lisérgica que o cineasta costuma extrair de seus filmes. Sua adaptação de “A fantástica fábrica de chocolate” se notabilizou por verter uma fábula infantil em alegoria (e põe alegoria nisso) da perversidade humana. A exceção de “Planeta dos macacos”. 2001, sua filmografia mostra-se eficiente em ilustrar com tintas fortes (e, por vezes, macabras) seus discursos travestidos de fantasias lúdicas. Em seu último filme, o elogiado “Sweeney Todd” isso foi muito levado a sério. Agora, com a conhecida história de “Alice”, que suscita discussões em todas as recentes gerações, espera-se que Burton comprove, mais uma vez, que sua noção de idílico é muito mais complexa do que pensamos. Jhonny Depp, que é seu ator-assinatura, marcará presença como o excêntrico Chapeleiro louco. Está montado o circo para mais um espetáculo (não só) visual, que nos ganha, pela suntuosidade e pela reflexão que provoca.
Dica de Música: "A Man and A Woman" (U2)
"Não existe meio mais seguro para fugir do mundo do que a arte, e não há forma mais segura de se unir a ele do que a arte." Goethe não imortalizou essa máxima à toa. Sua teoria fundamenta a minha prática nesse blog que se propõe a discutir a arte em todas as suas vertentes: pois seja na cultura de massa, seja na linha da erudição, toda a forma de expressão artística vale a pena. O cinema que o diga...
terça-feira, 29 de setembro de 2009
No país de Burton...
Contigo!
Apesar de superior a qualquer produto do gênero no mundo, as novelas brasileiras, em sua maioria, ainda rezam pela cartilha primária do conservadorismo e do clichê. Aliás, clichê é algo que se trabalha, não necessariamente se combate, afinal, você se lembra de algum filme incensado, que não tenha seu pezinho no clichê? São pouquíssimos e, que eu me lembre, diria que “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”, “Laranja mecânica” e “2001: Uma odisséia no espaço”. Estes últimos são obras do cineasta Stanley Kubrick, que se notabilizou pela estética singular, mas em vários outros filmes seus como “O iluminado” e “De olhos bem fechados”, o clichê existe e é trabalhado no todo.
Dos principais autores de novelas que estão aí, destaco alguns: a coragem de Glória Perez em criar universos que saem do conforto do gênero, e interagem com o melodrama de forma eficaz. Li recentemente uma entrevista dela na “Trip” onde dizia que não há limites para a imaginação, ao criar uma história. Por mais questionável que seja esse raciocínio (que exime a noção de lógica, numa ficção) eu a acho primordial para a manutenção das novelas, ao longo dos anos. Falar sobre barriga de aluguel, internet, clonagem humana e culturas distintas, numa época em que esses assuntos praticamente inexistiam, e com um domínio, pelo menos argumentativo da coisa, é de se admirar. “O clone”, para mim, é sua novela mais perfeita, principalmente por conseguir tratar e mesclar temas tão delicados e ainda manter-se fiel a seus princípios artísticos.
Manuel Carlos, que agora está no ar com “Viver a vida” é outro autor notável, principalmente pela qualidade de seus diálogos. Pela forma como substancializa o cotidiano, poderia ser comparado a um Woody Allen, só que com mais sacarose. Seu único defeito é deixar suas (boas) histórias soltas demais na narrativa, tanto que, invariavelmente, os finais de suas novelas são decepcionantes (a questão ética do julgamento sobre a guarda de uma criança com síndrome de Down, em sua última novela, foi grosseiramente mal discutida).
Sílvio de Abreu (da antológica “A próxima vítima”) é um autor que bebe bastante da fonte da sétima arte em suas novelas, até porque ele veio do cinema. Nem sempre essa convergência é bem sucedida, mas o cara sabe alimentar um thriller de respeito nas histórias que cria.
