quinta-feira, 28 de maio de 2009

E o Oscar vai para Cannes!

E mais uma vez o Festival de Cannes chega ao fim, cumprindo sua premissa de apresentar ao mundo os aguardados filmes de grandes cineastas mundiais. Com boa dose de polêmica e bastante burburinho.
O vencedor da Palma de Ouro foi o filme austríaco "Das weisse band", do diretor Michael Haneke (“A professora de piano”). Filmado em preto – e – branco, o filme fala sobre o extremismo conservador de uma pequena aldeia alemã, no início do século XX. Desde que foi exibido para imprensa, já era dado como um dos grandes favoritos. O filme soa interessante e vai de encontro a corrente politizada do festival.
Mas em Cannes a performance pública dos filmes acaba sempre importando mais que o vencedor. E, num ano em que, entres os candidatos, tinha nomes como Lars Von Trier e Almodóvar as atenções não poderiam mesmo ficar restritas a um único dia.
Coppola voltou a forma com o elogiado “Tetro”, filmado na Argentina e com fortes tintas autobiográficas. Outro veterano, este sempre marcando presença em Cannes, desde a consagração de seu filme mais emblemático, "Hiroshima, meu amor", é Alain Resnais, que competiu com seu elogiado “Les herbes folles”. Ken Loach, botou o pé no freio de seus filmes político-ideológicos para brincar de futebol, com seu filme “Looking for Eric”, comédia dramática sobre um carteiro apaixonado pelo esporte.
Neste ano também houve a forte presença de filmes de terror em Cannes. Sam Raimi, de férias da franquia “Homem-aranha” apresentou seu mais novo (e pelo trailer, assustador) produto do gênero “Drag me to hell”, que marca o retorno do diretor a esse tipo de filme, uma vez que esteve por trás do emblemático “Evil dead”, anos atrás. “Thirst” e “Anticristo” também causaram alvoroço na Riviera francesa. O primeiro é do diretor sul-coreano Park Chan Wook, do ótimo “Old boy”, que provocou risos enérgicos na platéia por seu humor negro, contando a história de um padre que se oferece para um experimento e vira um voraz consumidor de sangue humano.
“Anticristo” (foto macabra do começo do post) talvez tenha sido o filme mais polêmico de todo o festival. Lars Von Trier é um diretor que alimenta polêmica em cima de seu nome (disse em entrevista que era o melhor diretor de cinema do mundo) e num filme que contém cenas de sexo explícito e mutilação genital, a celeuma já era esperada. Vi o trailer e gostei bastante. Acho que, pessoalmente (digo pela entrevistas e extras em que o vi) ele me pareceu um grande babaca, mas como artista, o cara manda muito bem. Seus filmes, geralmente, são geniais e “Dançando no escuro” – já premiado em Cannes – é uma obra-prima. Fiquei curiosíssimo para assistir. Charlotte Gainsbourg, que fez cenas complicadíssimas, foi premiada com a palma de melhor atriz.
Ang Lee também marcou presença com seu “Taking Woodstok”, tido como um filme bem simpático fazendo um painel do famoso festival americano. Heath Ledger (o já eterno Coringa) foi lembrado com o filme “póstumo” "The imaginarium of Doctor Parnassus" dirigido por Terry Gilliam. O longa traz a última - e inacabada - participação de Ledger em um filme. Para preencher o vazio deixado por ele, Johnny Depp, Jude Law e Colin Farrell entraram no projeto, doando o cachê para a filha do ator.
“À deriva”, filme de Heitor Dhália, agradou bastante na mostra paralela “Um certo olhar”. Também assisti ao trailer e me soou como um passo evolutivo na carreira do diretor. “No meu lugar”, estréia em longas de Eduardo Valente, não gerou muita repercussão.
E, por falar em repercussão, duas grandes promessas do Festival, “Los abrazos rotos” de Almodóvar e “Inglórios Bastardos” de Quentin Tarantino parece não ter agradado a crítica e o júri. O filme do cineasta espanhol (ilustrado nesta foto acima, com Penélope Cruz) foi acusado de ser mais do mesmo na carreira do autor. Não sei, parece uma constatação apressada. Resta esperar o lançamento no Brasil. Já sobre Quentin o que se disse era que seu novo filme é um tanto arrastado, apesar de ter atuações interessantíssimas como a de Christoph Waltz, premiado com a palma de melhor ator, por seu esquizofrênico general nazista.
O francês "Un prophète", favorito até os últimos dias, levou o Grande Prêmio e o chinês “Spring fever”, de Lou Ye, que versa sobre as dificuldades do sub-mundo gay no país, levou o prêmio de melhor roteiro.
Cannes mantém seu prestígio por todos esses fatores que estimulam as discussões dos cinéfilos. E ainda traz um panorama do que de melhor tem se feito no mundo. Para nós, ávidos consumidores da sétima arte, isso é uma catarse e tanto.


Dica de música: “Call me” (Chris Montez)



Nenhum comentário: