quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

O filme da década !!!

Bem, 2009 está se despedindo, levando a década de 2000 consigo... Não consegueria fugir do clichê de apontar os melhores do ano (o que farei mais para frente), mas – após fazer um retrospecto cinematográfico – chego a conclusão de que “Cidade de Deus”, obra-prima do cineasta Fernando Meirelles é o melhor filme brasileiro da década. Sem maiores discussões e com o resto do mundo corroborando. O brilhante cineasta retratou mais do que uma ferida social por sua posição geográfica, mas fez uma radiografia de como o poder inside sobre os seres, principalmente quando se vive em comunidade. O vigor do resultado garantiu sua relevância na História do cinema.

Desejo a todos os leitores um 2010 bem produtivo em todas as suas estâncias.

Dica de Música: O hino pop do 2009, mostrando o poder midiático de Beyoncé (e sua legião de produtores) “Single ladies” (Beyoncé)

domingo, 27 de dezembro de 2009

Sexo e afins...


Acaba de sair o trailer do novo e segundo filme baseado na saudosa série “Sex and the city”. Eu sei que muitos torcem o nariz para a produção da HBO, que acabou em 2004, argumentando que se trata de um mosaico bem produzido de futilidades contemporâneas. Se for se levar pela cosmética imagética da coisa, sem um aprofundamento, parece mesmo. Eu tinha essa impressão até me propor a assistir ao Box das seis temporadas e atesto: é uma das melhores coisas já feitas na TV americana. Tem sim uma preocupação quase excessiva com a cosmética das histórias, afinal, é uma série que superficialmente fala do universo de mulheres (ricas) nova-iorquinas, mas o bacana é que o inteligente roteiro delineia uma radiografia perene das relações atuais (Que Karl Marx não me ouça!). Para mulheres, a identificação é certa (pulverizada nos arquétipos das quatro personagens principais) e para os homens (de qualquer gênero, juro!), é um interessante meio de compreendê-las.
O primeiro filme saciou a espera de seus fãs mais fiéis, mas caiu no previsível erro de não se desprender de sua natureza televisiva. Agora, espero que esta aresta seja aparada, pois a matéria prima pode render algumas boas continuações. O trailer diz pouco sobre a trama, mas dá um panorama do que é a série: por trás de muito barulho tem sim sua consistência relevante. Seria Carrie Bradshaw a nova Audrey Hepburn???

Dica de Música: “Beautiful Day” (U2)

sábado, 26 de dezembro de 2009

Susto datado...

Talvez se eu fosse de uma geração posterior a minha digerisse melhor a tensão crescente que se dá no filme “Atividade paranormal”. Há exatos 10 anos atrás, chegava aos cinemas com muito barulho o filme “A bruxa de Blair”, que se vendia como uma suposta história real de um casal de amigos que teriam sido atacados por uma entidade numa floresta fechada. As imagens eram da câmera encontrada no local. Naquela época, com o iniciozinho da era digital, os efeitos desse “plano de marketing” foram muito bem sucedidos, e o filme, que custou uma ninharia, rendeu mais de 100 milhões de dólares. Realmente o filme era apavorante, principalmente com esse adendo de ser uma suposta história real.
“Atividade paranormal” tem uma história parecida, tanto da trama, quanto da produção em si, já que custou pouquíssimo (US$ 15 mil) e rendeu mais de US$ 60 milhões em território americano, graças também ao boca-a-boca gerado pela internet. Primeiro longa de Oren Peli, o filme aposta na fórmula conhecida de dois jovens (Katie Featherston e Micah Sloat) que mudam-se para uma casa mal-assombrada. Corroborando o que disse no início, se não tivesse visto e vivido a febre de “Blair” há dez anos atrás, teria tido mais paciência e envolvimento com este novo filme. Os sustos são até legítimos e bem produzidos (apesar de sua natureza “amadora”), mas até chegar nesses momentos nos é exigido uma paciência de mais de uma hora com uma enrolação narrativa muito cansativa. O final é até bem impactante (persuadindo inteiramente o público do cinema), mas até aí a nossa paciência já está no limite.