E, por último, quem melhor sabe verter para o melodrama as complexidades humanas e sociais do país, Gilberto Braga. Suas novelas nunca decepcionam. Ninguém escreve com um nível de inteligência e amoralidade como ele. Sua visão irônica do indivíduo e seu meio, remetem a Oscar Wilde. Critica a burguesia com tamanha propriedade por fazer parte dela (nisso espelha-se a Balzac, que tanto gosta) e ainda debocha dos assistencialismos sociais de um país que adora se fazer vítima de si mesmo. Sempre falo do autor, pois sua obra é a única hoje, em linhas gerais, a fazer frente ao nível de teledramaturgias mundo afora. "Vale tudo", para mim, é uma obra-prima. Sua premissa (tão conveniente na época, em pleno período pós-ditadura) sobre o caráter, foi de uma riqueza pouco vista na TV. Não à toa, suas novelas são sempre admiradas pela intelectualidade nacional (a novela “Celebridade” foi a única a ganhar matéria na sisuda revista “Bravo”) e pela classe, verdadeiramente, artística. Já fiz um post inteiro neste blog, apontando as divergências da programações de TVs do primeiro e terceiro mundos. Essa atual análise é um fator que dimensiona aquele cenário que descrevi. O gênero novela já é complicado, pela duração excessiva e pelo ritmo industrial em que é feita, então, para que possamos gastar nosso precioso tempo assistindo-as tem que, no mínino, não brincar com nossa inteligência. Pena que só alguns poucos, têm consciência disso.
Dica de Música: "Faz parte do meu show" (Cazuza)
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Best Mad !!!
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
São Hitchcock
“Festim diabólico” , este de 1948, é um de seus filmes mais intrigantes: No centro nervoso de Nova York, Brandon e Phillip assassinam seu amigo David, por considerarem-se superiormente intelectuais em relação a ele. Com toda a frieza e arrogância, resolvem provar para eles mesmos sua habilidade e esperteza: esconderão o cadáver em um grande baú, que servirá como mesa e estará exposto no meio da sala de estar do apartamento deles, durante uma festa que realizarão logo em seguida. O filme, que surpreendentemente foi baseado em uma história real, é um verdadeiro estudo sobre as complexidades humanas. Ao assisti-lo refleti sobre como conhecemos pouco o ser humano. E Hitchcock, de posse dessa reflexão, ilustrou o discurso com diálogos memoráveis, fazendo-nos ter a estranha sensação que muita das situações ali representadas, poderiam ter sido ditas e vividas por nós mesmos.
Alfred Hitchcock já foi acusado de mero empregado de estúdio. Tolice. A retórica a essa firmação é justificada pela dimensão de seu legado e sua obra.
terça-feira, 22 de setembro de 2009
Superpop
Sou um bom observador e admirador de mise-en-scenes. Pois é. Fico encantado com uma presença de cena. Marilyn Monroe nada mais era do que uma linda mulher, com uma presença impressionante. Fred Astaire sublinhava cada passo que dava com a força de sua... presença. Hoje esse conceito é mais necessário a muito artista por aí. Madonna não tem lá uma voz maravilhosa, mas incorpora a entidade da presença no palco. E de uma personalidade cênica (!) impressionante. Tem gente que nasce para o palco, talvez até mais do que para o microfone. Beyonce é uma boa cantora, com boas músicas; mas nada supera sua mese-em-scene num palco. Enquanto muitas personificam a sensualidade, ela é. Não sou lá muito fã de suas músicas. Um cd inteiro dela me irrita, mas ela tem seus coringas (não dá para ficar parado numa pista quando toca um "Crazy in love" ou "Deja vu" da vida) e tem direcionado a sua carreira - como a própria disse em recente entrevista - para ser um ícone. Uma pretensão e tanta, mas ela pode, pois domina como ninguem o showbizz. Todos os seus clipes viram referência (o de "Single ladies" virou um dos mais parodiados do Youtube) e seus shows são sempre muito aguardados (pipocam notícias de que ela virá ao Brasil em fevereiro). Esse vídeo, de sua apresentação no VMA da Mtv americana, há uma semana, dá uma medida de seu domínio. Enfim, ela está aqui neste meu espaço por uma razão: não consigo ficar indiferente a sua mise-en-scene. Perdoe-me Marilyn Monroe...
Dica de Música: "Love's Theme" (Love Unlimited Orchestra)
Senhoras e senhores...
