sexta-feira, 26 de junho de 2009

A volta da bela e a fera

Assisti a dois filmes que marcaram o retorno de dois grandes nomes do cinema hollywoodiano: o premiado “O lutador”, que redescobriu o outrora badalado ator oitentista Mickey Rourke, e o esperado “Duplicidade”, causador do fim da eterna licença maternidade da atriz Julia Roberts. Dirigido por Darren Aronofsky, “O lutador”, que venceu o Leão de Ouro no Festival de Veneza, é um filme que vem na vertente da cinematografia americana – principalmente a independente – de criticar o ideário cívico de seu próprio país. Não à toa a bandeira dos EUA é recorrente nas cenas do filme. A trama acompanha a história de Randy “Carneiro”, que vive de lutas em torneios do tipo e pequenos bicos. Após um desses combates, sofre um enfarto e fica sabendo de sua impossibilidade de continuar a lutar. É quando começa um processo de revisão de sua vida, vendo-se pressionado a voltar para os ringues. Darren, que começou a carreira com o elogiado “Pi” e decepcionou com seu último trabalho, o incompreensível “A fonte da vida’’, apresenta um filme de surpreendente simplicidade narrativa. Na verdade o grande destaque do longa, além da irretocável atuação de Mickey Rourke, é o eficiente tratado sobre os valores de um indivíduo contrastando com seu meio, que no seu caso, é um tanto idealizado, principalmente pelo cinema. A narrativa não expõe o personagem pelo pessimismo, mas o juízo de valor assimilado, revela o drama interno que justifica a solidão com que Randy guia sua trajetória de vida expressa na tela. A sinceridade da trama respaldou muito da performance de Rourke e justificou (honrosamente, devo dizer) sua premiação no Globo de Ouro e indicação ao Oscar de melhor ator. Outra volta esperada era a da estrela Julia Roberts. A atriz, uma das poucas que alia seu talento ao status de ícone, protagoniza, ao lado de Clive Owen, o filme “Duplicidade”, de Tony Gilroy. O filme é bem simpático, contando a clássica história de dois espiões industriais que se envolvem em intrigas profissionais e, claro, amorosas. Mas Gilroy, a mente por trás dos excelentes roteiros da trilogia Bourne, repete aqui os mesmos erros de seu filme anterior, o bom “Conduta de risco”. Filme de estréia dele como diretor, “Conduta de risco” foi bem badalado, já que conseguiu uma indicação ao Oscar de melhor roteiro e filme, mas narrativamente o filme tem o pecado de querer engenhosidade excessiva em sua condução. Em “Duplicidade” esse maneirismo foi mantido a risca e enfraquece a trama. Julia E Owen repetem a interessante química, já vista na obra-prima “Closer”. Os embates entre os dois, auxiliados por diálogos bem azeitados, são o que há de melhor no filme. Mas a opção do diretor em fornecer numerosas reviravoltas, como que para manter o interesse do espectador soa forçada e cansativa. Talvez seja reflexo impulsivo por serem seus primeiros filmes, entretanto, é um filme espirituoso e com um final satisfatório. Julia e Mickey retornam em grande estilo, até porque, independente do veículo, seus talentos ainda surpreendem.
Dica de Música: "If I Ain't Got You" (Alicia Keys)


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