O diretor americano Steven Soderbergh tem uma verdadeira obsessão por dirigir filmes biográficos. Cria do cinema independente, Soderbergh possui até muita personalidade em seus trabalhos, o que podemos ver no ótimo “Erin Brocovick” que, apesar de muitos o taxarem de veículo para Julia Roberts ganhar Oscar, destaca-se como um filme extremamente vigoroso, com uma direção interessantíssima. Mas há de se levar em consideração que o diretor tem uma carreira bem irregular e, por vezes, pretensiosa (“Full Frontal”, “Solaris”, “Che” ???); que só o redime por esse estilismo estético que emprega em cada produção que se mete. Em seu mais novo filme “O desinformante” (num ano que lançou dois filmes, em um curto espaço de tempo), Soderbergh também mergulha na biografia de uma personalidade. Baseado no livro de Kurt Eichenwald, sobre as desventuras corporativas do bioquímico e alto executivo da mega corporação ADM, MarkWhitacre, o filme acompanha essa figura (em todos os sentidos) que, pressionado por seus superiores para descobrir o que há de errado com a produção de aminoácido lisina em sua fábrica, acaba informando-os de que estão sendo vítimas de sabotagem. Só que as coisas não são tão simples quanto parecem e o FBI entra na jogada e Whitacre acaba virando informante da corporação. O roteiro amplia a complexidade da personalidade do protagonista (muito bem interpretado por Matt Damon) para a própria linearidade da história, o que acaba comprometendo a fluência do filme, principalmente para os leigos nos assuntos executivos que o filme levanta. Se peca pela falta de síntese, acerta na ambientação estilística, com influência setentista e humor irônico, tornando sua apreciação bem mais tragável. Soderbergh ainda é um diretor de filmes questionáveis, mas a plástica da coisa ainda é um excelente placebo.
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