terça-feira, 29 de setembro de 2009

No país de Burton...


Já há algum tempo saiu o primeiro trailer da versão de Tim Burton para o clássico “Alice no país das maravilhas”. Para quem é fã da obra de Burton (no meu caso, uma paixão infantil com a obra-prima “Edward Mãos-de-tesoura”) já imagina a visão cruelmente lisérgica que o cineasta costuma extrair de seus filmes. Sua adaptação de “A fantástica fábrica de chocolate” se notabilizou por verter uma fábula infantil em alegoria (e põe alegoria nisso) da perversidade humana. A exceção de “Planeta dos macacos”. 2001, sua filmografia mostra-se eficiente em ilustrar com tintas fortes (e, por vezes, macabras) seus discursos travestidos de fantasias lúdicas. Em seu último filme, o elogiado “Sweeney Todd” isso foi muito levado a sério. Agora, com a conhecida história de “Alice”, que suscita discussões em todas as recentes gerações, espera-se que Burton comprove, mais uma vez, que sua noção de idílico é muito mais complexa do que pensamos. Jhonny Depp, que é seu ator-assinatura, marcará presença como o excêntrico Chapeleiro louco. Está montado o circo para mais um espetáculo (não só) visual, que nos ganha, pela suntuosidade e pela reflexão que provoca.

Dica de Música: "A Man and A Woman" (U2)

Contigo!

Tenho poucos, mas participativos, leitores habituais que me cobram (via email) comentários de determinados filmes, séries e músicas. Queria aproveitar o espaço para agradecer demais o prestígio, principalmente agora, que o blog completará 1 ano de existência, no dia 08 de outubro. Tenho recebido “reclamações” de que pouco comento sobre a programação de TV aberta, em especial as novelas. Bem, novela é um gênero em que estou mais culturalmente habituado a assistir (como todo brasileiro), do que dizer que gosto de verdade. Na real, o que sempre me incomodou é a duração de um programa dramatúrgico como esse, e certo superficialismo, sempre presente em suas histórias. Tirando as inteligentes tramas de Gilberto Braga, do qual sou devoto confesso, nem lembro bem qual foi a última novela que eu acompanhei com regularidade. Acho que foi “O clone”, de 2001, ou seja, quase dez anos atrás.
Apesar de superior a qualquer produto do gênero no mundo, as novelas brasileiras, em sua maioria, ainda rezam pela cartilha primária do conservadorismo e do clichê. Aliás, clichê é algo que se trabalha, não necessariamente se combate, afinal, você se lembra de algum filme incensado, que não tenha seu pezinho no clichê? São pouquíssimos e, que eu me lembre, diria que “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”, “Laranja mecânica” e “2001: Uma odisséia no espaço”. Estes últimos são obras do cineasta Stanley Kubrick, que se notabilizou pela estética singular, mas em vários outros filmes seus como “O iluminado” e “De olhos bem fechados”, o clichê existe e é trabalhado no todo.
Dos principais autores de novelas que estão aí, destaco alguns: a coragem de Glória Perez em criar universos que saem do conforto do gênero, e interagem com o melodrama de forma eficaz. Li recentemente uma entrevista dela na “Trip” onde dizia que não há limites para a imaginação, ao criar uma história. Por mais questionável que seja esse raciocínio (que exime a noção de lógica, numa ficção) eu a acho primordial para a manutenção das novelas, ao longo dos anos. Falar sobre barriga de aluguel, internet, clonagem humana e culturas distintas, numa época em que esses assuntos praticamente inexistiam, e com um domínio, pelo menos argumentativo da coisa, é de se admirar. “O clone”, para mim, é sua novela mais perfeita, principalmente por conseguir tratar e mesclar temas tão delicados e ainda manter-se fiel a seus princípios artísticos.


Manuel Carlos, que agora está no ar com “Viver a vida” é outro autor notável, principalmente pela qualidade de seus diálogos. Pela forma como substancializa o cotidiano, poderia ser comparado a um Woody Allen, só que com mais sacarose. Seu único defeito é deixar suas (boas) histórias soltas demais na narrativa, tanto que, invariavelmente, os finais de suas novelas são decepcionantes (a questão ética do julgamento sobre a guarda de uma criança com síndrome de Down, em sua última novela, foi grosseiramente mal discutida).
Sílvio de Abreu (da antológica “A próxima vítima”) é um autor que bebe bastante da fonte da sétima arte em suas novelas, até porque ele veio do cinema. Nem sempre essa convergência é bem sucedida, mas o cara sabe alimentar um thriller de respeito nas histórias que cria.
E, por último, quem melhor sabe verter para o melodrama as complexidades humanas e sociais do país, Gilberto Braga. Suas novelas nunca decepcionam. Ninguém escreve com um nível de inteligência e amoralidade como ele. Sua visão irônica do indivíduo e seu meio, remetem a Oscar Wilde. Critica a burguesia com tamanha propriedade por fazer parte dela (nisso espelha-se a Balzac, que tanto gosta) e ainda debocha dos assistencialismos sociais de um país que adora se fazer vítima de si mesmo. Sempre falo do autor, pois sua obra é a única hoje, em linhas gerais, a fazer frente ao nível de teledramaturgias mundo afora. "Vale tudo", para mim, é uma obra-prima. Sua premissa (tão conveniente na época, em pleno período pós-ditadura) sobre o caráter, foi de uma riqueza pouco vista na TV. Não à toa, suas novelas são sempre admiradas pela intelectualidade nacional (a novela “Celebridade” foi a única a ganhar matéria na sisuda revista “Bravo”) e pela classe, verdadeiramente, artística. Já fiz um post inteiro neste blog, apontando as divergências da programações de TVs do primeiro e terceiro mundos. Essa atual análise é um fator que dimensiona aquele cenário que descrevi. O gênero novela já é complicado, pela duração excessiva e pelo ritmo industrial em que é feita, então, para que possamos gastar nosso precioso tempo assistindo-as tem que, no mínino, não brincar com nossa inteligência. Pena que só alguns poucos, têm consciência disso.



