Em fevereiro de 2006, eu fui um dos 1,5 milhão de pessoas espremidas nas areias de Copacabana, para assistir ao histórico show dos Rolling Stones pela turnê “A bigger band”. Apesar de simpatizar com a história da banda e achar que músicas como “Sympathy for the Devil” e “Satisfaction” são de qualidades atemporais, não sou dos mais apaixonados pela trupe senil de Mick Jagger. Estava ali mais pela importância do espetáculo.
Na última sexta-feira (dia 20) fui assistir ao primeiro show da banda inglesa Radiohead no Brasil, na Praça da Apoteose, no Rio. Ao contrário dos Stones, a banda, liderada por Thon Yorke, sempre suscitou em mim grande admiração, principalmente pelo “poder” transcendental de suas melodias e complexidade das letras.
Analisando os dois shows, vejo que os caminhos do rock, ao longo do tempo, foram se diversificando não só de acordo com a demanda, mas também com a percepção artística de seus agentes. O som etéreo dos Stones serviu de contraponto ao “formosismo” de um certo grupo, de muito sucesso, chamado The Beatles (alguém conhece?) em meados dos anos 60. Essa peculiaridade fora o grande responsável por marcar o anárquico quinteto como os grandes astros do rock mundial. Mas é inegável que os Rolling Stones nunca subverteram sua própria subversão. Nesse show em Copacabana, há mais de três anos, essa impressão ficou ainda mais forte. O espectador assistia a toda misé-em-cene de Jagger com olhos apaixonadamente passivos. Havia muita veneração e pouquíssima vibração, que é vital para um show como esse. E vibração, nas mais difusas vertentes do termo, foi o que não faltou na Apoteose com o Radiohead. No campo da veneração, tínhamos a expectativa de ser o primeiro show no Rio. Poder visualizar, em casa, toda a melancolia cinza de um bom som londrino era de causar picardias em corações mais fracos, por isso, quando pontualmente o show se iniciou com a multifacetada “15 step”, os quase 30 mil presentes foram ao delírio. Consegui um vídeo feito por um presente no exato momento: apesar da qualidade ruim dá para ter uma idéia do que foi http://www.youtube.com/watch?v=f3RLQxGfH48
Com seu psicodelismo melódico e uma presença irrepreensível no palco, o grupo fez valer o tempo de espera para vir ao Brasil. Com um cenário ricamente funcional, em que a iluminação apoteótica representou bem a subversão estilística da banda, vimos que Yorke e cia conseguem fazer no palco aquilo que tão bem produz no estúdio: um show de belíssimas abstrações sonoras, principalmente nas músicas “nude” e "Everything in its right place", tecnicamente idênticas aos dos cds. Aliás, todo o show foi assim, à exceção do hino maior “Paranoid Android”, que perdeu um pouco do lirismo na versão ao vivo.
Um espetáculo como esse chega a ser uma experiência transcedental, como defini no início. Vi homens aos prantos em certas músicas. Thon Yorke, no vocal, traduz sim, toda a melancolia de uma geração em canções que diluem o rock do progressivo resultando em obras-primas como “Creep” (muito pedida pelo público) e “Jigsaws falling into place” (do último e ótimo cd “In rainbow”). Esse vídeo é uma mostra do preciosismo da banda http://www.youtube.com/watch?v=TAhrVfAp-5U&feature=PlayList&p=D62C29A2B3F08A2C&playnext=1&playnext_from=PL&index=9
Infelizmente não cheguei a tempo de assistir ao retorno dos Los Hermanos, que abriram o show, assim como o Kraftwerk (que até ouvi de longe, mas os achei datados demais), entretanto, o show principal me bastou. Foi curioso ver Yorke agradecendo ao fim das músicas com um “Obrigado!” em português vacilante (inclusive o guitarrista Ed O’Brien gritou um “Bom pra caralho!” empolgado, ao fim de uma canção). A certa altura, um rapaz ao meu lado, comentou embasbacado com um amigo: “Pô, essas músicas cravam na alma!”. E foi com a alma cravejada dessa liturgia, que quase peguei um avião com destino a Londres, para me infurnar num pub enfumaçado e tentar entender de onde vem tamanha inspiração. E, para ter essa sensação, nem foi preciso estar num show grandiloquente em Copacabana.
