terça-feira, 18 de agosto de 2009

Duas formas de (se fazer) amar!

Dois filmes, duas sentenças. Assisti recentemente a dois filmes que se configuram no gênero romance (e suas desinências) e retratam bem a pluralidade qualitativa do cinema americano contemporâneo. De um lado (e bem atrasado, de minha parte), o tratado sobre relações de Richard Linklater no encantador “Antes do pôr-do-sol”, filme de 2004, que inacreditavelmente ainda não tinha visto. Do outro, o filme de cartilha “A proposta”, com a carismática Sandra Bullock, recentemente lançado nos cinemas.
Dirigido por Anne Fletcher (de “Vestida para casar”), “A proposta” anda fazendo sucesso nas bilheterias mundiais (conseguiu ultrapassar a marca dos 100 milhões no furioso mercado doméstico de verão, em meio a “arrasa quarteirões” como “Harry Potter” e “Transformers”) com uma receita simplória (não simples) daquilo que se vende no gênero, desde o tempo de Meg Ryan: comédia romântica com pegada nonsense e final feliz para agradar o público sensível. Tudo muito previsível e calculado. Ryan Reynolds tem boa liga com Bullock, o que torna a produção digerível, mas a picaretagem na condução final do roteiro aborrece. Ou não, já que é um filme para se esquecer antes dos créditos finais.
Considerado, junto com “Closer” e “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”, como um dos melhores filmes românticos de anos 2000, “Antes do pôr-do-sol” é a antítese do filme acima. Até porque, assim como os demais congratulados, é um filme romântico mas sem romantizar a sua própria premissa. Precedido pelo bom “Antes do Amanhecer” de 1995, o filme mostra o reencontro dos protagonistas Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy) anos depois, onde passam algumas horas a discutir o que aconteceu em suas vidas neste hiato de tempo. O filme se sustenta nesse diálogo recorrente, tendo Paris como cenário. A fluência das idéias, a espontaneidade das discussões e o coloquialismo do roteiro falado são fundamentais para o fascínio e persuasão que o filme exerce sobre o atento espectador. E é interessante observar como a maturidade emocional é relativa e subjetiva quando nossos sentimentos são confrontados, ainda que desmedidamente. Esse estranho conforto no desconforto de um reencontro é que dá o tônica do que é visto na tela. Para adentrar naquele universo requer que entremos no filme com atenção – até porque é todo pautado no diálogo – mas, realmente, vale muito a pena pois a verborragia está ali como complemento já que são as reações ao outro que sublimam a verdade da produção. E, num dos finais mais lindos e tocantes da História do cinema, o filme encerra – se com uma belíssima canção de Nina Simone: “Just in time”, que diz tudo o que foi dito, visto e sentido até ali. Maravilhoso.
São duas faces de Hollywood que, no mínimo, poderiam se complementar.


Dica de Música: "Just in time" (Nina Simone)

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