Dica de Música: "Faz parte do meu show" (Cazuza)




segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Best Mad !!!

A premiação do Emmy, mais uma vez reconheceu o nível qualitativo da série "Mad Men" e premiou-a, pela segunda vez consecutiva, como a melhor série dramática de 2009. Ainda não tive oportunidade de falar desta série, realmente muito boa, pois ainda estou acompanhado o fim de sua primeira temporada, mas trata-se de um trabalho maravilhoso que destrincha o universo publicitário dos EUA na década de 60. O mote de mostrar as transformações sociais americanas, em pleno "american way of life" serve para compreendermos bem a cultura pseudo-conservadora que o país externa até hoje. Um trabalho inteligente e preciso de auto-análise.
Para série cômica, venceu mais uma vez "30Rock", que realmente é uma série divertidíssima - primordial a persona de Tina Fey no elenco - mas talvez não tenha muita força por aqui, devido ao fato de suas piadas serem melhores compreendidas em seu próprio território. Mas eu gosto bastante também.
Gleen Coose, ganhando por "Damages" era quase hour-concours. Aliás "Damages" é a minha série favorita nunca vista... sério, é que mesmo sem ter acompanhado muito virei fã. Mas já consertarei essa esquisitice. Aquele universo cruel dos advogados americanos, protagonizado por uma pérfida Gleen Coose, não tem como ser ruim. Outra barbada foi o prêmio para Michael Emmerson por "Lost", pois o cara é arrepiante.
Uma premiação sem grandes surpresas mas comprovando a maestria dramatúrgica do império americano.
Dica de Música: "Acontecimentos" (Marina Lima)

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

São Hitchcock

Ninguém fica indiferente ao cinema de Hitchcock. Meu primeiro contato com sua obra veio com o clássico “Psicose”, que me causou tanta agonia – até porque era bem novo quando assisti – que passei a cultuá-lo. Existe muito requinte no sadismo de seu cinema. Nunca a ambigüidade foi tão estudada e estimulada numa cinematografia. Seja pelo medo, seja pela paixão, Alfred Hitchcock conseguia reunir o melhor de seu pior para colocar em suas produções. De sua (provável) misoginia veio a sagacidade com que retratava o indivíduo e o arquétipo da heroína loira, encharcada de dualidades; já de seu hermetismo pessoal, veio o modo preciosista com que dominava a arte de filmar, como poucos. Assisti recentemente a dois filmaços de seu catálogo: “Intriga Internacional” e “Festim diabólico”. O primeiro, de 1959, é uma trama que mescla perseguição e espionagem, com o classicismo dos anos 50. O cineasta surpreende com o traquejo com que domina a pluralidade de gêneros e subverte a alcunha de aventura, num filme “suado”, mas de uma elegância ímpar. Cary Grant, que protagoniza a produção, contribui muito com seu carisma, ainda que o ator tenha se repetido muito na carreira como um todo. Um filme esteticamente belo e um agradável exercício de entretenimento.
“Festim diabólico” , este de 1948, é um de seus filmes mais intrigantes: No centro nervoso de Nova York, Brandon e Phillip assassinam seu amigo David, por considerarem-se superiormente intelectuais em relação a ele. Com toda a frieza e arrogância, resolvem provar para eles mesmos sua habilidade e esperteza: esconderão o cadáver em um grande baú, que servirá como mesa e estará exposto no meio da sala de estar do apartamento deles, durante uma festa que realizarão logo em seguida. O filme, que surpreendentemente foi baseado em uma história real, é um verdadeiro estudo sobre as complexidades humanas. Ao assisti-lo refleti sobre como conhecemos pouco o ser humano. E Hitchcock, de posse dessa reflexão, ilustrou o discurso com diálogos memoráveis, fazendo-nos ter a estranha sensação que muita das situações ali representadas, poderiam ter sido ditas e vividas por nós mesmos.
Alfred Hitchcock já foi acusado de mero empregado de estúdio. Tolice. A retórica a essa firmação é justificada pela dimensão de seu legado e sua obra.
Dica de Música: "10 minutos" (Ana Carolina)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Superpop


