terça-feira, 26 de maio de 2009

Brutas páginas da vida

Há cerca de um ano atrás, eu fiz um trabalho sobre o livro de contos de Rubem Fonseca “Feliz ano novo”. Foi um trabalho bem prazeroso, uma vez que sou amante da obra do escritor desde que li o já clássico “Agosto”. Pois agora, tardiamente, acabei de ler um de seus últimos livros “Ela e outras histórias” e minha admiração só aumentou. Rubem é um dos escritores mais coléricos que o mundo já viu. Existem várias teses dizendo que (a seu tempo) sua obra se equipara a do bruxo Machado de Assis. Discordo. Apesar de reconhecer a atemporalidade de ambos, para mim Machado sempre soou eficiente, mas querendo muito ser Eça de Queiroz. Creio que isso pode gerar certa celeuma, entretanto é o que penso. Já a obra de Rubem – que se prepõe a discutir as idiossincrasias sociais sem soar como tese de mestrado – tem a urgência da identificação cotidiana. A reflexão aqui é persuadida pelos diversos extremos dessa fauna. O classicismo de Machado (ainda que com boas doses de ironias sociais) é emblemático para nossa literatura, mas é o impacto causado a cada livro de Fonseca que ilustra com precisão o meio onde vivemos.
(Deixando claro que “Dom Casmurro” de Machado é, para mim, um dos livros mais bem escritos da História. Porém, na lista de meus livros inesquecíveis, é Rubem Fonseca que tem mais títulos com o já citado “Agosto” e o maravilhoso “Buffo e Spalanzanni”, que reúne o preciosismo analítico com a perfeita estruturação de uma trama literária do autor)
“Ela e outras histórias” reúne uma série de contos intitulados por nomes de mulheres, buscando emoldurar um/o perfil feminino para cada história contada. São histórias bem corajosas, onde o discurso fica na linha tênue entre a misantropia e a misoginia, e com uma naturalidade desconcertante. Mais da metade dos contos dariam bons roteiros de filmes, o que é natural já que o autor já se disse influenciado pelo cinema em sua obra.
Ainda não tive a oportunidade de ler o seu último livro “O romance morreu” – que talvez seja sua publicação mais pessoal. E agora, com a polêmica saída do autor de sua editora, a “Companhia das Letras”, um novo livro deva demorar a sair. Mas se um livro faz um autor, uma obra faz leitores apaixonados como esse que vos escreve.
Dica de música: "Até quando?" (Gabriel o pensador)

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