sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

O verdadeiro sonho americano

A grandiloquência do cinema de James Cameron continua imbatível, assim como sua capacidade de fazer o espectador se impressionar, como nos tempos áureos da construção daquilo que hoje se entende como indústria cinematográfica.
Há cerca de doze anos (Meu Deus!) o mundo parava para assistir a um dos filmes mais espetaculares de todos os tempos, “Titanic”, em que Cameron fundiu sua ambição artística e estrutural, numa das mais belas histórias de amor já retratadas em celulóide. “Titanic” foi tudo o que “...E o vento levou” tentou e não conseguiu ser, principalmente por levar a sério sua premissa melodramática, ainda que dialogando com suas bases de “cinema-catástrofe”. Esse equilíbrio sempre foi o grande responsável pelo talento do diretor em entreter a platéia, afinal, quem pode negar que por trás de toda a exuberância tecnológica (e revolucionária, para a época) de “Exterminador do futuro 2” (1991) o que mais ficava exposto na trama era a força da relação materna de Sarah Connor, em meio ao caos apocalíptico vigente.
“Avatar”, seu mais novo e badalado longa, se firma sobre esses paradigmas de Cameron. A suntuosidade do projeto (que começou a ser esboçado no distante ano de 1995) impressiona a cada take. Eu diria que ele faz com a tecnologia, o que Tim Burton faz com sua direção de arte: criam universos, dando-os identidade própria. Tudo em “Avatar” exala uma exuberância e organicidade impressionantes (principalmente para os que o virem em 3D) e se complementam com o discurso ecológico da história. A trama, com sua premissa clássica, ramifica o heroísmo em metáforas pertinentes ao nosso tempo. É como se o diretor (e também roteirista) procurasse espetacularizar nossa consciência. Mas, assim como em seus filmes anteriores, o que mais chama a atenção é mesmo o fato de ele conseguir dar forma a suas ambições e fazer parecer tudo tão simples. E o filme consegue respaldar essa capacidade de Cameron em nos fazer acompanhar suas perspectivas, como se fizéssemos parte delas. Isto seria o mais próximo que um mago real pode fazer, sob as ferramentas do cinema.
Se em “Titanic”, James Cameron bradou ao planeta que era “o rei do mundo”, em “Avatar” ele mostra-se mais provocador ao propor que o mundo não é o bastante para suas pretensões.


Um pequeno adendo sobre minha odisséia para assistir “Avatar”. Como não tenho o hábito de ir ao cinema ver filmes infantis (mesmo os ótimos filmes da Pixar), ainda não tinha tido a experiência de ver uma sessão em 3D, por isso fiz questão de que fosse assim. Foram necessárias quatro tentativas de ir ao cinema para conseguir ingresso para ver o filme (só vi coisa igual quando tive que ver o filme “Titanic” no chão de um cinema de rua, em 1998). Ainda assim, achando que na véspera de ano novo, ninguém ligaria para cinema, fui e, acredite, estava esgotado. Só consegui ver no dia seguinte, porque comprei antecipadamente. E já está virando tradição eu passar o primeiro dia do ano no cinema. Só que esse ano, com “Avatar” tive mais sorte, afinal, comecei 2009 assistindo a “Sete Vidas”, com Will Smith, um filme tão pretensioso quanto insuportável.

Dica de Música: “Samba de verão” (Caetano Veloso)

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