segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Se chorei ou se sofri...

“Acima de inúteis expectativas
Ridicularizado pelos deuses
E agora o lance final
O amor é um jogo de azar”

Esse trecho da tristíssima canção de Amy Winehouse “Love is a losing game” resume (muito) bem o filme “Amantes”, novo filmaço do cineasta promissor James Gray (“Caminho sem volta” e “Os donos da noite”). Apesar de seus títulos (tanto o original “Two Lovers”, quanto o brasileiro) remeterem ao gênero romântico (o que não é um demérito, pois soa até irônico) o filme é um drama humano bem mais universal, principalmente por ser protagonizado por um homem, o que já confere uma retórica aos exemplares recentes. A maneira como o filme destrincha sua trama, busca suplantar a conhecida premissa do homem dividido entre duas mulheres, pela sinceridade que se estabelece entre o amor por fuga e por compensação. É quando o sentimento se revela tão cruel quanto assimilável. O ator Joaquim Phoenix dá vida ao (literalmente) atormentado Leonard, recém saído de uma relação traumática, onde fora abandonado por incompatibilidades. De tradicional família judaica, Leonard é cooptado pelos pais a se aproximar de uma pretendente da mesma comunidade. Ao mesmo tempo em que conhece uma vizinha (interpretação luminosa de Gwyneth Paltrow) com tormentos emocionais tão ou mais profundos que o dele. A aproximação entre os dois é imediata e o conflito está estabelecido.
Muito mais do que contar os revezes de um triângulo amoroso, Gray está interessado em investigar as profundezas dos sentimentos humanos. E o filme procura isso: questionar as certezas que temos (ou queremos ter) daquilo que seus personagens sentem. Ou seria carência àquilo que pensamos ser amor? As escolhas que fazemos são certezas ou compensações?
Phoenix divulgou que esse seria seu último filme como ator, já que agora que se dedicar a carreira de rapper (!!!). Sua sanidade vem sendo questionada desde suas últimas aparições bizarras, como na já clássica participação no programa de David Letterman. Por isso, nem sei se a precisa atuação dele no filme é uma interpretação ou ele mesmo (!). Destaco também a surpreendente aparição (totalmente desglamourizada) de Isabella Rosellini, que faz a mãe judia de Leonard com dignidade, e a fotografia de tons soturnos, que dá a impressão de isolamento, tão presente em cada personagem do longa.
“Amantes” figura ao lado de “Closer”, “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”, “Match Point”, Fale com ela” e “Antes do pôr do sol”, como um dos grandes dramas humanísticos (travestidos de simples romances) da década.
Amy Winehouse tinha razão...


Dica de Música: "Love is a losing game" (dela)

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