quarta-feira, 29 de julho de 2009

Gripe Allen


Essa onda de gripe (ainda que não a suína) acabou por me pegar e apesar do desconforto da situação, fiquei quase uma semana imerso em filmes e séries, vistos sob o edredom, em meu quarto. Pensando bem, nada mal, né?
Bem, atualmente estou acompanhando “taradamente” três séries: “Lost”, “Mad Men” e a teen “Gossip Girl”. As três são muito boas (“Lost” é uma obra-prima perturbadoramente viciante) e breve comentarei por aqui. Hoje vamos falar dos diversos filmes que assisti nesta minha quase quarentena...
Fiz um cardápio bem variado começando com o clássico francês “Hiroshima, meu amor” de Alain Resnais. Primeiro filme dele, impõe-se como um exercício estilístico sobre o tempo, onde a teatralidade das cenas imprimem o tom literário de seu discurso. Confesso que, apesar de seu prelúdio de uma riqueza impressionante para um, então iniciante, não fui tão sensível a história. Nem digo que esse ruído esteja atrelado à sua linguagem, mas sim ao fato de que um estilo por vezes sufoca uma possível absorção.
Vi também “A lista – Você está livre hoje?”, filme estrelado, mas inversamente proporcional no tocante à qualidade. Dirigido pelo diretor estreante, o publicitário suíço Marcel Langenegger, o longa ambiciona um clima de suspense “modernoso”, mas é plástica pura, já que seu roteiro (assinado pelo veterano, Mark Bomback, o mesmo de "Duro De Matar 4.0") é um misto de absurdo com clichês, resultando num filme inacreditável. Nunca um bom elenco (Ewan McGregor, Hugh Jackman – bem como vilão – e a gracinha Michelle Williams) salva o filme.
E assisti a três Woody Allen de fins da década de 70 e da de 80: os ótimos “Manhattan”, “Zelig” e “Crimes e pecados”.
“Zelig” é um falso documentário criado pela mente genial de Allen que relativiza o senso comum de uma sociedade. A capacidade do autor em criar universos que mesclam paródia e verossimilhança em um mesmo contexto é impressionante. Com certeza, é um de seus melhores momentos.
“Crimes e pecados” foi tido como matriz de sua obra-prima mais recente “Match Point” (2005). Apesar do filme ser de 1989 (que saudades de minha época maternal...) só fui assisti-lo agora. De fato, o argumento dos dois filmes é o mesmo, inspirado em “Crime e castigo”, do russo Fiodor Dostoieviski. Mas a condução e a visão de mundo expressa em ambos são distintas. Em “Match Point”, Allen está mais pessimista sob o prisma de seus mais de 70 anos. No filme oitentista, também muito bom, percebe-se que o cineasta trafega pela linha tênue entre o senso de realismo e a perspectiva de uma contradição. Inclusive a estrutura semiótica do longa aponta essas possibilidades. “Crimes e pecados” é reflexão na veia.
E fiquei imensamente apaixonado por “Manhattan” (Cuja bela fotografia de uma cena antológica ilustra esse post). Que filme lindo, em todos os aspectos. Tanto como homenagem a sua tão professada New York, tanto como uma cruel visão dos sentimentos, ironizando os estigmas etários que estabelecem as relações amorosas. Agora compreendo a razão deste filme ser tão celebrado. É por filmes assim que a ciência de ter de ficar a base de dipironas e afins foi bem mais palatável.

Dica de música: "Night and Day" (Rod Stward)

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