Um cineasta vira grife quando sua obra não só fala por si, como também se auto justifica. Bertollucci é um exemplo perfeito: “Assédio”, seu filme de 1998, é asséptico frente à força estética do cineasta, mas ainda assim se insere no contexto “Bertolluciano”. Pode parecer conformismo diante de nomes intocáveis do cinema (nem sou um grande fã de Bertollucci), mas é apenas uma constatação de que talento e sensibilidade suplantam certas irregularidades em obras de gênios. E isso é ratificado com o lançamento do novo filme de Almodóvar “Abraços partidos”. Com exceção de “A flor do meu segredo” (1995), que eu não consigo gostar de jeito nenhum, todos os filmes de Almodóvar são invariavelmente acima da média. Seu domínio de suas cores e extremos (formais e afetivos) nos joga num turbilhão de sentimentos humanos, que revela o quão somos homogêneos frente às invariáveis da paixão. Mútua ou platônica.
“Abraços partidos” mostra um homem que perde a visão e a mulher da sua vida em um acidente de carro. Depois do desastre, ele passa a viver apenas sob o pseudônimo com o qual assinava obras literárias e roteiros, esquecendo-se de seu verdadeiro nome. Cuidado pelo filho de sua produtora, o homem acaba contando o que havia lhe acontecido há 14 anos.
A trama, que conjuga duas histórias paralelas, é personalizada por uma interessante homenagem ao cinema, usando os bastidores de uma filmagem, claramente inspirada num dos filmes mais originais do próprio diretor “Mulheres a beira de um ataque de nervos”. Como de costume, o noir e o melodrama ganham intimidade pela habilidade kitsh com que Almodóvar desenvolve suas tramas. O problema é que, apesar de, mais uma vez, o diretor conseguir imprimir um roteiro criativo e bem sustentado, o filme perde força em sua meia hora final, com uma reviravolta fraca e sem o brilho que a história vinha mantendo, inclusive dando a sensação de que Almodóvar não conseguira conter alguns excessos estilísticos. Não fosse pela hilária auto-referência que, praticamente, encerra o longa, “Abraços partidos” perderia muito de seu sentido final, que o redime de maiores críticas ao todo.
Um grande filme imperfeito de um dos cineastas mais humanos e instigantes da atualidade.
“Abraços partidos” mostra um homem que perde a visão e a mulher da sua vida em um acidente de carro. Depois do desastre, ele passa a viver apenas sob o pseudônimo com o qual assinava obras literárias e roteiros, esquecendo-se de seu verdadeiro nome. Cuidado pelo filho de sua produtora, o homem acaba contando o que havia lhe acontecido há 14 anos.
A trama, que conjuga duas histórias paralelas, é personalizada por uma interessante homenagem ao cinema, usando os bastidores de uma filmagem, claramente inspirada num dos filmes mais originais do próprio diretor “Mulheres a beira de um ataque de nervos”. Como de costume, o noir e o melodrama ganham intimidade pela habilidade kitsh com que Almodóvar desenvolve suas tramas. O problema é que, apesar de, mais uma vez, o diretor conseguir imprimir um roteiro criativo e bem sustentado, o filme perde força em sua meia hora final, com uma reviravolta fraca e sem o brilho que a história vinha mantendo, inclusive dando a sensação de que Almodóvar não conseguira conter alguns excessos estilísticos. Não fosse pela hilária auto-referência que, praticamente, encerra o longa, “Abraços partidos” perderia muito de seu sentido final, que o redime de maiores críticas ao todo.
Um grande filme imperfeito de um dos cineastas mais humanos e instigantes da atualidade.
Dica de Música: "Strange love" (Koop)
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