O cinema como agente provocador da sociedade, sempre encontrou suporte na cinematografia européia. De Godard a Bertolucci, toda inquietação geracional (ou não) era transportado para a sétima arte como forma de compreender ou discutir àquilo que a sociedade muitas vezes escamoteava ou simplesmente ignorava. Esse tal cinema “provocador” também faz parte da história de nosso cinema, com seu maior representante ainda bem ativo: Julio Bressane, diretor que produziu filmes que discutiam tanto a linguagem de sua arte (“Cleópatra”) quanto seu meio social (“Filme de amor”). Essa introdução é para contextualizar um pouco, o equivocado filme “Do começo ao fim”, do diretor Aloísio Abrantes. Este, também tem a carreira marcada por filmes dessa conjuntura. Aliás, seu filme mais conhecido (e premiado) é “Um copo de cólera”, que se propôs a radiografar os antagonismos do sentimento entre um casal, mas sobre as diretrizes dos extremos, tanto emocionais (com diálogos feéricos) quanto físicos (com cenas envolvendo ejaculação real). Neste caso, o choque se justificava pela reflexão. Em seu novo trabalho, Abrantes resolveu discutir (!) o inusitado com a história de dois meio-irmãos que se relacionam desde a infância. Os tabus são multiplicados: trata-se de uma relação homossexual, e ainda incestuosa. Se por um lado o ineditismo do argumento estabeleça algum interesse, por outro, sua realização é bem aquém, até da própria obra de Abrantes, que parece ter ficado tão excitado com a “provocação” de seu discurso, que se esqueceu de embasá-lo. O filme é muito complacente com seu universo, não dando brechas para nenhum conflito, o que acaba gerando um incômodo tom de artificialismo, que destrói qualquer tentativa de aprofundamento. Nem mesmo o bom trabalho do elenco (Julia Lemmertz – atriz assinatura do diretor – e Fábio Assunção tem atuações sóbrias e os protagonistas estreantes João Gabriel Vasconcelos e Rafael Cardoso seguram bem o desafio de dar crédito a esse inusitado casal, com cenas de sexo elegantes, mas bem corajosas) consegue dar credibilidade ao todo, o que é uma pena quando se conhece o talento de Abrantes. Infelizmente é o caso de muito barulho por nada e o que provoca é apenas uma sensação de inconsistênci
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