Sou um bom observador e admirador de mise-en-scenes. Pois é. Fico encantado com uma presença de cena. Marilyn Monroe nada mais era do que uma linda mulher, com uma presença impressionante. Fred Astaire sublinhava cada passo que dava com a força de sua... presença. Hoje esse conceito é mais necessário a muito artista por aí. Madonna não tem lá uma voz maravilhosa, mas incorpora a entidade da presença no palco. E de uma personalidade cênica (!) impressionante. Tem gente que nasce para o palco, talvez até mais do que para o microfone. Beyonce é uma boa cantora, com boas músicas; mas nada supera sua mese-em-scene num palco. Enquanto muitas personificam a sensualidade, ela é. Não sou lá muito fã de suas músicas. Um cd inteiro dela me irrita, mas ela tem seus coringas (não dá para ficar parado numa pista quando toca um "Crazy in love" ou "Deja vu" da vida) e tem direcionado a sua carreira - como a própria disse em recente entrevista - para ser um ícone. Uma pretensão e tanta, mas ela pode, pois domina como ninguem o showbizz. Todos os seus clipes viram referência (o de "Single ladies" virou um dos mais parodiados do Youtube) e seus shows são sempre muito aguardados (pipocam notícias de que ela virá ao Brasil em fevereiro). Esse vídeo, de sua apresentação no VMA da Mtv americana, há uma semana, dá uma medida de seu domínio. Enfim, ela está aqui neste meu espaço por uma razão: não consigo ficar indiferente a sua mise-en-scene. Perdoe-me Marilyn Monroe...

Dica de Música: "Love's Theme" (Love Unlimited Orchestra)

Senhoras e senhores...


Saiu o trailer do filme "This is it", com imagens de ensaios dos shows que Michael Jackson faria na O2 Arena, em Londres. A iniciativa é curiosa (e oportunista, afinal os produtores do show precisavam reaver os dólares investidos nesse espetáculo, não acontecido, por razões óbvias) e confesso estar bem ansioso para assistir, principalmente por ter a chance de ver um artista que a minha geração só vislumbrou nos tablóides e noticiários. O trailer é bem produzido e, sinceramente, não sei precisar a performance que o filme terá nas bilheterias, até porque esse caso já foi tão estuprado pela mídia que cansou. Vale como registro histórico e (para um fã como eu) como uma amostragem de um retorno que ficou retido pelos revezes da vida.

Dica de Música: a minha preferida dele "Whatever Happens"

Lágrimas sinceras

Se para a dor não existe equilíbrio, em sua representação essa condição é primordial. Talvez fora sob essa cartilha que o (sempre) interessante diretor Nick Cassevetes (dissociando-se cada vez mais da figura mítica do pai) se pautou para dirigir o filme “Uma prova de amor” (“My Sister’s Keeper”). O filme é um drama pesadíssimo: Sara (Cameron Diaz) e Brian Fitzgerald (Jason Patric) são informados que Kate (Sofia Vassilieva), sua filha, tem leucemia e possui poucos anos de vida. O médico sugere aos pais que tentem um procedimento médico ortodoxo, gerando um filho de proveta que seja um doador compatível com Kate. Disposto a tudo para salvar a filha, eles aceitam a proposta. Assim nasce Anna (Abigail Breslin), que logo ao nascer doa sangue de seu cordão umbilical para a irmã. Ao atingir 11 anos, Anna precisa doar um rim para a irmã. Cansada dos procedimentos médicos aos quais é submetida, ela decide enfrentar os pais e lutar na justiça por emancipação médica, de forma a que tenha direito a decidir o que fazer com seu corpo. A forma como Cassevetes apresenta a história – fragmentada e desalinhada – bloqueia qualquer tentativa de sentimentalismos gratuitos que comumente o gênero sucumbe, e é esse o ponto forte da produção. O diretor consegue a façanha de desenvolver seu drama pulverizando pontos-de-vista e não banalizando a dor como causa e efeito. Essa quebra, por vezes desestabiliza a fluência dessa inter-relação, mas é justamente esse distanciamento que sensibiliza nossas retinas. É um pequeno grande filme, com um elenco respeitoso (a eterna "Miss Sunshine" Abigail Breslin continua irrepreensível e o resto do elenco também honra a companhia, assim como Cameron Diaz, que desde "Quero ser John Malcovich" e "Um domingo qualquer" já provara sua versatilidade), uma espécie de “Lado a lado” dos anos 2000, só que com mais incorreção em seu discurso, sendo isso um mérito e tanto. Cassevetes vem, filme a filme, despontando para o mundo com uma característica vital: a precisão. É por essa precisão que não julgamos o conflito que o filme exacerba. Somos envoltos pela noção que a palavra “humano” tem sobre nós. Quanto a isso não há justificativas e o título (brasileiro) do filme se inverte.


