terça-feira, 14 de setembro de 2010

Consagração e retórica no Festival de Veneza 2010

E a 67ª edição do tradicional Festival de Veneza manteve a alcunha polemista que tanto fez História ao longo dos anos e o coloca como importante plataforma do surgimento e/ou oxigenação do cinema mundial. Com um júri presidido por Quentin Tarantino (o que prometia uma premiação, no mínino, personalista) o Leão de Ouro (prêmio máximo do Festival) caiu nas mãos de Sofia Coppola, por seu Somewhere. Prêmio este, muito comentado uma vez que os dois já foram namorados e a crítica, que se dividiu no tocante a relevância do filme em si, levantou a hipótese de favorecimento. Para completar, Tarantino ainda inventou um segundo Leão de Ouro especial, este pelo conjunto da obra, para o também norte-americano Monte Hellman, que concorria com o (taxado) excessivamente experimental Road to Nowhere. Hellman foi um dos mentores de Quentin, no início da carreira.
Cabe dizer que todo festival que se propõe a personalizar seu júri em cada edição, está sujeito a esse tipo de revés. Esse ano, em Cannes, o cineasta Tim Burton foi o convidado para presidir o júri e também rendeu muita polêmica ao premiar um filme tailandês notadamente hermético. Segundo Tarantino, o filme de Sofia foi uma unanimidade entre o restante do júri e “retrata perfeitamente o lado superficial da cidade de Los Angeles”. E os Estados Unidos continuou expressivo ganhado o prêmio de melhor ator para Vicent Gallo, protagonista do drama polonês Essential Killing. O polêmico ator americano, que diz não freqüentar tapetes-vermelhos, e, no fundo, sempre chamando a atenção para si (quem não se lembra de seu The Brown Bunny, que dirigiu e protagonizou, onde tem a histórica cena de felação explícita com a atriz Chloe Sevigny), não compareceu para pegar seu Leão.
O prêmio de interpretação feminina foi para a francesa Ariane Labed, pelo filme “Attemberg” da grega Athina Rachel Tsangari. O comentado Black Swan de Darren Aronofsky, esperado filme das bailarinas rivais, estrelado por Natalie Portman, saiu com o prêmio Marcello Mastroianni de intérpretes novatos para Mila Kunis (se bem que ela não é uma estreante, tendo já feito até blockbusters como O livro de Eli).
Óbvio que muitos filmes foram ignorados, inclusive os quatro representantes italianos da Mostra. A Solidão dos Números Primos, filme baseado em livro homônimo já lançado aqui no Brasil, que por sinal sempre me chamou muita atenção, tanto pelo intrigante título quanto pela abordagem de seu argumento, era uma promessa italiana, mas passou em branco.
O Festival também notabilizou alguns filmes inéditos que passaram fora de competição como a estréia internacional do diretor Andrucha Waddington, com Lope, filme de época que recria livremente parte da juventude do poeta e dramaturgo espanhol Lope de Vega (1562 – 1635). Andrucha foi muito aplaudido em Veneza, apesar da imprensa espanhola não ter gostado tanto. Até pelo fato de ser um brasileiro dirigindo uma história puramente espanhola. Bem Affleck, depois do ótimo Medo da Verdade, também levou a Veneza seu segundo filme como diretor The Town (que no Brasil chamará Atração Perigosa), onde também atua, numa trama sobre um grupo de ladrões de banco. Veneza costuma dar sorte ao ator e diretor, uma vez que foi nesse mesmo Festival que ele ganhou um inesperado prêmio de melhor ator por Hollywoodland.
Enfim, foi um quase turbulento Festival de Veneza que, acima de desacordos críticos e distinções estéticas, confirmou o perfil da mostra à constante discussão audiovisual... E isso, nem todos conseguem...
Dica de Música: "Quelqu'un M'a Dit" (Carla Bruni)

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