Dica de Música: “Amarantine” (Enya)

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Pérola aos cinemas


Existe vida inteligente no cinema brasileiro. E quando afirmo é pelo fato de que há uma predominância entre dois extremos recorrentes nas produções nacionais: os medíocres ou os que seguem fórmulas, ainda que este último por vezes consiga romper o estigma demeritório. O filmaço “É proibido fumar”, segundo filme da cineasta Anna Muylaert, consegue manter-se a parte desses paradigmas pela dignidade com que sua trama é levada a tela. O filme fala de personagens que estão a margem e confronta justamente essa condição com seus próprios universos e é daí que parte o grande valor do belo roteiro da própria diretora. Baby, personagem de Glória Pires, é uma professora de violão, romântica e solitária, que deseja viver uma grande paixão. Coma mudança de Max (Paulo Miklos), um músico de bar recém separado, para o apartamento ao lado, Baby vê a chance de realizar seu sonho. Para conquistá-lo, ela faz um grande sacrifício e abandona seu antigo companheiro, o cigarro.
Muylaert dimensiona os conflitos internos e externos de seus personagens com economia, deixando que falem sobre si sem tornar seu discurso didático ou tendencioso. O intimismo é preponderante para que nos identifiquemos com os personagens, sem juízos de valor pré-estabelecidos. Esse resultado é conseguido graças ao tom observador que a diretora joga sobre sua história, daí, assim como os símbolos metafóricos que filme nos joga, parece que estamos olhando para aquele casal pelo buraco de um olho mágico de uma porta caseira. Mais uma vez a atriz Glória Pires entrega uma atuação muito inteligente e orgânica, provando sua versatilidade em qualquer universo audiovisual. Numa das cenas mais arrepiantes do filme, a personagem, transtornada por saber que está sendo traída, quebra sua longa abstinência do tabaco, com um grito de “foda-se” tão verdadeiro, que o público sente a mesma sensação de alívio e desespero da tela. É um trabalho de mestre de uma atriz tão talentosa como Glória. Miklos, que cada vez mais tem atuado em bons filmes como “O invasor” de Beto Brant, também é muito bom e consegue uma química interessante com a atriz.
“É proibido fumar” é um filme pequeno em estrutura e distribuição (uma grande pena!) mas gigante no panorama artístico de nosso cinema. Diria que é um dos melhores filmes que já vi, seja pelo enfoque desmitificado de uma classe média tão característica de nosso país, seja pelo fato de levar a sério sua condição de Cinema, em uma seara tão complicada. Isso porque é apenas o segundo filme de Muylaert, então, que venham os próximos.

Dica de Música: “Taj Mahal” (Jorge Benjor)

O show vai começar!

Nessa temporada de fim de ano começam os primeiros rumores das indicações das grandes premiações do cinema americano, começando com o Globo de Ouro.
Entre os indicados a melhor filme em drama, destacam-se a presença do blockbuster megalomaníaco de James Cameron “Avatar”, o polêmico filme “Bastardos Inglórios” e o filme independente “Guerra ao terror”. Ainda que o favoritismo esteja entre outro independente “Preciosa” (cuja foto ilustra esse post), drama humanístico muito badalado nos EUA e o novo filme de Jason Reitman, “Amor sem escalas”. Na categoria musical tem “Nine”, musical baseado em filme de Fellini, que em suas primeiras exibições vem causando grandes entusiasmos por parte da crítica. Os demais, creio serem peças de figuração, apesar de “Julie & Julia” parecer ser bem simpático ao juri estrangeiro, que vota nessa premiação. Entre os indicados a melhor ator de drama destacam-se Jeff Bridges por “Crazy heart”, Colin Firth pelo delicado trabalho como um homossexual em “A single man”, estréia na direção do estilista Tom Ford e George Clooney, pelo filme de Reitman. Para ator de comédia ou musical, Daniel Day Lewis provavelmente ganhará por “Nine”. No quesito atriz de drama, Hellen Mirren, por “The last Station”, Carey Mulligan por “Educação” e a novata Gabourey Sibide pela protagonista sofrida (e quase autobiográfica) de “Preciosa”, estão no páreo duro. Em atuação de comédia ou musical, o destaque fica pela quase hour-concurs Meryl Streep, com dois filmes nas costas: “Julie & Julia” e “Simplesmente complicado”. Nas categorias coadjuvantes a premiação deve cair no colo da arrepiante atuação de Christoph Waltz, no filme de Tarantino, já no de atriz a coisa fica mais pulverizada com Penelope Cruz em “Nine”, Vera Famiga e Anna Kendrick, ambas por “Amor sem escalas”. Na direção também parece não ter favoritos, assim como em Roteiro, diferente dos indicados por Animação, que deve se polarizar entre o fofo “Up” e o melancólico “O fantástico sr. Raposo”.
Em séries, o quesito drama mantém-se os mesmos badalados de sempre, com “House”, “Mad Men” e “True Blood”. Já para séries em musical ou comédia, a novidade são “Modern Family” e o fenômeno “Glee” (da divertida foto abaixo, que ilustra bem o espírito da série, já comentada aqui no blog).
Um cardápio sem grandes absolutos, mas bem interessante do ponto de vista de nossas opiniões do lado de cá da tv...

