terça-feira, 10 de março de 2009

A Insustentável leveza de ser carioca !





"O dia passa e eu nessa lida / Longa é a arte, tão breve a vida / Louco é o desejo do amador, querida, querida / Longo é o beijo do amador, bandida / Belo é o jovem mergulhador, na ida / Vasto é o mar, espelho do céu, querida, querida / Querida."

"Querida", uma das músicas mais bacanas do acervo criativo de Tom Jobim (e a preferida desse que vos fala), sintetiza bastante a sensação que me deu ao fim do musical "Tom & Vinícius", domingo passado no suntuoso teatro Carlos Gomes na Praça Tiradentes RJ. O musical é um projeto pessoal do ator Marcelo Serrado (que interpreta Tom), que, com direção de Daniel Herz, remonta a trajetória de amizade entre Tom e o poeta Vinícius de Moraes (interpretado com graça por Thelmo Fernandes) permeados pelas belíssimas músicas oriundas dessa parceria e que se tornaram clássicas e representativas para a história da Bossa Nova e da MPB (ou das duas concomitantementes).

Com roteiro da (prolífera) Daniela Pereira de Carvalho e Eucanaã Ferraz, "Tom & Vinícius" traz um panorama bem nostálgico dessa parceria e ajuda muito na compreensão da atemporalidade de suas obras. A opção por "acariocar" a narrativa dá um certo ranço despretensioso ao que se passa no palco. Os dois atores principais estão muito bem em seus papéis ainda que se sinta uma certa polarização entre os mesmos já que Marcelo imposta perfeitamente bem a voz de Jobim nas canções que interpreta, mas sob o método Bretchiano, ou seja, com certo distanciamento. Thelmo, ao contrário, parece incorporar não só os aspectos fonoaudiólogos de Vinícius, como evoca o estado de espírito perene do poeta. Serve como diferenciação de personalidades na história, mas é incontestável como Thelmo (e seu Vinícius) cativa o público em suas cenas. Guilhermina Guinle imprime elegância, fazendo as mulheres de Vinícius e Luiz Nicolau - comumente fazendo papéis marginais na tv e no cinema - surpreende com a versatilidade em que dá vida a Juscelino Kubitschek e Frank Sinatra (inclusive cantando "Girl from Ipanema" com Jobim). Um verdadeiro destaque num elenco de ótimos coadjuvantes.
Vale destacar também as soluções cênicas e a direção de palco, dispensando as referências clichê de Broadway. A homenagem a Dolores Duran emociona (ainda que a atriz escolhida para dar vida à cantora seja fraca, apesar da bela voz) e o prólogo parisiense para a canção "Eu sei que vou te amar" é um achado. Para os fãs, a não-citação de certas canções podem aborrecer (assim como as rápidas aparições de algumas clássicas, como a obra-prima "Canto de Ossanha"), mas fica mesmo difícil agregar todas a músicas e ainda agradar a todos.
Além da leveza da obra e trama apresentada, ao fim do espetáculo confirmamos a importância da Bossa Nova para a nossa música, o fim de certos mitos (já que o gênero é do sangue do samba e não do jazz como dizem) e o orgulho ufanista de nosso cancioneiro.


Dica de música: claro, "Querida" (Tom Jobim)

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