terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Lágrimas amargas de...

“Preciosa” é um filme pequeno, quase independente, que vem conquistando premiações desde que surgiu no Sundance, arrebatando o Grande Prêmio de júri. Claireece "Preciosa" Jones (Gabourey Sidibe) é uma adolescente de 16 anos que sofre uma série de privações durante sua juventude. Violentada pelo pai (Rodney Jackson) e abusada pela mãe (Mo'Nique), ela cresce irritada e sem qualquer tipo de amor. O fato de ser pobre e gorda também não a ajuda nem um pouco. Além disto, Preciosa tem um filho apelidado de "Mongo", por ser portador de síndrome de Down, que está sob os cuidados da avó. Quando engravida pela segunda vez, Preciosa é suspensa da escola, partindo assim, para uma escola alternativa, que possa ajudá-la melhor a lidar com sua vida. Lá Preciosa encontra um meio de fugir de sua existência traumática, se refugiando em sua imaginação. Sei que o roteiro remete aos costumeiros filmes de superação, tão comuns no mercado americano (de bombas como os diversos telefilmes da Disney até acertos como “À procura da felicidade”, com Will Smith), mas a produção de Lee Daniels não se ressente nunca de sua verve independente e isso equilibra a dramaticidade da história com certa crueza na condução dos fatos. O nível de realismo comunga da mesma cartilha que as doses de fantasia que Daniels ilustra os devaneios de sua protagonista. Está justamente nesse equilíbrio o grande avanço que o filme faz para o seu “gênero”: retrata a dor sem sucumbir às lágrimas gratuitas. O inusitado elenco – que conta com a superestimada participação de Mariah Carey e uma boa presença de Lenny Kravitz – é uma história à parte. Mo’Nique, uma conhecida comediante americana, impõe sua personagem pela vitalidade com que aparece na tela. Suas cenas são intensas e barulhentas, na medida certa. Contrariamente, a protagonista, vivida por Gabourney Sidibe, em seu primeiro papel no cinema, arranca expressividade na contenção com que externa suas dores e sonhos, numa interpretação baseada na desconstrução do personagem sob a ótica do instinto. É um filme doloroso e incômodo, e seu final nos leva a conclusão de que a auto-indulgência pode ser tão nociva quanto a autocomiseração.
Dica de Música: “Trenzinho caipira” (Partimpim II)

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