Dica de Música: “Rehab” (“Glee”soundtracking)



quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Ares explosivos

A série "24 Horas" volta em sua oitava temporada mudando de ares. Assim como aconteceu com outra boa série americana "Nip Tuck", que trocou de cidade para oxigenar sua trama, Jack Bauer e cia migrarão agora para o centro nervoso de New York, o que já confere vários nichos de possibilidades para suas intricadas histórias. Fica aí a dica para a novíssima temporada da atração que estréia em janeiro... e, garanto, melhor que muito filme de Hollywood.

Dica de Música: "The masterplan" (Oasis)

Jingle bells...


Há pouquíssimo tempo eu postei aqui no Blog um comentário sobre a curta discografia do cantor inglês Jamie Cullun, do qual sou um admirador confesso. Coincidentemente, o cantor acaba de lançar seu mais no cd “The Pursuit”, que mantém a qualidade personalista de seu som habitual. Como já havia dito, Cullun se notabiliza pela arrojada pop que imprime ao jazz em suas canções, e no novo trabalho a cartilha é mantida à regra. O álbum começa com o classicismo de “Just one of those things” e se encerra com a levemente psicodélica “Music is through”, o que já confere ao seu repertório a busca do intérprete em pulverizar sonoridades referenciais e fundir gêneros com sua roupagem jovial. Diria que “I’m all over it” sintetiza muito bem o espírito do cantor e a levada do cd, mas o grande destaque fica com a improvável versão jazzística para a música “Don’t stop the music” da cantora Rihanna. É uma batida que fez sucesso nas rádios e sedimentou o nome da cantora que, apesar de ser nitidamente um produto de marketing de gravadora, de vez em quando aparece com umas músicas (produções!) bem sacadas nas rádios como “Disturbia” e a recente “Roullette Russian”. Cullun desconstrói o hit para brincar com os limites que a sofisticação de seu talento busca quebrar. O ótimo clipe da música (que ilustra esse post) mostra bem essa marca do cantor... enfim, mais um trabalho de respeito do cara.

Aproveito essa excelente dica para desejar a todos UM FELIZ NATAL!!!

Pecar por pecar...

O cinema como agente provocador da sociedade, sempre encontrou suporte na cinematografia européia. De Godard a Bertolucci, toda inquietação geracional (ou não) era transportado para a sétima arte como forma de compreender ou discutir àquilo que a sociedade muitas vezes escamoteava ou simplesmente ignorava. Esse tal cinema “provocador” também faz parte da história de nosso cinema, com seu maior representante ainda bem ativo: Julio Bressane, diretor que produziu filmes que discutiam tanto a linguagem de sua arte (“Cleópatra”) quanto seu meio social (“Filme de amor”). Essa introdução é para contextualizar um pouco, o equivocado filme “Do começo ao fim”, do diretor Aloísio Abrantes. Este, também tem a carreira marcada por filmes dessa conjuntura. Aliás, seu filme mais conhecido (e premiado) é “Um copo de cólera”, que se propôs a radiografar os antagonismos do sentimento entre um casal, mas sobre as diretrizes dos extremos, tanto emocionais (com diálogos feéricos) quanto físicos (com cenas envolvendo ejaculação real). Neste caso, o choque se justificava pela reflexão. Em seu novo trabalho, Abrantes resolveu discutir (!) o inusitado com a história de dois meio-irmãos que se relacionam desde a infância. Os tabus são multiplicados: trata-se de uma relação homossexual, e ainda incestuosa. Se por um lado o ineditismo do argumento estabeleça algum interesse, por outro, sua realização é bem aquém, até da própria obra de Abrantes, que parece ter ficado tão excitado com a “provocação” de seu discurso, que se esqueceu de embasá-lo. O filme é muito complacente com seu universo, não dando brechas para nenhum conflito, o que acaba gerando um incômodo tom de artificialismo, que destrói qualquer tentativa de aprofundamento. Nem mesmo o bom trabalho do elenco (Julia Lemmertz – atriz assinatura do diretor – e Fábio Assunção tem atuações sóbrias e os protagonistas estreantes João Gabriel Vasconcelos e Rafael Cardoso seguram bem o desafio de dar crédito a esse inusitado casal, com cenas de sexo elegantes, mas bem corajosas) consegue dar credibilidade ao todo, o que é uma pena quando se conhece o talento de Abrantes. Infelizmente é o caso de muito barulho por nada e o que provoca é apenas uma sensação de inconsistênci

