quinta-feira, 24 de setembro de 2009

São Hitchcock

Ninguém fica indiferente ao cinema de Hitchcock. Meu primeiro contato com sua obra veio com o clássico “Psicose”, que me causou tanta agonia – até porque era bem novo quando assisti – que passei a cultuá-lo. Existe muito requinte no sadismo de seu cinema. Nunca a ambigüidade foi tão estudada e estimulada numa cinematografia. Seja pelo medo, seja pela paixão, Alfred Hitchcock conseguia reunir o melhor de seu pior para colocar em suas produções. De sua (provável) misoginia veio a sagacidade com que retratava o indivíduo e o arquétipo da heroína loira, encharcada de dualidades; já de seu hermetismo pessoal, veio o modo preciosista com que dominava a arte de filmar, como poucos. Assisti recentemente a dois filmaços de seu catálogo: “Intriga Internacional” e “Festim diabólico”. O primeiro, de 1959, é uma trama que mescla perseguição e espionagem, com o classicismo dos anos 50. O cineasta surpreende com o traquejo com que domina a pluralidade de gêneros e subverte a alcunha de aventura, num filme “suado”, mas de uma elegância ímpar. Cary Grant, que protagoniza a produção, contribui muito com seu carisma, ainda que o ator tenha se repetido muito na carreira como um todo. Um filme esteticamente belo e um agradável exercício de entretenimento.
“Festim diabólico” , este de 1948, é um de seus filmes mais intrigantes: No centro nervoso de Nova York, Brandon e Phillip assassinam seu amigo David, por considerarem-se superiormente intelectuais em relação a ele. Com toda a frieza e arrogância, resolvem provar para eles mesmos sua habilidade e esperteza: esconderão o cadáver em um grande baú, que servirá como mesa e estará exposto no meio da sala de estar do apartamento deles, durante uma festa que realizarão logo em seguida. O filme, que surpreendentemente foi baseado em uma história real, é um verdadeiro estudo sobre as complexidades humanas. Ao assisti-lo refleti sobre como conhecemos pouco o ser humano. E Hitchcock, de posse dessa reflexão, ilustrou o discurso com diálogos memoráveis, fazendo-nos ter a estranha sensação que muita das situações ali representadas, poderiam ter sido ditas e vividas por nós mesmos.
Alfred Hitchcock já foi acusado de mero empregado de estúdio. Tolice. A retórica a essa firmação é justificada pela dimensão de seu legado e sua obra.
Dica de Música: "10 minutos" (Ana Carolina)

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