Saiu o trailer do filme "This is it", com imagens de ensaios dos shows que Michael Jackson faria na O2 Arena, em Londres. A iniciativa é curiosa (e oportunista, afinal os produtores do show precisavam reaver os dólares investidos nesse espetáculo, não acontecido, por razões óbvias) e confesso estar bem ansioso para assistir, principalmente por ter a chance de ver um artista que a minha geração só vislumbrou nos tablóides e noticiários. O trailer é bem produzido e, sinceramente, não sei precisar a performance que o filme terá nas bilheterias, até porque esse caso já foi tão estuprado pela mídia que cansou. Vale como registro histórico e (para um fã como eu) como uma amostragem de um retorno que ficou retido pelos revezes da vida.
Dica de Música: a minha preferida dele "Whatever Happens"
Lágrimas sinceras
Dica de Música: "Mother" (Era)
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Hollywood é aqui !
Freud e o sexo
Dica de Música: "Baba" (Maria Gadu)
Naftalinas e Rubem Fonseca...
Um filmaço que descobri há pouco tempo foi “Kramer versus Kramer”, filme de Robert Benson, de 1979. Já conhecia o filme por sua história e, claro, pelo Oscar que abocanhou, mas ainda não o tinha visto. Um belo filme que joga pesado no antagonismo que se estabelece entre razão e emoção ao contar a história de Ted Kramer (personagem de Dustin Hoffman) para quem o trabalho vem antes da família e Joanna (Meryl Streep, divina), sua mulher, descontente com a situação, sai de casa, deixando Billy, o filho do casal, com o pai. Ted então tem que se preocupar com o menino, dividindo-se entre o trabalho, o cuidado com o filho e as tarefas domésticas. Quando consegue ajustar a estas novas responsabilidades, Joanna reaparece exigindo a guarda da criança. Ted porém se recusa e os dois vão para o tribunal lutar pela custódia de Billy. As bases dramáticas da trama são sustentadas pelo prisma social de fins da década de 70, quando o filme foi gestado, o que pode causar certo estranhamento para quem moldou sua visão de mundo nos anos 90, por exemplo. Mas é um filme que fala da nobreza de certos sentimentos e isso é universal. Ao relativizar as razões que se sobrepõe as emoções na luta por um filho, a produção acerta nosso coração, para que façamos nosso próprio juízo de valor. Um tipo de filme raro hoje em dia.
Acabei de ler o livro “O caso Morel”, primeiro romance do escritor Rubem Fonseca, autor que eu admiro demais. Já disse neste blog que o considero um dos melhores escritores do mundo, pela sagacidade e ironia com que analisa nossa sociedade. “O caso Morel”, livro de 1973 (auge da ditadura militar) mostra o embate de Paul Morel, um artista de vanguarda típico dos anos 70 pelas excentricidades, com o escritor Vilela. Morel está preso e é de sua cela que narra histórias que mesclam sexo, violência e reflexões sobre a arte mais radical do escritor, ao questionar a função da mesma e da literatura. Tenho procurado ler toda a obra dele e todos os romances dele que li até o momento são irretocáveis (talvez “A grande arte” nem tanto) e sempre com uma simplicidade desconcertante. Fica aqui a dica para uma imersão nesse universo tão corrosivo e, ao mesmo tempo, tão familiar que é o retratado por esse gênio da nossa literatura.
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Doce desespero
Dízimo Pop !!!
Polêmica, controversa, prepotente. Ela é isso tudo e mais um pouco, mas é inegável seu manejo absurdo na oxigenação da cultura Pop ao longo desses mais de 20 anos de carreira. E agora com seu mais novo single lançado, confirmamos que ela não é quem é à toa. Bela produção para uma geração tão desconcentrada artísticamente. Simplesmente Madonna!
Joga pedra na Geni ???
