sexta-feira, 23 de julho de 2010

Teoria ou prática?

Essa relação entre diretor e roteirista é sempre muito delicada no tocante a autoria artística de uma obra. Esse clichê justifica o alardeado rompimento da parceria fílmica entre o diretor Alejandro González Iñárritu e o roteirista e escritor Guillermo Arriaga, que rendeu a ótima trilogia “Amores Brutos”, “21 Gramas” e “Babel”, que, definitivamente, solidificou a influência e pertinência do cinema latino no mundo hoje. Particularmente eu acredito que o cinema nada mais é do que a estetização de uma idéia ou discurso, e por mais que isso não tenha validade sem o suporte de um bom roteiro, o resultado final é externado mesmo pela concepção do diretor. Discussões à parte, Arriaga, após a briga com o parceiro, resolveu investir na sua faceta de diretor no promissor “Vidas que se cruzam”, em que, é claro, também é autor do roteiro. A história, como o preguiçoso título brasileiro pressupõe, fragmenta trajetórias de pessoas que se cruzam em algum momento da vida. Acima de qualquer esquematismo narrativo, Arriaga usa seu filme de estréia para fazer um estudo sobre a perda. Charlize Theron (como uma gerente de restaurante depressiva, que cultiva hábitos autodestrutivos) e Kim Basinger (como uma dona de casa adúltera) representam as bases de um discurso um tanto doloroso, potencializado pela direção pesada e contemplativa. Com uma fotografia exuberante – o filme começa com um representativo trailer em chamas numa planície árida – “The Burning Plain” (título original) vai desdobrando lentamente o novelo de obscuridade que àqueles personagens escondem ou apenas reprimem, caminhando para um final revelador, mas pertinentemente cru diante da possível expectativa de catarse do espectador. O diretor e roteirista Arriaga consegue assim, comprovar os seus méritos e ainda abre grandes possibilidades para seus trabalhos futuros. A discussão gerada pela crise com o parceiro de tantos sucessos serviu, pelo menos, para reafirmar que é na direção que o cinema se justifica. Para o espectador e para si mesmo.

Dica de Música: "De cara a la pared" (Lhasa de Sela)



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