Histórias que retratem o caminho árduo de artistas em busca de uma oportunidade (ou apenas fama!) são muito comuns. De Fame (filme e série, do final da década de 70 e início de 80) à (de certa forma) Glee, todos retratam sempre uma superação, muitas vezes pessoais, tematizando com números musicais e afins. Isso explica a crescente onde de realities shows como American Idol, The X factor e Britain’s Got Talent.
O diretor teatral João Fonseca, ele próprio um protagonista dessa odisséia, uma vez que veio do nordeste para o Rio de Janeiro, no início da década de 90, com o mesmo fascínio “com o lado sul do país” em busca de uma carreira no teatro passando por seus percalços, resolveu colocar no teatro essa ilustração de uma forma um tanto democrática: criou a Cia Instável de Teatro, após uma longa seleção com atores desconhecidos de todo canto do país. Fez-se Clandestinos. A própria seleção foi insumo para o roteiro da peça, o que trouxe um grande volume de verdade a alegoria final da história. Trata-se de arquétipos muito bem construído de personagens comuns nesse universo sugerido. Tem a atriz gordinha, cansada de ser a coadjuvante da principal, tem o ex-modelo que luta para ser levado a sério, o diretor envolto com suas idiossincrasias artísticas, sendo debatido pela razão de sua produtora… São signos de uma metalinguagem anunciada que, na verdade, joga a luz sobre como cada história de vida ali exposta, fala um pouquinho de nosso país com suas contradições. E esta é uma espécie de fixação de Falcão: falar sobre contradições, como nos notórios espetáculos A dona da História e A máquina (ambos ganharam boas adaptações para o cinema). Clandestinos preserva a conhecida criatividade cênica do diretor, usando muito bem os espaços do palco e preenchendo assertivamente as marcações denotáveis. Amparado por um roteiro esperto, que aproveita bem o foco de sua narrativa, com piadas inteligentes e espaços oportunos para os atores mostrarem seus talentos, o espetáculo é muitíssimo agradável. Daqueles de sair do teatro bem melhor do que entrou. Nem lembramos que aquela história já foi contada tantas vezes. Mérito de João que, sabendo do potencial de seu argumento, soube brincar dentro de um terreno que conhece muito bem, como tema (uma quase biografia) e como gênero (a comédia, que permeia seus trabalhos).
Óbvio que esse sucesso todo ia acabar alcançando a TV. Eis que estreou mês passado a série “Clandestinos, O Sonho Começou”, também dirigido por João, com direção de núcleo do craque Guel Arraes. A atração global preservou a variação de linguagem, que a peça sugere, mas creio que quem assistiu o espetáculo perceba que na TV a história fica incomodamente engessada. Talvez esquematizar demais o “conto” de cada um dos quase 14 personagens da peça, tenha enfraquecido seu impacto. Mas ainda assim é um enredo forte, que pode ser mais bem explorado.
Se cada país tem o Glee que merece, nós até que estamos bem representados.
O diretor teatral João Fonseca, ele próprio um protagonista dessa odisséia, uma vez que veio do nordeste para o Rio de Janeiro, no início da década de 90, com o mesmo fascínio “com o lado sul do país” em busca de uma carreira no teatro passando por seus percalços, resolveu colocar no teatro essa ilustração de uma forma um tanto democrática: criou a Cia Instável de Teatro, após uma longa seleção com atores desconhecidos de todo canto do país. Fez-se Clandestinos. A própria seleção foi insumo para o roteiro da peça, o que trouxe um grande volume de verdade a alegoria final da história. Trata-se de arquétipos muito bem construído de personagens comuns nesse universo sugerido. Tem a atriz gordinha, cansada de ser a coadjuvante da principal, tem o ex-modelo que luta para ser levado a sério, o diretor envolto com suas idiossincrasias artísticas, sendo debatido pela razão de sua produtora… São signos de uma metalinguagem anunciada que, na verdade, joga a luz sobre como cada história de vida ali exposta, fala um pouquinho de nosso país com suas contradições. E esta é uma espécie de fixação de Falcão: falar sobre contradições, como nos notórios espetáculos A dona da História e A máquina (ambos ganharam boas adaptações para o cinema). Clandestinos preserva a conhecida criatividade cênica do diretor, usando muito bem os espaços do palco e preenchendo assertivamente as marcações denotáveis. Amparado por um roteiro esperto, que aproveita bem o foco de sua narrativa, com piadas inteligentes e espaços oportunos para os atores mostrarem seus talentos, o espetáculo é muitíssimo agradável. Daqueles de sair do teatro bem melhor do que entrou. Nem lembramos que aquela história já foi contada tantas vezes. Mérito de João que, sabendo do potencial de seu argumento, soube brincar dentro de um terreno que conhece muito bem, como tema (uma quase biografia) e como gênero (a comédia, que permeia seus trabalhos).
Óbvio que esse sucesso todo ia acabar alcançando a TV. Eis que estreou mês passado a série “Clandestinos, O Sonho Começou”, também dirigido por João, com direção de núcleo do craque Guel Arraes. A atração global preservou a variação de linguagem, que a peça sugere, mas creio que quem assistiu o espetáculo perceba que na TV a história fica incomodamente engessada. Talvez esquematizar demais o “conto” de cada um dos quase 14 personagens da peça, tenha enfraquecido seu impacto. Mas ainda assim é um enredo forte, que pode ser mais bem explorado.
Se cada país tem o Glee que merece, nós até que estamos bem representados.
Dica de Música: "E depois" (Seu Jorge)
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