Dica de Música: "Samba de uma nota só" (Tom Jobim)

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Somos os pais???

Essa é exclusiva: assisti ontem a pré estréia do aguardado e polêmico filme “Lula, o filho do Brasil”, do diretor Fábio Barreto. Apesar de tudo o que se põe contra a produção – das primeiras críticas ruins, do fato de não ter gostado de nenhum filme anterior desse diretor... – posso dizer que gostei muito do filme.
O filósofo alemão Walter Benjamin tem uma frase que gosto bastante, que diz que “a construção da vida encontra-se mais em poder dos fatos do que das convicções”, e por mais que tenha a consciência de que não é por uma ação dramatizada que se compreende um homem, digo que o filme se coloca como metáfora para figura, um tanto controversa, de nosso presidente. Primeiramente gostaria de dizer que não compactuo com essa corrente que defende o filme como uma arma política para a campanha presidencial de 2010. Até porque se fosse usado para o isso, o filme não seria o mais apropriado. Mais forte do que uma suposta produção cinematográfica panfletária é a popularidade impressionante de Lula, que beira os inéditos 70% de aprovação. Quanto a esse fato não há argumento. Se formos olhar a influência, digamos, estética do filme, os votos seriam vertidos para a candidata do PV, Marina Silva (pela leve similaridade de trajetória), e não para Dilma Rousseff. E quando se discute o momento, dito não apropriado ao lançamento do filme, uma vez que o personagem ainda está vivo e na presidência, não sejamos ingênuos. O filme foi pensado e produzido por empresas privadas, que visam o lucro. A política aqui é retratada, e não rechaçada.

Dito isso, vamos ao filme: O diretor Fábio Barreto não tem um currículo animador. Seus filmes trafegam entre o ruim e o insípido. Até hoje me pergunto a razão da escolha de “O quatrilho” como um dos candidatos ao Oscar de melhor filme estrangeiro, em 1995. Ainda que seja um de seus melhores filmes (!), não classificaria em nada além do “acima da média”. “Bella Donna” (filme de 1997), é pavoroso e “A paixão de Jacobina” (uma superprodução de 2002, que tinha um argumento interessantíssimo), é uma das piores coisas que o cinema brasileiro já lançou. Mas, surpreendentemente, Fábio dirige o “Lula, o filho do Brasil” com uma maturidade impressionante. Com auxílio da precisa fotografia de Gustavo Hadba, Barreto desfila referências (do Cinema Novo no início do filme, aos thrillers políticos da década de 70 em sua conclusão) durante a projeção e impõe um bem sucedido trabalho cênico com os atores. Seu filme consegue dar forma a um mito sem apelar para as armadilhas épicas que o gênero atrai. E ainda resgata a noção de “emocionante” suplantando o “cinismo” que o gênero invariavelmente evoca. O roteiro pode até ser condescendente demais com o personagem, só que diferente de filmes como “Che”, que personificou a saga embrionária de Che Guevara de forma incomodamente devocional, essa mitificação acaba por ser coerente com sua desmistificação: se hoje relativisamos a figura de Lula, com suas incoerências éticas e políticas, é por que tínhamos uma figura (ou uma visão romântica) idônea e heróica que o tempo e o poder teriam corrompido. E é sobre esse período de construção, o início de sua trajetória política que o diretor sabiamente se propôs a mostrar e, ainda que em certos momentos fiquem expostas algumas fragilidades de direção e uma fabulação do discurso retratado, é na justificação desta dicotomia entre o homem e o político, que o filme revela sua grandeza e pertinência.
O desconhecido ator Rui Ricardo Dias incorpora com precisão seu Lula, sem se importar com as caricaturas que o mesmo suscite em humorísticos. Juliana Baroni, dando vida à primeira-dama Marisa Letícia, brilha em suas breves cenas, assim como os atores que cobrem a infância do presidente. Mas a grande presença é mesmo da arrepiante atriz Glória Pires que, em um ano produtivo no cinema (brilhou em “Se eu fosse você 2” e agora ganhou prêmio inédito de melhor atriz no sisudo Festival de Brasília com “É proibido fumar”), rouba todas as cenas como a mãe do presidente, que é o grande esteio dramático da história. Além de compor uma nordestina com inteligência, comprova sua entrega e experiência ao audiovisual dominando todos os desafios cênicos de sua personagem.
Destaco também a linda trilha instrumental de Antonio Pinto e Jaques Morellembaum, que age como complemento atmosférico às catarses que o diretor propõe, com uma presença entre o intimista e o espetacular.
Quando disse que o filme é uma metáfora de seu protagonista é justamente por conotar suas imperfeições pois como o próprio Lula, o filme é cheio de fragilidades, mas nos ganha pelo carisma e espontaneidade com que nos emociona. A última cena reverbera a sensação de ambigüidade que futuro trouxe, ainda que o presente não descaracterize o passado de forma totalitária. A vida real é mesmo bem mais complexa, mas ainda assim Benjamin tinha razão: fatos sobrepõem-se a convicções.



Dica de Música: "Roda Viva" (Chico Buarque)



Pop, marginal e divertido


Estreou a pouco tempo na Fox, uma série muito bacana que tem feito barulho no EUA: “Glee”. Assisti ao primeiro episódio e gostei do que vi. Não há nada de novo, a série retrata uma típica escola americana, onde um professor tenta reerguer o antigo coral do lugar. A coisa soaria apenas como mais um exemplar do “High School Musical” mas o diferencial está na mente criativa (e, de certa forma cruel) de Ryan Murphy, criador da maravilhosa série “Nip Tuck”, que debocha com o universo das cirurgias estéticas. Murphy usa o clichê “escolar” americano para da voz aos excluídos, uma vez que a série é estrelada por um grupo bem inusitado, ou de “losers” como são chamados na terra do Tio Sam: Um professor latino, um jovem gay bem resolvido, uma negra obesa, um deficiente físico... e por aí vai. Mas o que vem chamado a atenção do público (e rendendo muitos dólares) são os musicais que usam vários ícones da música pop, desde Beyonce (como o vídeo hilário abaixo, de “Single ladies” dançados pelo time de futebol americano da escola) até o grupo Queen, em adaptações com novos arranjos. A música "Don't Stop Believing", da banda Journey, tema do primeiro episódio piloto, interpretada pelo elenco chegou ao primeiro lugar em downloads no iTunes.
A graça é justamente na proposta da relativização da imperfeição num país de natureza tão republicana. E isso, em tempos de Obama, é quase uma necessidade cívica...

Dica de Música: "Ego" (Beyonce)

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Srta Black our White ?

E foi já no finzinho de 2009 que me deparei com um dos melhores cds do ano: “Colour Me Free” novo trabalho da inglesinha Joss Stone. Inglesinha é um termo bem pejorativo para essa cantora loirinha de corpo mignon, mas de voz estrondosamente negra. Há muito que venho acompanhado o seu trabalho, que se destaca pelas fortes influências da música negra, o que, aliás, é uma interessante ironia sendo ela uma cantora inglesa, e não americana. Seu mais novo cd trafega por essas influencias de forma mais presente, diferente de seu cd anterior que se pretendia mais do que conseguiu ser. O casamento de R&B, Black Music e Soul conferem um misto de elegância e fervor às canções, como em “Free me”, “You got the love” e “Lady”. Mesmo quando cede ao apelo radiofônico (e isso sem culpa nenhuma) o faz com brilhantismo, ainda que acrescente pouco com a música “Stalemate”, em dueto com o cantor Jamie Hartman. E fecha muito bem com a belíssima “Girlfriend on demand”, provando e mostrando que sua capacidade artístico-vocal ainda tem muito a render.
Essa onda revisionista da nova geração, que explora suas influências musicais e as confronta com as vertentes sonoras atuais (vide a arrebatadora Amy Winehouse) comprova que os sons dos novos tempos se estabelecerão pelo viés da convergência. Afinal, os gêneros musicais não surgiram assim?

Olha pra isso, olhe...

