Assistindo a toda primeira temporada de “Glee” chego a conclusão que, basicamente, trata-se de uma série bonitinha, bem feitinha e levemente ordinária. Mas até seu viés ordinário não se impõe impunemente: ao brincar com os maiores clichês da cultura (pop?) americana, o criador Ryan Murphy (junto com Brad Falchuk e Ian Brennan) extrai graça de maneirismos conhecidos para justamente subvertê-los. A trama – de personagens periféricos que entram para o grupo de coral decadente da escola e ascendem na esfera social do lugar pela arte – se impõe pela forma iconoclasta com que o roteiro difunde seus personagens. A mocinha é uma obcecada pela fama e excessivamente egóica, o galã sofre de ausência de QI, onde não sabe nem a função de uma biblioteca e a vilã (numa interpretação sem igual da atriz Jane Lynch, na qual parecem ser reservadas as melhores falas) diz barbaridades sobre as minorias, ponto fraco da atual “american way of life” na Terra do Tio Sam. Ainda que incorra por certo superficialismo narrativo (existem problemas de lógica e continuidades) e nem sempre consiga naturalizar os números musicais (sempre bem produzidos e cantados, por sinal) ao contexto da história, “Glee” torna-se irresistível pelo carisma que a série possui, principalmente pela gama de personagens que riem de si mesmo e acabam tornando orgânico o que seria apenas um arquétipo. Fora que os números musicais resgatam pérolas do cancioneiro internacional, em números musicais bem bacanas. Os especiais sobre a Madonna e Lady Gaga foram impagáveis. E o elenco (de maioria iniciantes, mas alguns com bagagem de Broadway) confirma a supremacia artística americana. Assim como a série em si, que já conseguiu romper as barreiras televisivas para figurar como um grande representante da cultura pop nos anos 2000.
Dica de Música: “Defying gravity” (Glee cast)
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