Dica de Música: "Mother" (Era)

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Hollywood é aqui !

No próximo dia 25 começa o aguardado Festival do Rio, que se tornou a maior plataforma de lançamento e divulgação cinematográfica do país. A grande sensação esse ano, além do número recorde de filmes competindo pelo troféu Redentor, é a presença ilustre de Quentin Tarantino, que virá lançar seu aguardado filme “Bastardos Inglórios” (filme este muito falado aqui no blog e responsável pela foto que ilustra esse post, com Brad Pitt). O festival se iniciará com a premiere de “Aconteceu em Woodstock”, longa do diretor Ang Lee que conta os bastidores do maior evento da história do rock, além dos inéditos filmes de Sam Mendes e Soderberg. Outro filme que passará é o também esperadíssimo “Os abraços partidos” de Almodóvar, que dispensa maiores comentários. Além de Tarantino, virão também a cineasta belga Agnès Varda, a musa da nouvelle vague francesa Jeanne Moreau, e o cineasta argentino Juan José Campanella, de “O filho da noiva”. Na mostra nacional, a lista inclui 11 longas de ficção e 7 documentários nacionais em competição, além de 5 produções que não disputarão prêmios. Entre os filmes está o longa “Bellini e o demônio” de Marcelo Galvão, com o galã Fábio Assunção; também o já polêmico “Do começo ao fim” de Aluizio Abranches, que conta a história de uma relação incestuosa entre dois irmãos. “O amor segundo B. Shianberg”, mais um exercício radical de Beto Brant e “Cabeça a prêmio”, estréia do ator Marco Ricca na direção de filmes, são dois dos filmes que também estarão na competição. É tempo de cinema no Rio e as opções são das mais variadas nas mostras paralelas. Tirando o inconveniente de filas enormes e esgotamento instantâneo de ingressos, esse período é um oásis a qualquer cinéfilo.
Dica de Música: "Seven Days In Sunny June" (Jamiroquai)

Freud e o sexo

Clichês só são suportáveis quando bem assimilados. E, se tratando de ficção sobre relacionamentos, esse paradigma é ainda mais justificado. Assisti, com mais de dois anos de atraso, a polêmica série da HBO “Tell me you Love me”, que se notabilizou pela corajosa abordagem das relações adultas. A série – em única temporada de 10 episódios – explicita as incongruências e complexidades da difícil arte de viver a dois, acompanhado a trajetória dionisíaca de três casais enfrentando problemas de intimidade: Jamie e Hugo estão noivos e tem dúvidas sobre a fidelidade, Carolyn e Palek tentam ter um bebê, enquanto Katie e David são pais que não encontram tempo para fazer sexo. Os três casais fazem terapia com a psicóloga, Dra. May Foster, uma mulher experiente que parece ter absoluto controle sobre o assunto. O enfoque é dado com lente de aumento, daí as acusações de ser um produto apelativo, já que a incontáveis cenas de sexo, beiram o explícito. Discordo. A série se propõe a discutir as relações, justamente desnudando-as e as fortes cenas de sexo entram nesse contexto. A direção e o roteiro buscam sim explicitar não só esse tipo de cena, mas o cenário emocional que ilustra as tramas apresentadas. É uma dramaturgia adulta para um público adulto. Marquês da Sade, um dos poetas mais libidinosos da História, tinha uma frase ótima que resume o ideário da série: “Antes de ser um homem da sociedade, sou-o da natureza”.

Dica de Música: "Baba" (Maria Gadu)

Naftalinas e Rubem Fonseca...

Meus poucos leitores assíduos às vezes cobram que eu pouco comento sobre filmes antigos. Realmente quase não posto comentários a respeito, talvez porque acabo dando vazão à urgência dos lançamentos (e também porque comento mais sobre os filmes que acabo de ver no cinema), mas gosto e assisto bastantes filmes antigos – o que seria de mim sem Fellini!!! – tanto que há poucos dias assisti ao filme “Cinco vezes favela”, série de 5 curtas dirigidos por nomes como Cacá Diegues, Joaquim Pedro de Andrade e Leon Hirszman, de 1962. Um bom filme, mas datado pela dicotomia do cenário social carioca da década de 60 para cá.
Um filmaço que descobri há pouco tempo foi “Kramer versus Kramer”, filme de Robert Benson, de 1979. Já conhecia o filme por sua história e, claro, pelo Oscar que abocanhou, mas ainda não o tinha visto. Um belo filme que joga pesado no antagonismo que se estabelece entre razão e emoção ao contar a história de Ted Kramer (personagem de Dustin Hoffman) para quem o trabalho vem antes da família e Joanna (Meryl Streep, divina), sua mulher, descontente com a situação, sai de casa, deixando Billy, o filho do casal, com o pai. Ted então tem que se preocupar com o menino, dividindo-se entre o trabalho, o cuidado com o filho e as tarefas domésticas. Quando consegue ajustar a estas novas responsabilidades, Joanna reaparece exigindo a guarda da criança. Ted porém se recusa e os dois vão para o tribunal lutar pela custódia de Billy. As bases dramáticas da trama são sustentadas pelo prisma social de fins da década de 70, quando o filme foi gestado, o que pode causar certo estranhamento para quem moldou sua visão de mundo nos anos 90, por exemplo. Mas é um filme que fala da nobreza de certos sentimentos e isso é universal. Ao relativizar as razões que se sobrepõe as emoções na luta por um filho, a produção acerta nosso coração, para que façamos nosso próprio juízo de valor. Um tipo de filme raro hoje em dia.

