sexta-feira, 29 de maio de 2009

Muso híbrido

“Meu coração vagabundo quer guardar o mundo em mim”
Quando o grande Caetano Veloso professou a complexidade de seus anseios e sentimentos nesta canção, ficou mais fácil entender de onde vinha a insurreição criativa que marcou sua carreira até aqui. Político, prolixo, poético. Caetano sempre nivelou melodias – com sua voz marcante – de acordo com uma visão de mundo e sua relação com a arte. O exílio setentista, a maresia baiana, o saudosismo jazzista, enfim, todas as referências empregadas são convertidas em versatilidade musical. O que ele tem a dizer (e a cantar) é sempre bem interessante e vai dando sentido a um tempo, espaço e estado de espírito.
Há três anos – e após ter lançado um respeitoso cd de standarts de músicas americanas e inglesas – Caê surpreende com o ótimo cd “Cê”, onde comprovou que seu talento é inerente a sua condição de ícone. “Cê” é um encontro do cantor com a nova geração (afinal, Caetano ouve bandas novas como Radiohead) e com a energia melódica que marcou sua fase pós-exílio. A crueza das canções encontrou abrigo certo na voz do baiano. Como esquecer “a dor e delícia” da música “Eu não me arrependo de você”.
Neste ano, Caetano retorna com “Zii Zie”, cd que mescla a curiosidade contemporânea e seu classicismo habitual. O cantor compõe para seu meio e canta para o mundo os versos de uma cidade (Rio), de um homem comum e de um sentimento (o amor?!). “Zii Zie”, tios e tias em italiano, é o resultado de uma série de shows feitos por ele, que o ajudaram a construir o conceito daquilo que ele queria falar. É um disco muito bom. Hábil em cimentar a fase atual do cantor. Não vou falar aqui especificamente de todas as músicas pois cd de Caetano é para se digerir com calma e com alma. Sério. Suas composições e melodias requerem mais que uma simples “escutada”. Mas destaco aqui a belíssima “Sem cais”, de arranjo simples e etéreo, que tece sobre a ingenuidade e suscetibilidade de um ser apaixonado. É simples e precisa. Gostosa e dolorosa. Provando que o mundo que resta guardado no coração de Caetano tem muito a nos apresentar ainda.

Dica de música: “Sem cais” (Caetano Veloso)

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