Invariavelmente o humor na televisão se sustenta pelos pilares dos arquétipos fáceis, sem nenhuma assimilação crítica. Por isso, uma das boas surpresas na tv aberta é a série “Opaíó” da Tv Globo, que acabou de encerrar sua segunda temporada. A emissora, que nos últimos anos tem investido mais na concepção de séries, ora acertando, como o bom “Força Tarefa”, ora errando feio como o insosso “Dicas de um sedutor”, foi esperta ao atentar para o potencial do filme original de Monique Gardemberg (que é bem inferior a série) e cercou o projeto com o melhor da casa, já que os episódios contam com o roteiro de Guel Arraes, Adriana e João Falcão, alguma das mentes mais criativas do cenário atual, assim também como a direção Jorge Furtado (um dos melhores cineastas brasileiros, com filmes como “O homem que copiava” e “Saneamento básico”) e Mauro Lima (de “Meu nome não é Jhonny”). Esse “entourage” é vital para a qualidade do programa, além é claro, do excelente grupo de atores originais do Bando de Teatro do Olodum, tradicional grupo de teatro da Bahia que faz um trabalho interessantíssimo e que se confunde com a cultura histórica baiana de uma forma geral. Pude assistir a um espetáculo do grupo, aqui no Rio e achei muito bom.
A série consegue enfatizar suas matizes discursivas pelo humor caricatural sim, mas com muita propriedade sobre o universo que retrata. Talvez pelo fato de ser encenada por atores originais, tanto do projeto, como da região, o resultado soe tão orgânico e ao mesmo tempo divertido. O humor é quase antropológico, pois parte da curiosidade de ver como o Brasil é rico de mundos dentro de sua própria uniformidade territorial. Uma pena a série ser de temporadas tão pequenas (4 episódios por ano), pois tem garantido a (tão rara) vida inteligente na telinha.

Dica de Música: "Não enche" (Caetano Veloso)

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Lua rasa

Definitivamente é impossível ficar imune aos fenômenos que se estabelecem no cinema a cada ano. Se as picardias causadas por certo bruxinho bilionário andavam dando trégua, agora eis que surge uma nova (e, óbvio, também lucrativa) franquia: a saga iniciada com o filme “Crepúsculo”, sendo continuada com o lançamento de “Lua Nova”, monopolizando quase todos os cinemas mundiais.
Não li os livros (comecei a ler o primeiro mas a escrita da autora Stepheine Meyer não me entusiasmou) e a abrangência que tenho da trama é só mesmo do cinema. Meyer, apesar de manejar sua obra pelas facilidades da mediocridade, foi muito criativa ao propor alternativas ao batido universo vampiresco, e isso eu percebi desde o primeiro filme. A autora lecionava literatura inglesa e se valeu de seu academicismo para lançar mão de estratégicas literárias um tanto oportunistas, mas que comunicam direitinho com o público adolescente, em especial o feminino. “Lua Nova” é eficiente nesse diálogo. Tive o desprazer de assistir ao filme num cinema repleto de adolescentes com a puberdade explodindo (cada cena era complementada com gritinhos ensurdecedores... cilada total) e era latente confirmar o poder e alcance que a saga vem conquistando nessa geração. Mas se por um lado o marketing é epidêmico, marcando o cenário pop dos anos 2000, por outro, sua profundidade – ainda que dentro do que se propõe – é de um pires. Os diálogos são sofríveis (“você já me deu tudo só por existir”; “a única coisa que impede de me matar é você” são alguns exemplos) e a insistência (creio ser dos produtores e não da direção) em situar o ator Taylor Lautner sem camisa (e devidamente marombado) para cativar a libido das debutantes são tão irritantes quanto seu público alvo.
Há de se considerar que o diretor Chriz Heitz fez um bom trabalho, principalmente na condução formal do filme. Muitas soluções são criativas e creio eu, contribuem mais a história do que o próprio livro. Assim com a trilha sonora (com participação de luxo de Thom Yorke, do Radiohead, em trabalho solo) que chega a soar dissonante pela qualidade.
Ainda mantém-se o desnível dos protagonistas, com a bonitinha da Kristen Stewart numa interpretação que varia entre a letargia e a apatia e Robert Pattinson brilhando em cada exigência dramática que o roteiro lhe impõe.
Não seria prudente afirmar que o filme é de todo ruim. Ótimo também não é. Apenas limitado a sua própria pretensão.

Dica de Música: "You got the love" (Joss Stone)