Acabei de ler o livro “O caso Morel”, primeiro romance do escritor Rubem Fonseca, autor que eu admiro demais. Já disse neste blog que o considero um dos melhores escritores do mundo, pela sagacidade e ironia com que analisa nossa sociedade. “O caso Morel”, livro de 1973 (auge da ditadura militar) mostra o embate de Paul Morel, um artista de vanguarda típico dos anos 70 pelas excentricidades, com o escritor Vilela. Morel está preso e é de sua cela que narra histórias que mesclam sexo, violência e reflexões sobre a arte mais radical do escritor, ao questionar a função da mesma e da literatura. Tenho procurado ler toda a obra dele e todos os romances dele que li até o momento são irretocáveis (talvez “A grande arte” nem tanto) e sempre com uma simplicidade desconcertante. Fica aqui a dica para uma imersão nesse universo tão corrosivo e, ao mesmo tempo, tão familiar que é o retratado por esse gênio da nossa literatura.
Dica de Música: "Crossroads" (Tracy Chapman)

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Doce desespero

Desculpem, não resisti e coloquei o pôster da nova temporada da deliciosa série "Desperate Housewives". Ainda não expressei nesse blog o quanto gosto desse melodrama travestido de crítica social americana. Como estou sempre enrolado nos episódios, ainda não deu para formular um comentário mais amplo, mas a expectativa pela sexta temporada mexeu com a minha cabeça (rs). É mais ousado que uma novela e mais conservador que uma série da HBO, por exemplo, mas isso só torna a atração mais interessante. Assistam (o site Terra exibe os episódios gratuitamente) que a diversão (quase nonsense) é garantida.
Dica de música: "Doce vampiro" (Rita Lee)

Dízimo Pop !!!


Polêmica, controversa, prepotente. Ela é isso tudo e mais um pouco, mas é inegável seu manejo absurdo na oxigenação da cultura Pop ao longo desses mais de 20 anos de carreira. E agora com seu mais novo single lançado, confirmamos que ela não é quem é à toa. Bela produção para uma geração tão desconcentrada artísticamente. Simplesmente Madonna!

Joga pedra na Geni ???



Há alguns anos li numa matéria de jornal uma interessante definição de “Diva”: artista de talento e beleza que, invariavelmente, tinha vida marcada por eloqüentes dramas pessoais. Interessante, não? A frase foi completada com a afirmação de que hoje em dia não existiam mais exemplares desse título. Tudo certo que à época não existia uma tal de Amy Winehouse, mas se existe alguém que se encaixe perfeitamente nessa alcunha é a cantora Whitney Houston. Dotada de um talento vocal impressionante, sempre teve a vida marcada por dramas pesados, que rivalizavam com seu talento em exposição midiática. Após cerca de dez anos afundada com sérios problemas com drogas (os flagras em que a cantora estava visivelmente perturbada são clássicos da internet), ela retoma as paradas com o lançamento de seu mais novo cd “I look to you”. Todo o revés passado em sua vida trouxe conseqüências vocais bem nítidas. Para quem admirava a artista por suas histrionices vocais e agudos fortemente acentuados, pode se decepcionar. A Whitney atual entrega um desempenho vocal limitado (como percebemos no vídeo acima, de uma apresentação recente), acentuada pela impressionante presença que imprime nas canções. Como sempre gostei de sua voz independendo de agudos – acho sua leve rouquidão irresistível – o impacto para mim nem foi tão grande. Seu novo cd exprime nas letras a ânsia por renascimento e superação. Apesar de rezar a cartilha dominante do R&B, calcada na repetição rítmica, o cd também flerta com o soul setentista do Motown, em babas como “Millon Dollar Bill”, acertadamente escolhida para puxar o cd nas rádios americanas. As baladas “rasgadas” também marcam presença (a faixa título do cd é um exemplo máximo) embora de uma forma mais lúcida e no geral, o cd é correto e feito para agradar ao mercado atual americano (até porque, em tempos de crise não se pode arriscar). E pelo visto já agradou pois o cd está no topo da Billboard, com poucos dias de lançado por lá. Creio que um talento como Whitney precise agora é de auto-afirmação, principalmente por vir de problemas pessoais tão delicados (drogas, separação e afins). Se usasse isso mais em sua música como Amy Winehouse faz, o resultado sairia mais marcante, mas no momento, só o seu retorno já é um êxito a se considerar.
Pessoalmente, 2009 era um ano de expectativas por dois retornos anunciados: da própria Whitney (há mais de 7 anos sem gravar) e de Michael Jackson (que sempre fui fã). Infelizmente só ela voltou para continuar a firmar sua história... de diva (?!)

