Após o inusitado Oscar por “Crash”, o diretor Paul Haggis só fez aumentar o seu prestígio em Hollywood. Mesmo que esse seja seu filme mais irregular e equivocado, Haggis se destaca pelos roteiros, que ele mesmo escreve e a forma desencantada com que os filma.
Neste seu novo filme, “72 Horas” (The Next Three Days, 2010), refilmagem do francês “Pour Elle”, ele ainda consegue adaptar com enorme segurança, e ainda deixar impresso sua marca dramatúrgica: as vias que definem a ambiguidade de quem achamos que conhecemos bem.
John (Russel Crowe) e Lara (Elizabeth Banks) formam um casal apaixonados que tem uma vida aparentemente tranquila, com seu filho. Até que numa manhã a vida deles ganha um tensa reviravolta.
Acusada de assassinato, Lara é levada pela polícia enquanto John mal consegue conter o desespero de seu filho de três anos que, assustado com a invasão, só consegue chorar. Julgamentos e apelações depois, John faz de tudo para provar a inocência de sua esposa e criar, com a ajuda de seus pais. Quando seu filho está cada vez mais distante, a esperança de Lara esvazia e ela se torna suicida, John parte então para uma atitude igualmente desesperada: vai criar uma forma de tirar sua esposa da prisão.
Haggis estrutura seu filme sob a lógica da tensão e da emoção. Apesar da identidade de thriller, o filme na verdade é uma urgente história de amor e talvez seja essa a grande sacada da produção. O amor incondicional desse marido traz humanidade aos absurdos que as situações apresentadas no decorrer da história evocam. E acompanhar toda aquela via crucis de John, sem saber se suas razões são justificáveis ou se seu esposa é mesmo inocente dá uma adrenalina, no mínimo interessante na assimilação daquele drama. E nisso, Haggis sempre é mestre uma vez que ao sempre trabalhar na linha da dualidade, seja de caráter, seja de discurso, acaba por abrir muitas possibilidades para um discussão mesmo durante seus filmes.
O ator Russel Crowe está simplesmente fenomenal (páreo para seu excelente trabalho em “O Informante”) conseguindo transcender toda a gama de desespero e passionalidade que seu personagem exige. Diria que merecia muito uma indicação ao Oscar 2011 (muito mais do que o inexplicável Oscar que ganhou pelo apenas correto “Gladiador”). Ele ajuda a tornar o filme possível, do ponto de vista da verossimilhança.
“72 Horas” não é perfeito, mas é um atestado de que Paul Haggis sabe (ainda) muito bem manipular os signos da dramaturgia cinematográfica.
Dica de Música: "Flores" (Titãs e Marisa Monte)
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