
Um filmaço que descobri há pouco tempo foi “Kramer versus Kramer”, filme de Robert Benson, de 1979. Já conhecia o filme por sua história e, claro, pelo Oscar que abocanhou, mas ainda não o tinha visto. Um belo filme que joga pesado no antagonismo que se estabelece entre razão e emoção ao contar a história de Ted Kramer (personagem de Dustin Hoffman) para quem o trabalho vem antes da família e Joanna (Meryl Streep, divina), sua mulher, descontente com a situação, sai de casa, deixando Billy, o filho do casal, com o pai. Ted então tem que se preocupar com o menino, dividindo-se entre o trabalho, o cuidado com o filho e as tarefas domésticas. Quando consegue ajustar a estas novas responsabilidades, Joanna reaparece exigindo a guarda da criança. Ted porém se recusa e os dois vão para o tribunal lutar pela custódia de Billy. As bases dramáticas da trama são sustentadas pelo prisma social de fins da década de 70, quando o filme foi gestado, o que pode causar certo estranhamento para quem moldou sua visão de mundo nos anos 90, por exemplo. Mas é um filme que fala da nobreza de certos sentimentos e isso é universal. Ao relativizar as razões que se sobrepõe as emoções na luta por um filho, a produção acerta nosso coração, para que façamos nosso próprio juízo de valor. Um tipo de filme raro hoje em dia.
Acabei de ler o livro “O caso Morel”, primeiro romance do escritor Rubem Fonseca, autor que eu admiro demais. Já disse neste blog que o considero um dos melhores escritores do mundo, pela sagacidade e ironia com que analisa nossa sociedade. “O caso Morel”, livro de 1973 (auge da ditadura militar) mostra o embate de Paul Morel, um artista de vanguarda típico dos anos 70 pelas excentricidades, com o escritor Vilela. Morel está preso e é de sua cela que narra histórias que mesclam sexo, violência e reflexões sobre a arte mais radical do escritor, ao questionar a função da mesma e da literatura. Tenho procurado ler toda a obra dele e todos os romances dele que li até o momento são irretocáveis (talvez “A grande arte” nem tanto) e sempre com uma simplicidade desconcertante. Fica aqui a dica para uma imersão nesse universo tão corrosivo e, ao mesmo tempo, tão familiar que é o retratado por esse gênio da nossa literatura.
Dica de Música: "Crossroads" (Tracy Chapman)
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