Há alguns anos li numa matéria de jornal uma interessante definição de “Diva”: artista de talento e beleza que, invariavelmente, tinha vida marcada por eloqüentes dramas pessoais. Interessante, não? A frase foi completada com a afirmação de que hoje em dia não existiam mais exemplares desse título. Tudo certo que à época não existia uma tal de Amy Winehouse, mas se existe alguém que se encaixe perfeitamente nessa alcunha é a cantora Whitney Houston. Dotada de um talento vocal impressionante, sempre teve a vida marcada por dramas pesados, que rivalizavam com seu talento em exposição midiática. Após cerca de dez anos afundada com sérios problemas com drogas (os flagras em que a cantora estava visivelmente perturbada são clássicos da internet), ela retoma as paradas com o lançamento de seu mais novo cd “I look to you”. Todo o revés passado em sua vida trouxe conseqüências vocais bem nítidas. Para quem admirava a artista por suas histrionices vocais e agudos fortemente acentuados, pode se decepcionar. A Whitney atual entrega um desempenho vocal limitado (como percebemos no vídeo acima, de uma apresentação recente), acentuada pela impressionante presença que imprime nas canções. Como sempre gostei de sua voz independendo de agudos – acho sua leve rouquidão irresistível – o impacto para mim nem foi tão grande. Seu novo cd exprime nas letras a ânsia por renascimento e superação. Apesar de rezar a cartilha dominante do R&B, calcada na repetição rítmica, o cd também flerta com o soul setentista do Motown, em babas como “Millon Dollar Bill”, acertadamente escolhida para puxar o cd nas rádios americanas. As baladas “rasgadas” também marcam presença (a faixa título do cd é um exemplo máximo) embora de uma forma mais lúcida e no geral, o cd é correto e feito para agradar ao mercado atual americano (até porque, em tempos de crise não se pode arriscar). E pelo visto já agradou pois o cd está no topo da Billboard, com poucos dias de lançado por lá. Creio que um talento como Whitney precise agora é de auto-afirmação, principalmente por vir de problemas pessoais tão delicados (drogas, separação e afins). Se usasse isso mais em sua música como Amy Winehouse faz, o resultado sairia mais marcante, mas no momento, só o seu retorno já é um êxito a se considerar.
Pessoalmente, 2009 era um ano de expectativas por dois retornos anunciados: da própria Whitney (há mais de 7 anos sem gravar) e de Michael Jackson (que sempre fui fã). Infelizmente só ela voltou para continuar a firmar sua história... de diva (?!)
Dica de Música: a bela canção do vídeo acima!!!
terça-feira, 15 de setembro de 2009
King of Word ???
Eis que saiu o aguarado trailer do novíssimo filme de James Cameron, "Avatar". Não preciso nem dizer que o filme do diretor de "Exterminador do futuro 1 e 2" e "Titanic" vem sendo muito aguardado tanto por causa do jejum de mais de 10 anos do diretor sem dirigir, quanto pela expectativa gerada por esse projeto, que promete ser algo até então inédito em tecnologia cinematográfica. Os poucos sortudos que assistiram a uma prévia do filme em alguns países, incluindo Brasil, há um mês, disseram que é algo que sucumbe a tecnologia 3D (!!!). Em se tratando de Cameron, podemos esperar de tudo, afinal que não lembra da gestação polêmica e megalomaníaca de seu "Titanic". Gosto dele - e de sua ousadia - e também não vejo a hora de chegar dezembro.
Dica de Música: "Death in Vegas" (Dirge)
Estranha realidade...
Dica de Música: "Unchained Melody" (Righteous Brothers)
Brasilian Pie
“Os Normais 2, a noite mais maluca de todas” é continuação do bom primeiro filme. É preciso admitir que o diretor, Jose Alvarenga, melhorou muito de um filme para outro. Enquanto o primeiro se ressentia de sua origem, quase como filme de estúdio, o segundo dá uma arrojada técnica, buscando um diálogo maior como cinema. Mas os grandes destaques do filme são mesmo duas mulheres: Fernanda Young, que em parceria (eterna) com o marido Alexandre Machado, bola as histórias bizarramente assimiláveis do programa e do filme, e Fernanda Torres, que consegue ser uma das atrizes mais espetaculares do mundo (premiada em Cannes!), mesmo com a mãe que tem.
Young, que sempre surpreende, não só pelos seus textos inconformados, mas também como apresentadora do hilário programa “Irritando Fernanda Young” (GNT), possui uma espécie de esquizofrenia criativa que rende trabalhos, no mínimo, singulares. A forma cínica como analisa a proximidade entre o cotidiano e o ridículo sempre dão o tom daquilo que externa, e no filme essa máxima é levada ao extremo.