Dica de Música: a bela canção do vídeo acima!!!

terça-feira, 15 de setembro de 2009

King of Word ???


Eis que saiu o aguarado trailer do novíssimo filme de James Cameron, "Avatar". Não preciso nem dizer que o filme do diretor de "Exterminador do futuro 1 e 2" e "Titanic" vem sendo muito aguardado tanto por causa do jejum de mais de 10 anos do diretor sem dirigir, quanto pela expectativa gerada por esse projeto, que promete ser algo até então inédito em tecnologia cinematográfica. Os poucos sortudos que assistiram a uma prévia do filme em alguns países, incluindo Brasil, há um mês, disseram que é algo que sucumbe a tecnologia 3D (!!!). Em se tratando de Cameron, podemos esperar de tudo, afinal que não lembra da gestação polêmica e megalomaníaca de seu "Titanic". Gosto dele - e de sua ousadia - e também não vejo a hora de chegar dezembro.

Dica de Música: "Death in Vegas" (Dirge)

Estranha realidade...

Morreu ontem, dia 14, o ator Patrick Swayze, após dois anos de luta contra o cancêr no pâncreas. Nos últimos meses ele havia decidido parar o tratamento para ficar próximo da família. Conhecido por trabalhos em filmes como "Ghost" e "Dirty Dancing", o ator tinha acabado de encerrar seu trabalho como protagonista do seriado "The Beast" do canal A&E. Como ícone de uma época saudosa do cinema americano, fica aqui a homenagem.

Dica de Música: "Unchained Melody" (Righteous Brothers)

Brasilian Pie

“Você tem que se dar por satisfeita que eu ainda queira te ver pelada depois que inventaram a internet banda larga!”. A frase dita por Rui para sua noiva Vani pontua bem o nível do novo filme da franquia televisiva “Os Normais”, que também voltará para mais uma temporada na TV (Viva!), em 2010.
“Os Normais 2, a noite mais maluca de todas” é continuação do bom primeiro filme. É preciso admitir que o diretor, Jose Alvarenga, melhorou muito de um filme para outro. Enquanto o primeiro se ressentia de sua origem, quase como filme de estúdio, o segundo dá uma arrojada técnica, buscando um diálogo maior como cinema. Mas os grandes destaques do filme são mesmo duas mulheres: Fernanda Young, que em parceria (eterna) com o marido Alexandre Machado, bola as histórias bizarramente assimiláveis do programa e do filme, e Fernanda Torres, que consegue ser uma das atrizes mais espetaculares do mundo (premiada em Cannes!), mesmo com a mãe que tem.
Young, que sempre surpreende, não só pelos seus textos inconformados, mas também como apresentadora do hilário programa “Irritando Fernanda Young” (GNT), possui uma espécie de esquizofrenia criativa que rende trabalhos, no mínimo, singulares. A forma cínica como analisa a proximidade entre o cotidiano e o ridículo sempre dão o tom daquilo que externa, e no filme essa máxima é levada ao extremo.
Torres é uma atriz que consegue rir de si mesma com a mesma propriedade com que se leva a sério dando vida a um Tchecov. Essa inteligência cênica, aliado ao seu DNA poderoso faz com que a atriz precise de muito pouco para ganhar o espectador. Suas cenas no filme são sempre as mais engraçadas e espontâneas. Sem desmerecer o belo trabalho de seu parceiro, Luiz Fernando Guimarães, mas Fernanda é o tipo de atriz que faz graça até na falta dela.
O filme agrada bastante (no cinema que fui as gargalhadas eram ininterruptas), mesmo que muitas das piadas não funcionem (como a do bicho preguiça), mas isso é o preço do gênero. Young e seu marido souberam criar alternativas para seu casal de uma forma menos gratuita do que se esperava de um formato tão bem sucedido quanto esse. Claro que o elenco ajuda muito (incluindo aí as participações, como a de Drica Moraes), mas o bacana é se vê tomado pela proposta do filme e quando perceber já estar com a barriga doendo de tanto rir. O cinema brasileiro tem várias limitações mas fazer rir, desde a chanchada, sabemos fazer. E com os talentos contemporâneos dessas Fernandas, a dimensão só tende a aumentar (não à toa os EUA compraram os direitos do programa e pretendem fazer uma série similar na TV de lá). Se perto ninguém é normal, na tela grande então... Programa imperdível.

foto: Alexandre Machado, Fernanda Young (roteiristas), Luiz Fernando Guimarães, Fernanda Torres e o diretor do longa José Alvarenga.
Dica de Música: "Eu sou neguinha" (versão Vanessa da Matta)

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Males que vem para o bem...

