quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Duas versões do presente?


Assistindo sequencialmente às duas versões do filme “Fama” (o original, de 1980 e o remake, lançado ano passado), eu cheguei a uma indagação: Será que o mundo encaretou?
O filme original, dirigido por Alan Parker (do polêmico musical “Evita”) tinha a efervescência underground do início da década de 80 e isso conferia a trama um ar subversivo na visão sobre as ilusões juvenis de uma geração pós-libertação setentista. A própria dislexia do roteiro frente a multiplicidade de personagens, aponta para isso. Parece que Parker estava mais interessado em externar esse universo libertador, do que em focar nas histórias paralelas que gravitam o longa. Isso afeta alguns pontos, como o fato de apresentar algumas tramas bem interessantes e não desenvolvê-las. Por outro lado, as oportunidades cênicas para os atores são bem pulverizadas e aproveitadas.
Nesta nova versão, lançada quase no final de 2009 e dirigida por Kevin Tancharoen (coreógrafo e diretor de clipes de Madonna e Britney Spears) o discurso geracional é envernizado e o olhar (de certa forma) periférico do mundo, abolido. A crítica (e, pelo jeito, o público, já que fracassou na bilheteria) destruiu o filme, o que achei um exagero. Não é ruim. Em certos pontos consegue ser superior ao original, claro que com as facilidades dos tempos modernos. Na verdade, o que me incomoda é um certo conservadorismo com que o filme é levado. Óbvio que essa refilmagem foi feita para angariar o valioso público teen, carente de “High School Musical” e isso sacrifica sua natureza. Digamos que se eu fosse contemporâneo da primeira versão e fosse pautar o as coisas por esse remake,dos dias de hoje, ia achar o mundo atual bem insosso. Olhando esses dois filmes vemos que a energia jovial da época era bem mais libertária e interessante. Fora que o nível dos atores da primeira versão é muito superior à plasticidade da maiotia dos jovens atores da atual.
O novo filme tem lá seus bons momentos, inclusive a apresentação final é mais empolgante que sua matriz, mas é bem mais tragável se for assistí-la isoladamente, sem ter em mente a versão da década de 80... Se pela arte, vemos quanto o mundo encaretou (ou tornou-se pasteurizado???), tenho medo que para compreender o presente, tenhamos que imergir na realidade, em detrimento do (atual) cinema. Que medo...






Dica de Música: "Out Here on My Own" (Irena Cara)

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