Torres é uma atriz que consegue rir de si mesma com a mesma propriedade com que se leva a sério dando vida a um Tchecov. Essa inteligência cênica, aliado ao seu DNA poderoso faz com que a atriz precise de muito pouco para ganhar o espectador. Suas cenas no filme são sempre as mais engraçadas e espontâneas. Sem desmerecer o belo trabalho de seu parceiro, Luiz Fernando Guimarães, mas Fernanda é o tipo de atriz que faz graça até na falta dela.
O filme agrada bastante (no cinema que fui as gargalhadas eram ininterruptas), mesmo que muitas das piadas não funcionem (como a do bicho preguiça), mas isso é o preço do gênero. Young e seu marido souberam criar alternativas para seu casal de uma forma menos gratuita do que se esperava de um formato tão bem sucedido quanto esse. Claro que o elenco ajuda muito (incluindo aí as participações, como a de Drica Moraes), mas o bacana é se vê tomado pela proposta do filme e quando perceber já estar com a barriga doendo de tanto rir. O cinema brasileiro tem várias limitações mas fazer rir, desde a chanchada, sabemos fazer. E com os talentos contemporâneos dessas Fernandas, a dimensão só tende a aumentar (não à toa os EUA compraram os direitos do programa e pretendem fazer uma série similar na TV de lá). Se perto ninguém é normal, na tela grande então... Programa imperdível.
foto: Alexandre Machado, Fernanda Young (roteiristas), Luiz Fernando Guimarães, Fernanda Torres e o diretor do longa José Alvarenga.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
Males que vem para o bem...
Dica de Música: "Don't panic" (Coldplay)
Ser ou não ser?
Dica de Música: "Suicide Underground" (Air)
sábado, 5 de setembro de 2009
A lente da experiência
Depois de conseguir a maior bilheteria nacional dos últimos anos com “Se eu fosse você 2”, Daniel apostou num projeto mais “pessoal” com seu novo filme, baseado numa incensada peça teatral de Bosco Brasil, “Novas diretrizes em tempos de paz”. “Tempos de paz”, o filme, procura andar nos caminhos da correção, mas que tropeça justamente ao tentar equilibrar essa adaptação narrativa. A trama mostra um ex-integrante da polícia política de Getúlio Vargas, o atual chefe da alfândega do Rio de Janeiro (Tony Ramos, como sempre ótimo) interrogando um ex-ator polonês (Dan Stulbach, também maravilhoso e retendo seus excessos emotivos), suspeito de ser nazista, que deseja entrar no Brasil. A trama é forte e fundamentada no diálogo tenso entre os personagens, que aos poucos vai se revelando como um ode ao teatro, ou a arte como válvula de escape para a vida. O roteiro – também do autor original – vai desnivelando o antagonismo em humanismo até seu fim catártico e verdadeiramente emocionante. Antes o diretor fizesse o filme ancorado apenas nessas matizes, mas ao tentar dimensionar o trama para as “exigências” do cinema, acabou criando tramas paralelas desnecessárias (o personagem do próprio diretor não diz a que veio) e que funcionam mais como arquétipos de uma intenção do que complemento de uma lógica. Daniel Filho é um diretor experiente e até muito esperto no tocante as amarras do cinema nacional, mas quando não pretende nada além de pegar sua câmera e filmar, tem resultados dignos de sua história.
Dica de Música: "Outono" (Djavan)
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Duas Caras
Por outro lado “G. I. Joe”, famosos no país como “Comandos em ação”, dado o sucesso de seus brinquedos na década de 90, é uma amostra da “Hollywood” que não quer crescer. O cinemão americano atual tem dado mostras de que o casamento entre entretenimento (puro) e inteligência, pode sim render resultados práticos e artísticos (vide o êxito de “O cavaleiro das trevas” e da franquia “Spider man”). Stephen Summers, que fez um trabalho asséptico em “A múmia” e “Van Helsing”, não ajuda muito e a superprodução só se justifica pelos efeitos especiais rotineiros (alguma novidade?). Como não nutria nenhuma expectativa, saí do cinema como entrei.
Duas "obras" de uma cinematografia de muitas faces, mas essa multiplicidade nunca foi sinônimo de limitação, e é nisso que gosto de pautar minha falta de pré-conceitos bairristas.
Dica de Música: "Retirantes Remix" (Dorival Caymmi/ Dj Zé Pedro)