O gênero de filmes de terror viveu, nos últimos anos, da influência estética do cinema oriental. Muito bem vinda, pois trouxe para o gênero, uma espécie de renovação, que foi preponderante para o sucesso desses filmes nos últimos anos, ainda que, como todo fenômeno, tenha chegado a saturação com seus irregulares remakes. Quando surge um filme de terror que desvia dessas vertentes desbotadas, o resultado é sempre satisfatório. “Arraste-me para o inferno”, novo filme de Sam Raimi é desse exemplo. Raimi surgiu para o mundo com filmes de terror de baixo orçamento, mas de altíssima qualidade como “Evil dead” de 1981, que se tornou cult em todo o mundo. Após quase dez anos dedicados a franquia “Homem-aranha” (inclusive já produzindo o quarto filme), o diretor voltou às suas raízes dirigindo esse filme, que conceitualmente remete ao início de sua carreira. “Arraste-me para o inferno”, conjuga o melhor do diretor: é tecnicamente artesanal, persuadindo o temor da platéia sem apelar apenas para os efeitos especiais (como seus filmes iniciais), e equilibrado na narrativa, já que o medo proposto na história é tão eficiente quanto a comicidade que o chamado “terrir” imprime em muitas das cenas ( essa dualidade de segmentos narrativos sempre contribuíram para a qualidade dos filmes de Peter Parker e Cia). Apesar da apatia de Alison Lohman, que de tão insossa quase perde a nossa torcida, o diretor consegue construir uma história crível e realmente assustadora (as cenas finais, com a atriz mexicana Adriana Barraza, que foi indicada ao Oscar por “Babel”, são muito bem feitas). A trama acompanha uma analista de crédito (Lohman) que recusa o pedido de uma velha senhora, o que faz com que perca a casa em que vive. Como vingança, ela joga uma maldição sobrenatural em sua vida. O filme funciona tanto como diversão, quanto como uma alegórica crítica ao capitalismo e sua influencia sobre os valores de cada um. Tudo isso sem recorrer aos batidos monstrinhos orientais com cabelos a ermo, subindo escadas ou emergindo da banheira.

Dica de Música: "Don't panic" (Coldplay)

Ser ou não ser?

Se a arte é mesmo produto de um estado de espírito, o novo e polêmico filme do controverso cineasta Lars Von Trier, “Anticristo” é a simbologia mais precisa desta máxima. Trier, que causou polêmica ao apresentar o filme no Festival de Cannes, disse que criou seu filme quando estava em avançado estado depressivo; e o longa aponta esse estado febril. A trama acompanha a via crucis de um casal que acaba de perder um filho, que cai de uma janela, enquanto os mesmos fazem sexo. Apesar de sua plástica remeter a um filme de terror, o diretor estimula o tom macabro mais para situar a dor da perda (e suas consequências de formas distintas) entre o casal do que para representar a produção como gênero. É um filme que choca. Choca pelos extremos com que as coisas são jogadas ao expectador: seja na explícita cena de penetração sexual no belíssimo prólogo do filme, seja pela crescente radicalização emocional da personagem interpretada com pulso pela atriz Charlotte Gainsbourg (responsável pela acusação de misoginia do filme), seja pelas opções semióticas que dão novos sentidos à lógica daquilo que vemos (como a fala de uma raposa). Confesso que não sei se gostei ou não. Na verdade, o filme comprova o extremo talento de Lars em filmar sua visão de mundo, um tanto complexa (como sua eterna fixação em desnudar a cultura americana) e quando consegue, é sempre transcendendo e desafiando aquele que se propõe a investigá-lo (“Dançando no escuro” é seu mais bem sucedido exemplo). “Anticristo” incomoda e impressiona, mas talvez não chegue de fato a um fim reflexivo. Seu prólogo e epílogo arrematam bem o preciosismo estético do cineasta (e um aperfeiçoamento de seus chiliques dos anos 90, como o tal movimento Dogma 95), mas seus objetivos, num âmbito mais geral de sua trama não ficam claros, creio que nem para ele mesmo. Enfim, é um filme de (bons) meios que tem dificuldade de justificar seus fins. Seria o choque por choque? Confesso que até hoje não consegui me responder.

