Numa das cenas finais do blockbuster “Eclipse” a insossa mocinha diz – para justificar suas escolhas – algo como “na verdade, a minha real escolha está entre o que eu sou e o que eu gostaria de ser”. E é justamente essa a sensação que o universo da autora Stephenie Meyer nos passa: referendada por grandes autores e obras universais, a autora foi se revelando cada vez mais limitada a cada livro que escrevia (a adesão maciça e mundial de seus livros se explica pela infantilização de seus textos, em forma e conteúdo, impondo-se como leitura fácil e superficial). Tenta ser algo que a sua própria mediocridade não a deixa ser. Acabou que sua adaptação para o cinema não conseguiu fugir desse estágio. Lembro que no primeiro livro e, consequentemente, filme, dirigido com dignidade por Catherine Hardwicke, eu cheguei a achar interessante a nova perspectiva que a autora dava para esse nicho vampirístico. O que logo vi ser uma grande tolice minha, uma vez que esse argumento possui furos gritantes pulverizados (e não explicados) nos quatro livros e nos cinco filmes que serão produzidos ao total. Aliás, o roteiro é lamentável, a autora (corroborada pelos roteiristas, que nada podem fazer, afinal trata-se de uma franquia...) constrói uma trama inverossímil, onde os próprios personagens parecem não acreditar nas motivações dramáticas de seus papéis. Meyer, mórmon radical, destila conservadorismos gratuitos para fazer a história andar, mas só consegue ridicularizar ainda mais o universo criado. Muitos críticos tem dito que esse “Eclipse” seria o melhor dos três filmes, o que eu discordo inteiramente. Ainda não teve um “melhor”. São todos do mediano para o péssimo. Neste último filme, somos reféns de uma ambigüidade sem propósito da protagonista (a forma como Bela explicita sua confusão sentimental entre o galã pálido e o lobisomem anabolizado é primária!), e ainda temos de aturar um supervalorizado duelo mal elaborado (se Edward sabia que seu cheiro atrairia a vampira ruiva , por que acompanhou Bela e Jacob até a barraca que seria o esconderijo da amada contra a vilã?), que só se salva pelo aparente investimento feito nos efeitos especiais do clímax da tal “guerra”. Sinto estragar a surpresa dos que não assistiram ainda, mas, basicamente, o filme começa e termina com um impasse entre o casalzinho principal: a virginal mocinha deve casar antes ou depois de ser mordida pelo vampirinho teen quase protestante? Desculpe, mas o senso do ridículo passou longe desse filme...
Dica de Música: "Meu sonho" (Paralamas do Sucesso)
Nenhum comentário:
Postar um comentário