O que é a “A festa da menina morta”? Creio que muita gente que tenha visto o primeiro filme dirigido pelo ator Matheus Nachtergaele, esteja se fazendo esta pergunta. Matheus, também criador do roteiro do longa, faz sua estréia na direção com um filme singular numa cinematografia tão estigmatizada como a nossa. Muito influenciado (ainda que superior) pelo cinema de extremos do diretor pernambucano Cláudio Assis (dos brutais “Amarelo manga” e Baixio de bestas”), Matheus procura investigar a cultura do sincretismo em uma região pouco explorada em nossa cultura, a população ribeirinha, no Amazonas. Ali somos levados a submergir nos paradoxos de dogmas criados para a sobrevivência daquele universo, sem espaços para relativização de crenças e modos de vida. É interessante notar que no núcleo de tudo aquilo que nos é incomodamente apresentado, está a percepção de que o filme faz um doloroso retrato de como a perda materna pode ser nociva a um indivíduo. O diretor assumiu que, nesse sentido, o filme é “meio autobiográfico”, já que o mesmo é órfão materno. Dizer que se trata de um filme intenso é cair no lugar comum, mas ao dimensionar esse aspecto familiar do protagonista Santinho, vivido com fervor pelo ator Daniel de Oliveira, Matheus mostra claramente que seu filme casa a força de sua dualidade artística e sensorial.
Destaque para (todo) o elenco maravilhoso (onde o diretor arrumou aquele elenco de apoio), em especial o já citado Daniel de Oliveira, firmando seu nome como um dos melhores de sua geração, Julio Cazarré e Jackson Antunes, de uma maturidade impressionante. Enfim, respondendo a pergunta com a qual iniciei este post, digo que “A festa da menina morta” é como uma dose de conhaque, após o amargo inevitável, a ressaca pode ser reveladora.
Dica de Música: "A Kaleidescope" (James Horner)
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