Dica de Música: "Suicide Underground" (Air)

sábado, 5 de setembro de 2009

A lente da experiência

O diretor Daniel Filho acabou se tornando uma espécie de Woody Allen brasileiro. Calma, só por uma razão: consegue realizar um filme por ano, consecutivamente, e isso no cinema daqui, é de se admirar. Tudo bem que ele tem o valioso suporte da Globo Filmes, que é uma ajuda e tanto. Pois bem, já me iludi muito com o cinema de Daniel. Há alguns anos, entusiasmado com filmes como “A partilha” e o (realmente ótimo) “A dona da história”, cheguei a listá-lo como um de meus diretores favoritos, principalmente pela despretensão com que seus filmes se posicionavam. Hoje, com um tiquinho mais de experiência e maturidade (!?) vejo que Daniel é apenas um diretor de cinema que procura dialogar agressivamente com o grande público. Hoje avalio seus filmes sobre esse paradigma e as coisas ficaram até mais claras para mim.
Depois de conseguir a maior bilheteria nacional dos últimos anos com “Se eu fosse você 2”, Daniel apostou num projeto mais “pessoal” com seu novo filme, baseado numa incensada peça teatral de Bosco Brasil, “Novas diretrizes em tempos de paz”. “Tempos de paz”, o filme, procura andar nos caminhos da correção, mas que tropeça justamente ao tentar equilibrar essa adaptação narrativa. A trama mostra um ex-integrante da polícia política de Getúlio Vargas, o atual chefe da alfândega do Rio de Janeiro (Tony Ramos, como sempre ótimo) interrogando um ex-ator polonês (Dan Stulbach, também maravilhoso e retendo seus excessos emotivos), suspeito de ser nazista, que deseja entrar no Brasil. A trama é forte e fundamentada no diálogo tenso entre os personagens, que aos poucos vai se revelando como um ode ao teatro, ou a arte como válvula de escape para a vida. O roteiro – também do autor original – vai desnivelando o antagonismo em humanismo até seu fim catártico e verdadeiramente emocionante. Antes o diretor fizesse o filme ancorado apenas nessas matizes, mas ao tentar dimensionar o trama para as “exigências” do cinema, acabou criando tramas paralelas desnecessárias (o personagem do próprio diretor não diz a que veio) e que funcionam mais como arquétipos de uma intenção do que complemento de uma lógica. Daniel Filho é um diretor experiente e até muito esperto no tocante as amarras do cinema nacional, mas quando não pretende nada além de pegar sua câmera e filmar, tem resultados dignos de sua história.

Dica de Música: "Outono" (Djavan)

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Duas Caras

Não adianta, minha formação de cinéfilo é permeada em sua maioria pelo cinema americano. Quando descobri a magia cinematográfica européia (através do olhar idílico de Fellini), já estava enamorado por completo dessa arte. Por isso não sou tão radical à aversão a predominância dos filmes americanos. É uma indústria? Sim. Mas como tudo o que é macro, existe o cinema bom e o ruim, como em qualquer país (na França essa dualidade é bem definida). Quanto a questão da (violenta) distribuição, creio ser um problema mais “nosso” (com nossas leis e incentivos) do que “deles”. Assisti na última semana, a dois exemplos do bom e do dispensável cinema ianque: “Queime depois de ler” e “G. I. Joe”. O primeiro é um retorno dos irmãos Cohen a seara da comédia do absurdo, vertente essa que fez com que a dupla estourasse para o mundo com o delicioso “Fargo”. Dois anos depois de paparem o Oscar com o violento (mas não menos sarcástico) “Onde os fracos não tem vez”, os irmãos escreveram e dirigiram esse que é um dos filmes mais divertidos de suas carreiras. A história se desenvolve a partir de um cd que, contendo material confidencial escrito por um ex-analista da CIA, torna-se motivo de chantagem de dois funcionários bizarros de uma rede de academias. Esse fiapo de argumento estrutura uma visão irônica tanto dos filmes de espionagem, quanto da própria organização secreta dos EUA. Se a obra dos Cohen alcançou tal dimensão e respeito no mundo, é pela simples retórica de não se levar a sério, rendendo com isso boas oportunidades de análises e discussões (um bom exemplo é “O homem que não estava lá”). Com performances no mínimo interessantes de todo o elenco – Brad Pitt surpreende fazendo humor – o filme mostra a maturidade dos diretores, ilustradas no deboche com que enxergam suas próprias instituições. Um filme verdadeiramente divertido (para mim, melhor que o filme anterior) e ainda subversivo. Coisa dos Cohen...
Por outro lado “G. I. Joe”, famosos no país como “Comandos em ação”, dado o sucesso de seus brinquedos na década de 90, é uma amostra da “Hollywood” que não quer crescer. O cinemão americano atual tem dado mostras de que o casamento entre entretenimento (puro) e inteligência, pode sim render resultados práticos e artísticos (vide o êxito de “O cavaleiro das trevas” e da franquia “Spider man”). Stephen Summers, que fez um trabalho asséptico em “A múmia” e “Van Helsing”, não ajuda muito e a superprodução só se justifica pelos efeitos especiais rotineiros (alguma novidade?). Como não nutria nenhuma expectativa, saí do cinema como entrei.
Duas "obras" de uma cinematografia de muitas faces, mas essa multiplicidade nunca foi sinônimo de limitação, e é nisso que gosto de pautar minha falta de pré-conceitos bairristas.

Dica de Música: "Retirantes Remix" (Dorival Caymmi/ Dj Zé Pedro)