Fazer cinema no Brasil ainda é um exercício de guerrilha. É muito comum ouvirmos que para se realizar determinado filme foi preciso trabalhar em regime de coopertiva com os atores e técnicos. Um dos filmes mais singulares de nossa cinematografia, "Cheiro do ralo" de Heitor Dhalia, é um desses exemplos. Mauro Farias, conhecido diretor de tv, se armou desta estratégia para gerar "Verônica", protagonizado por sua mulher, Andrea Beltrão. "Verônica", que conta a dramática história de uma professora que procura dar um sentido a mediocridade de sua vida, protegendo um de seus alunos que está jurado de morte, nos remete ao clássico "Glória" de John Cassevetes, uma vez que o argumento é bem parecido, mas Farias, também autor do roteiro, situa sua história na realidade educacional (desglamourizada) do país, onde Andréa desempenha seu papel com uma naturalidade muito importante para a dignidade do projeto em si. Andréa, que ano passado já havia brilhado na telona, praticamente roubando a cena do filme "Romance" de Guel Arraes, consegue incorporar muito do cansaço psicológico que sua personagem imprime e, na segunda parte do filme, justificar sua devoção àquele aluno. O roteiro é correto (o que é um luxo no país) e, sob os signos do gênero, desenvolve bem sua premissa até o final.
Enfim, "Verônica" é um dos exemplos de que, mesmo com simplicidade (técnica e artística) dá para se fazer cinema de qualidade no país, afinal, nesta década vimos que o cinema independente americano redefiniu sua própria indústria com pouca grana e muito talento ("Pequena Miss Sunshine"!). São outras realidades mas os mesmos princípios.
Dica de música: "Epitáfio" (Titãs)
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