E mais uma vez o cinema brasileiro fica tentando encontrar seu nicho de indústria. Isso não tem nada de ruim, apenas é artísticamente delicado. Muita Calma Nessa Hora vai nessa vertigem, em busca de um público específico (os adolescentes em férias de verão), com receita azeitada (comediantes tarimbados da TV).
Dirigido por Felipe Joffly, e escrita pelo comediante Bruno Mazzeo, junto com João Avelino eRosana Ferrão, a comédia é toda estruturada para agradar aos adolescentes que lotam os shoppings dos grandes centros. Contando a história de três amigas (Andréia Horta, Fernanda Souza e Giane Albertonni, que não incomodam e depois entra Débora Lamm, sempre muito a vontade, em um papel “bicho grilo” bem ingrato) que partem para um fim de semana em Búzios, dispostas a extravasarem suas frustrações pessoais, a trama evoca a força de seu elenco televisivo para transferir ao veículo cinematográfico a graça que são suas marcas, como Marcelo Adnet, Marcos Mion, Lucio Mauro Filho e até Sérgio Malandro.
Felipe pouco pode fazer com o “material bruto” que tinha em mãos, apesar do elenco até ser interessante (Andréia Horta, pelo visto tem dado mais sorte em seus papéis televisivos, tendo estado nos ótimos Alice, na HBO e A Cura, Globo). Mas é impossível não sentir uma sensação estranha ao ver esse trabalho e comparar com seu ótimo filme anterior, o contundente Odiquê, um dos melhores filmes sobre o universo jovem já produzidos.
Talvez o grande problema do filme seja mesmo o esquematismo com que vai desnivelando sua história, fazendo com que tudo soe banal e forçado. Mas do que confiar apenas no gênero e no carisma engessado de seus atores, o filme ainda subestima demais o seu público ao não dar uma coerência a seu próprio argumento, já que depois de meia hora de apresentação de personagens e conflitos (!!!), tudo vira uma secessão de galhofas humorísticas que não devem em nada aos programas de humor arcaicos que infestam nossa TV.
Mesmo com o sucesso que vem fazendo (rompeu a barreira do milhão de espectadores), há de se refletir sobre qual caminho o cinema brasileiro precisa trilhar para ser encarado como indústria, e não uma tentativa do mesmo.
Dica de Música: "Balada do amor inabalável" (Skank)
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