“O fim da escuridão” marca o retorno de Mel Gibson, após quase dez anos (seu último trabalho como ator foi em “Sinais”), tempo este em que ficou mais direcionado para a direção, em dois filmes polêmicos, o subestimado (mas perturbadoramente eficiente) “A paixão de Cristo” e o tecnicamente vigoroso “Apocalipto”. O filme, dirigido por Martin Campbell (que fez bonito em “Cassino Royale”) é inspirado numa minissérie de TV britânica, de 1985, onde o detetive Craven (Gibson), viúvo e solitário, busca esclarecer o porquê do assassinato de sua única filha, morta em sua frente, na porta de casa (a cena do fato é de um impacto gráfico impressionante). Craven conjuga a dor da perda em obsessão e acaba por desvendar um esquema muito mais complexo por trás dessa barbárie pessoal. Se o filme mantém-se fiel às suas premissas do gênero thriller, até pela expertise de Campbell na condução de cenas impactantes como contraponto à tensão quase silenciosa de uma narrativa dessas, ele acaba por perder todo o seu potencial dramatúrgico uma conclusão surreal e inteiramente dissonante. O roteiro de Willian Monahan (que fez um excelente trabalho no ótimo “Os infiltrados” de Scorcese) e Andrew Bowell acaba por não justificar um final tão anticlimático. Já Mel Gibson imprime toda a fúria necessária para que entendamos sua total imersão numa investigação cada vez mais obscura e pessoal. Na pulsação de sua ira “auto-justiceira”, o ator acaba por evocar a “bravura indômita” de um Clint Eastwood de outrora. E, acima da inacreditável irregularidade de sua condução, o filme acaba valendo mesmo por essa energia que Gibson extrai de sua personagem.
Dica de Música: "Cuidado" (Barão Vermelho)
Nenhum comentário:
Postar um comentário