O cinema europeu, e sua dimensão formal, sempre nos dão a sensação de que a lente daquela região consegue captar intrinsecamente melhor o ser humano, do que o de qualquer outra parte do mundo. Trata-se de uma sensação e cabe aqui uma porção de retóricas. Assisti recentemente o filme “A professora de piano”, do diretor austríaco, recém premiado em Cannes (por “A fita branca”) Michael Haneke. A trama gira em torno de uma professora de piano amargurada e solitária, suas relações doentias com a mãe, os alunos e um potencial amante. O diretor, de cinematografia marcada pela forma como delimita e expõe os extremos das pessoas, usa de brava sutileza para nos fazer acompanhar a mente conflituosa da protagonista, vivida com coragem pela atriz Isabelle Huppert. Seus ímpetos não são claramente justificáveis, mas é justamente nesta busca por compreensão que a trama se impõe. É um filme incomum, até na própria seara européia atual, onde o personalismo vem falando mais alto que o discurso em si. Haneke dirige cenas tão intensas quanto incômodas, e entrega um final arrepiante de bonito e intrigante. “A professora de piano” é um filme de 2001 que, pelo jeito, custei a descobrir, mas a noção de que o cinema europeu ainda nos desafia será sempre atualizada.
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