“Confie em mim
Confie em mim
Ponha toda a sua confiança em mim
Você está tomando morfina.”
Esse (agora) revelador trecho da música “Morphine” de Michael Jackson expõe bem a sensação real e metafórica que o esperado documentário “This is it” perpassa a cada segundo na tela.
Nem preciso dizer que a razão do súbito lançamento desse filme, que mostra os bastidores do que seria o grande retorno aos palcos de Michael, é puramente mercantilista. Quase uma moratória de luxo para o prejuízo que essa morte causou (ou causaria?) aos bolsos de seus investidores. Para nós, fãs ou somente espectadores, nos interessa o resultado prático e artístico dos últimos momentos desse genial artista no palco.
Kenny Ortega, craque na direção de musicais, mostra extrema habilidade na condução de seu delicado material, tanto em termos técnicos (com uma edição um tanto competente), quanto em termos de manejo de sensibilidade. Vamos combinar que, excetuando a receita de bolo usual de seus filmes para a Disney, como “High School” e afins, é inegável sua despojada visão artística, para transformar o audiovisual em espetáculo, e foi essa expertise que ele levou para a edição das imagens que tinha.
Diferente do que muitos imaginavam, “This is it” não é um documentário sobre a vida de Michael, apenas um complexo mosaico do que ele era quando seu universo limitava-se a sua própria arte. E o filme é isso. Ali vemos que o frágil e perturbado homem por trás do mito, só encontrava suas razões pessoais em cima de um palco, pois era na ilusão, e isso desde os tempos de espancamento e glória dos “Jackson Five”, que ele encontrava a fuga necessária para sua sobrevivência. Não cabe aqui fazer juízo de valor sobre suas complicações pessoais, até porque o que julgo é o filme e, por mais reflexos que isso traga de uma maneira geral, sua unanimidade era mesmo na arte, pois a vida (por culpa própria ou não) sempre lhe fora bem complicada.
Seria um grande show, em todos os termos. Michael ainda tinha muito a mostrar. Pena que hoje, tudo o que se refere a isso, fica na base do “Se...”. Sendo assim, nem a morfina tem mais o poder remediador que tanto aliviou o astro.
Dica de Música: "Rubi" (Ray Charles)
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