Na última sexta-feira (dia 20) fui assistir ao primeiro show da banda inglesa Radiohead no Brasil, na Praça da Apoteose, no Rio. Ao contrário dos Stones, a banda, liderada por Thon Yorke, sempre suscitou em mim grande admiração, principalmente pelo “poder” transcendental de suas melodias e complexidade das letras.
Analisando os dois shows, vejo que os caminhos do rock, ao longo do tempo, foram se diversificando não só de acordo com a demanda, mas também com a percepção artística de seus agentes. O som etéreo dos Stones serviu de contraponto ao “formosismo” de um certo grupo, de muito sucesso, chamado The Beatles (alguém conhece?) em meados dos anos 60. Essa peculiaridade fora o grande responsável por marcar o anárquico quinteto como os grandes astros do rock mundial. Mas é inegável que os Rolling Stones nunca subverteram sua própria subversão. Nesse show em Copacabana, há mais de três anos, essa impressão ficou ainda mais forte. O espectador assistia a toda misé-em-cene de Jagger com olhos apaixonadamente passivos. Havia muita veneração e pouquíssima vibração, que é vital para um show como esse. E vibração, nas mais difusas vertentes do termo, foi o que não faltou na Apoteose com o Radiohead. No campo da veneração, tínhamos a expectativa de ser o primeiro show no Rio. Poder visualizar, em casa, toda a melancolia cinza de um bom som londrino era de causar picardias em corações mais fracos, por isso, quando pontualmente o show se iniciou com a multifacetada “15 step”, os quase 30 mil presentes foram ao delírio. Consegui um vídeo feito por um presente no exato momento: apesar da qualidade ruim dá para ter uma idéia do que foi http://www.youtube.com/watch?v=f3RLQxGfH48
Com seu psicodelismo melódico e uma presença irrepreensível no palco, o grupo fez valer o tempo de espera para vir ao Brasil. Com um cenário ricamente funcional, em que a iluminação apoteótica representou bem a subversão estilística da banda, vimos que Yorke e cia conseguem fazer no palco aquilo que tão bem produz no estúdio: um show de belíssimas abstrações sonoras, principalmente nas músicas “nude” e "Everything in its right place", tecnicamente idênticas aos dos cds. Aliás, todo o show foi assim, à exceção do hino maior “Paranoid Android”, que perdeu um pouco do lirismo na versão ao vivo.
Um espetáculo como esse chega a ser uma experiência transcedental, como defini no início. Vi homens aos prantos em certas músicas. Thon Yorke, no vocal, traduz sim, toda a melancolia de uma geração em canções que diluem o rock do progressivo resultando em obras-primas como “Creep” (muito pedida pelo público) e “Jigsaws falling into place” (do último e ótimo cd “In rainbow”). Esse vídeo é uma mostra do preciosismo da banda http://www.youtube.com/watch?v=TAhrVfAp-5U&feature=PlayList&p=D62C29A2B3F08A2C&playnext=1&playnext_from=PL&index=9
Infelizmente não cheguei a tempo de assistir ao retorno dos Los Hermanos, que abriram o show, assim como o Kraftwerk (que até ouvi de longe, mas os achei datados demais), entretanto, o show principal me bastou. Foi curioso ver Yorke agradecendo ao fim das músicas com um “Obrigado!” em português vacilante (inclusive o guitarrista Ed O’Brien gritou um “Bom pra caralho!” empolgado, ao fim de uma canção). A certa altura, um rapaz ao meu lado, comentou embasbacado com um amigo: “Pô, essas músicas cravam na alma!”. E foi com a alma cravejada dessa liturgia, que quase peguei um avião com destino a Londres, para me infurnar num pub enfumaçado e tentar entender de onde vem tamanha inspiração. E, para ter essa sensação, nem foi preciso estar num show grandiloquente em Copacabana.
Dica de música: "“Paranoid Android” para entender que é o (Readiohead)
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