
Esse trecho do primeiro livro da autora Patrícia Melo “Acqua Toffana”, lançado em 1994, dá um dimensão da voltagem quase psíquica que a história alcança em suas quase 140 páginas.
Acabei de ler recentemente o livro (o segundo dela que leio) e posso afirmar que é um dos melhores “primeiros livros” (já que foi sua estréia em romances literários) que já li. É impressionante a habilidade de Patrícia em destrinchar a paranóia contemporânea dos seres. Ela sempre admitiu a fortíssima influência do autor Rubem Fonseca em sua obra, e isso é bem notório, principalmente pela forma seca e sintética com que narra os acontecimentos. O livro se divide em duas histórias que incidem sobre o mesmo viés de brutalidade, sob um olhar íntimo e condescendente com o inter-locutor. Patrícia trata dos extremos com uma dinâmica impressionante para uma iniciante, e demonstra que seu nome iria mesmo fincar raízes na moderna literatura brasileira. O primeiro (e único) livro da autora que eu li foi o badalado “O matador”, que anos depois foi adaptado para o cinema por José Henrique Fonseca (por acaso, filho de Rubem Fonseca e marido da atriz Cláudia Abreu) como “O homem do ano”. Confesso que não gostei muito nem do livro, nem do filme. Talvez por reconhecer demais a inferência de Fonseca na trama, considerei o livro como mais do mesmo. Agora, após ler esse desconcertante “Acqua Toffana”, reconsiderei os méritos de Patrícia e vi que seu talento independe de referências para ser justificado (ela já está em seu sétimo romance).
“Acqua Toffana” é um livro mais do que recomendável e indicado para àqueles que conjugam seu prazer literário com o vigor latente da prosa realista.
Obs: A imagem que ilustra esse post é de uma adaptação do livro para uma peça teatral homônima, em São Paulo, estrelado em 2007 pela atriz Dani Barros (foto).
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