
Na última sexta-feira (dia 20) fui assistir ao primeiro show da banda inglesa Radiohead no Brasil, na Praça da Apoteose, no Rio. Ao contrário dos Stones, a banda, liderada por Thon Yorke, sempre suscitou em mim grande admiração, principalmente pelo “poder” transcendental de suas melodias e complexidade das letras.
Analisando os dois shows, vejo que os caminhos do rock, ao longo do tempo, foram se diversificando não só de acordo com a demanda, mas também com a percepção artística de seus agentes. O som etéreo dos Stones serviu de contraponto ao “formosismo” de um certo grupo, de muito sucesso, chamado The Beatles (alguém conhece?) em meados dos anos 60. Essa peculiaridade fora o grande responsável por marcar o anárquico quinteto como os grandes astros do rock mundial. Mas é inegável que os Rolling Stones nunca subverteram sua própria subversão. Nesse show em Copacabana, há mais de três anos, essa impressão ficou ainda mais forte. O espectador assistia a toda misé-em-cene de Jagger com olhos apaixonadamente passivos. Havia muita veneração e pouquíssima vibração, que é vital para um show como esse. E vibração, nas mais difusas vertentes do termo, foi o que não faltou na Apoteose com o Radiohead. No campo da veneração, tínhamos a expectativa de ser o primeiro show no Rio. Poder visualizar, em casa, toda a melancolia cinza de um bom som londrino era de causar picardias em corações mais fracos, por isso, quando pontualmente o show se iniciou com a multifacetada “15 step”, os quase 30 mil presentes foram ao delírio. Consegui um vídeo feito por um presente no exato momento: apesar da qualidade ruim dá para ter uma idéia do que foi http://www.youtube.com/watch?v=f3RLQxGfH48
Com seu psicodelismo melódico e uma presença irrepreensível no palco, o grupo fez valer o tempo de espera para vir ao Brasil. Com um cenário ricamente funcional, em que a iluminação apoteótica representou bem a subversão estilística da banda, vimos que Yorke e cia conseguem fazer no palco aquilo que tão bem produz no estúdio: um show de belíssimas abstrações sonoras, principalmente nas músicas “nude” e "Everything in its right place", tecnicamente idênticas aos dos cds. Aliás, todo o show foi assim, à exceção do hino maior “Paranoid Android”, que perdeu um pouco do lirismo na versão ao vivo.
Um espetáculo como esse chega a ser uma experiência transcedental, como defini no início. Vi homens aos prantos em certas músicas. Thon Yorke, no vocal, traduz sim, toda a melancolia de uma geração em canções que diluem o rock do progressivo resultando em obras-primas como “Creep” (muito pedida pelo público) e “Jigsaws falling into place” (do último e ótimo cd “In rainbow”). Esse vídeo é uma mostra do preciosismo da banda http://www.youtube.com/watch?v=TAhrVfAp-5U&feature=PlayList&p=D62C29A2B3F08A2C&playnext=1&playnext_from=PL&index=9
Infelizmente não cheguei a tempo de assistir ao retorno dos Los Hermanos, que abriram o show, assim como o Kraftwerk (que até ouvi de longe, mas os achei datados demais), entretanto, o show principal me bastou. Foi curioso ver Yorke agradecendo ao fim das músicas com um “Obrigado!” em português vacilante (inclusive o guitarrista Ed O’Brien gritou um “Bom pra caralho!” empolgado, ao fim de uma canção). A certa altura, um rapaz ao meu lado, comentou embasbacado com um amigo: “Pô, essas músicas cravam na alma!”. E foi com a alma cravejada dessa liturgia, que quase peguei um avião com destino a Londres, para me infurnar num pub enfumaçado e tentar entender de onde vem tamanha inspiração. E, para ter essa sensação, nem foi preciso estar num show grandiloquente em Copacabana.
Dica de música: "“Paranoid Android” para entender que é o (Readiohead)
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